Flávio, Kundera, Paulo e Cristo (1/3)

O que significa a compaixão de Cristo, que ele tem por nós a ponto de sacrificar-se por nós na cruz (não sem antes nascer por nós, curar-nos por nós, etc.)? No vídeo Reflexão do Evangelho do dia 14 de janeiro de 2021, o padre Flávio nos explica: «… Esse procedimento ousado [o modo como o leproso aborda Cristo] provoca em Jesus o sentimento de compaixão. A compaixão é aquele sentimento que nos mobiliza, pois nos faz sentir a dor do outro (…) é fazer da dor do outro a sua própria dor. Jesus se sente irmanado na dor do leproso…» (no terceiro minuto do vídeo, entre os segundos 17 e 48).

Deus é infinitamente maior do que nós, e toda esta grandeza, obviamente livre de quaisquer pecado, não se degrada em soberba, pois mesmo incomparavelmente maior do que nós, Deus humilhou-se a ponto de morrer por nós (“por nós” porque morreu em lugar de nós, mas também “por nós” no sentido de que temos participação neste homicídio deicida).

Portanto a origem da compaixão é o rebaixamento de um ser superior à inferioridade de um ser menor. Mas nós, que devemos nos tornar “outro Cristo” (conforme algum documento da Igreja que não me lembro agora e nem tenho tempo de procurar), também precisamos guardar as devidas proporções nesta imitação.

O que nos cabe na nossa (fazendo aqui um coro com Maria no Magnificat) pequenez é, como disse o padre, fazer da dor do outro a nossa própria dor, mas não como quem se rebaixa à dor alheia, pois a criatura compassiva em condições de assumir a dor alheia não o faz a partir de sua própria fortaleza, e sim da sua própria fragilidade.