Antigos espíritos do mal

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Às vezes é difícil criticar os alguns tipos de conservadores por causa do jogo ambíguo que eles fazem com com algumas ideias. Não que seja difícil dizer “ora, mas que bobagem” depois de ver algumas delas, mas detalhar a bobagem é um pouco mais complicado.

Por exemplo: o aborto é pecado, mas o abandono dos filhos pelos pais também; a homossexualidade é pecado, mas olhar as mulheres com desejo, também; defender o comunismo é pecado, mas defender o individualismo egoísta (redundância) da precarizações das condições do trabalho, também. Em todos estes pares, eles só se escandalizam com o primeiro termo, e se manifestam alguma contrariedade contra o segundo, é com o mesmo entusiasmo do Gênio defendendo o Jafar.

Estes protestos anti-pecados, mesmo feitos “em nome de Deus”, não garantem a anuência de Deus, ainda que, em essência, digam verdades. Por exemplo: “sei quem tu és: o Santo de Deus” (Mc 1,24) tem toda a cara de um genuíno e profundo louvor da alma que encontra a imensidão do amor de Deus – mas saiu da boca de um espírito maligno no evangelho de hoje.

Isto não significa, é óbvio, que proclamar que Cristo é o Santo de Deus nos coloque em pé de igualdade com o diabo; mas significa, sim, que até mesmo as verdades mais profundas, sem perderem a própria legitimidade, não legitimam quem as proclama. E Cristo não hesita em calar quem a proclama com as piores intenções (cf. Mc 1,25).

Isto não significa calar esse tipo de conservadores, mas significa, sim, que apenas falar a verdade, como quem diz “postei e saí correndo”, não serve para nada, ou, pelo menos, para nada de bom, pois esse tipo de coisa até o diabo faz.

*Imagem: https://docecaneca.com.br/produto/caneca-mumm-ra-2/