Jejum e fome

O Reino de Deus é espiritual, mas seus sinais são tangíveis, têm forma, peso, sabor, cheiro e cor. Mas apesar de tudo, Deus poderia ter se limitado a, por exemplo, ter criado uma placa milagrosa escrita “convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo”. Seria um sinal corpóreo de uma coisa espiritual. Só que serviria apenas de sinal (pois o exemplo não é um poço dos desejos versão placa milagrosa).

Os sinais do Reino de Deus tem uma função dupla: espiritual e material. Acreditar em Deus, como disse, se não me engano, São Tiago, até o diabo acredita, e não vai para o céu por isto. E se é verdade que quem faz o bem, mesmo sem acreditar em Deus, está mesmo assim cooperando com Deus, também é verdade que fazer o bem por causa de Deus expande-o, não porque o bem se torna mais eficiente, mas porque vai mais longe.

Os apóstolos queriam fazer o bem. Se colocaram no lugar da multidão faminta e foram sugerir a Cristo que despachasse o povo para comprar comida. Mas Cristo fez mais do que isto: alimentou-os ali mesmo. O milagre não é nem a comida, nem a “mágica” de multiplicar os pães. O milagre é libertar o povo com as ferramentas do Reino que, mesmo sem ter se realizado ainda, já está entre nós.

Cristo veio para anunciar o Reino de Deus, e não para comer e beber, tanto é que os seus jejuns merecem destaque nas narrativas evangélicas. Mas ao longo dos evangelhos, Jesus Cristo come, bebe, e alimenta e cura as pessoas, o que nos mostra que fome e jejum são duas coisas muito diferentes, e enquanto o jejum deve ser feito (o Tempo do Natal nem acabou ainda, mas a Quaresma já está à espreita logo ali, em fevereiro), a fome compulsória e opressora precisa ser combatida – assim como todas as outras injustiças análogas a ela.