Códigos religiosos

A frase é uma citação da oração sugeria após a reflexão do Evangelho de hoje (Mt 12,1-8), que fala sobre as críticas dos fariseus aos discípulos que colhiam espigas em um sábado, dia de repouso obrigatório pelas leis vigentes, para comer (tanto o texto do Evangelho quanto a reflexão do padre  Luiz Miguel Duarte estão aqui).

E se fala sobre as leis religiosas, também serve para as leis civis. Mas são assuntos que eu não domino – as leis civis e as religiosas. Mas fico pensando nas “leis” que uma pessoa impõe a outra, quando informa que é pecado ir na missa do sábado à tarde quando tem o domingo livre, chegar atrasado ou sair antes do fim da missa, comer antes da missa, usar saia por causa da modéstia, etc.

Nada disso está errado, apesar de tudo. Se a missa começa em tal hora não tem porque chegar quase na hora do “Graças a Deus”, a modéstia é uma virtude santa e por aí vai. Mas os experts em doutrina (e devem ser mesmo, pelo menos os que leio pela internet) respondem mecanicamente, citam título, capítulo e parágrafo exatos, dizem o que pode e o que não pode e quem perguntou que se vire!

Não tem problema – pelo contrário, é ótimo – que tenha gente disposta a compartilhar o seu conhecimento de pormenores que a maioria das pessoas não sabe com pessoas que tem a disposição de saber. Mas falta um cuidado, há uma negligência imensa destes respondedores em ir além tanto da pergunta quanto da resposta.

Sem duvidar da boa vontade de quem fica respondendo estas perguntas, responder o que está escrito é uma coisa que até um robô poderia fazer, e até com mais precisão – mas o robô não vai salvar a alma que não tem por instruir tão bem os fiéis em dúvida, a mesma ausência de alma que têm os “sim”, “não”, “pode” e “não pode” dos respondedores da internet.

Seria melhor pedir o endereço da pessoa e mandar uma cópia do catecismo, ou – melhor ainda – perguntar àquela pessoa quais são as condições dela dentro das quais ela quer fazer ou deixar de fazer isto ou aquilo. Às vezes pode ser só preguiça ou desorganização mesmo, mas quem sabe em que condições vive quem está procurando se informar? Quem poderia saber não se interessa a não ser em responder, quando poderia encontrar alguém com quem compartilhar (nem que seja o pouco que é possível pela internet) um pouco da vida.

As leis eclesiásticas não são um código mais ou menos aleatório de regras e proibições como um jogo de xadrez (ia escrever “jogo de futebol”, mas xadrez fica melhor porque também tem bispos); são, como na citação do padre, balizas que devem servir à vida, mas lançadas assim, como respostas de uma faq, servem ao que quer que seja mas não à vida com Deus, que é ao que deveriam servir quando foram escritas.