Discrepâncias entre textos bíblicos*

Exemplos de contradições e incoerências entre textos da Bíblia (retirados do livro A Bíblia sem mitos: uma introdução crítica, de Eduardo Arens, das páginas 217-218). Por favor leia o alerta depois do fim da lista:

  • «Segundo o primeiro relato, o homem foi criado no final, enquanto no segundo relato, depois do homem Deus cria as plantas, depois os animais e, finalmente, em separado, a mulher.
  • Segundo Gn 6,19s Noé recebeu de Deus a ordem de colocar um casal de todo tipo de animal, porém segundo Gn 7,2ss deveriam ser sete casais, mas de animais puros, e dos impuros somente um casal,
  • Segundo Gn 7,4.12.17 o dilúvio teria durado quarenta dias, mas segundo Gn 7,24 afirma-se que durou cento e cinquenta dias.
  • O lugar onde ocorreu o famoso milagre da água que brotou da rocha, chamado Meribá, segundo Ex 17,1-7 situava-se em Rafidim, mas segundo Nm 20,1-13 se encontrava em Cadesh.
  • Quem foi o sogro de Moisés: Jetro, Jeter, Reguel ou Hobab (Ex, 2,18; 3,1; 4,18; Jz 1,16)? Sempre é o sogro, ou seja, o mesmo.
  • O Decálogo não coincide, quando se comparam as duas versões em Ex 20 e Dt 5.
  • Segundo Jr 22,19 e 36,30, o rei Joaquim teria um enterro humilhante “fora das portas de Jerusalém” e não teria descendência. Mas 2Rs 24,6 informa-nos que “Joaquim se associou a seus pais, e seu filho Joaquim [os dois tem nomes parecidos, com algumas letras reorganizadas em cada nome no original, pelo que vi na versão do Rei James com os códigos de Strong, e os tradutores se viram ora trocando o “m” final em um nome por um “n” no final do outro, ora colocando um “e” depois do “J” inicial para diferenciá-los, por exemplo; no livro de onde estou copiando esta lista, o autor decidiu escrever os dois nomes iguais] reinou em seu lugar”. Qual dos dois está certo?
  • De acordo com 2Sm 24,1s, Deus ordenou a Davi fazer um censo em Israel. Mas segundo 1Cr 21,1 o censo foi feito por insistência de Satanás.
  • O resultado do censo realizado por Davi, segundo 2Sm 24,9, foi que “havia em Israel oitocentos mil homens de guerra e em Judá havia quinhentos mil”. Segundo 1Cr 2,15, as cifras eram de “um milhão e cem mil e de quatrocentos e setenta mil” respectivamente. As cifras, além disso, são descomunalmente imensas para a população daqueles tempos na Palestina.
  • 2Sm 24,24 informa que Davi comprou um terreno para construir um altar para Deus por cinquenta siclos de prata, mas, segundo 1Cr 21,25, Davi pagou seiscentos siclos de ouro pelo mesmo terreno.
  • Os Evangelho sinópticos (Mt, Mc e Lc) situam a expulsão dos vendilhões no Templo por parte de Jesus no final de sua vida pública, mas João a situa no início (cap. 2).
  • De acordo com Mt e Mc, Jesus apareceu aos discípulos na Galileia, não em Jerusalém, como se lê em Lc e em João. Além disso, segundo Lucas, a ascensão de Jesus teria sido no mesmo dia de sua aparição e perto de Betânia, enquanto, segundo Atos, teria ocorrido quarenta dias depois e no monte chamado das Oliveiras (1,3.12). Discrepâncias entre os Evangelhos são abundantes, e a lista seria enorme (veja uma sinopse dos Evangelhos).»

* Nenhuma destas incoerências, discrepâncias, contradições e erros da Bíblia serve para fundamentar qualquer acusação de ilegitimidade da Bíblia, mas sim para fundamentar a necessidade do estudo do contexto no qual cada texto foi redigido, partindo do pressuposto de que nosso conceito de “verdade” contemporâneo implica a coerência entre o dado empírico e o que se diz dele, enquanto que no tempo em que os textos foram redigidos (depois de terem sido, em alguns casos, transmitidos oralmente), “verdade” implicava na autenticidade, ou seja, na ideia de ser “fiel, estável, merecedor de confiança”, conforme o que o autor diz na página 214 deste mesmo livro de onde copiei a lista.