No Evangelho, Cristo, “percorrendo toda a Galiléia, ele ensinava em suas sinagogas, proclamava a Boa Nova do Reino e curava toda a doença e enfermidade entre o povo” (Mt 4,23).
A proclamação da Boa Nova precedia as curas, mas Cristo não deixava de incluí-las na sua “agenda”. Talvez tenha sido uma novidade na época, anunciar uma coisa e depois confirmá-la com sinais concretos, mas nos tempos de hoje, se tornou um esquema muito manjado.
Não é nem pelo fato de que qualquer um pode forjar sinais que legitimem aquilo que fala (qualquer um mesmo: há um vídeo no Youtube comprovando que o Papa Francisco quer se colocar acima de Deus por uma gravação mostrar um crucifixo em primeiro plano e o Papa mais para o fundo e, como o Papa estava em um palco, quem gravou enquadrou o crucifixo na parte de baixo, e o papa na parte de cima, e se isso vale como prova de qualquer coisa, qualquer coisa serve como prova de qualquer coisa também). Mas também há o seguinte: Cristo, sabidamente, foi a causa das curas e todos os outros sinais que apresentou, e estes eram sinais da Boa Nova que ele pregava; mas hoje em dia quem garante que os sinais que as pessoas apresentam para legitimar o que falam não foram eventos completamente desconexos entre si? Se eu perco o ônibus todos os dias e num dia qualquer, rezando uma Ave-Maria pelo caminho, pego ele extraordinariamente no horário, isto pode ser ou não um pequeno milagre de Nossa Senhora, mas não faz de mim uma Jacinta nem me dá legitimidade para reunir uma comunidade dos Rezadores de Ave-Marias Para Não Perder o Ônibus.
O exemplo é ridículo, mas por muito menos alguns agraciados por coincidências aleatórias reunem em torno de si seguidores, seja na esfera religiosa, seja em outras (financeira, sexual, etc.).
Cristo falou primeiro e fez depois. E hoje em dia não se trata, necessariamente, de fazer o contrário – fazer primeiro e falar depois – até porque este também é um esquema bem manjado.
Cabe a nós, a partir da ordem na qual Cristo fez as coisas, fazer a segunda por causa da primeira. “Transformar o mundo” pode significar muita coisa boa, e também muita coisa ruim. Agora, transformá-lo por causa da Boa Nova não tem erro, desde que não nos limitemos nem à proclamação, nem à transformação; a não ser, é claro, que o que esteja em jogo não seja nem a Boa Nova, nem a transformação do mundo a partir dela.