La sociedad tecnológica ha logrado multiplicar las ocasiones de placer, pero encuentra muy difícil engendrar la alegría.
Paulo VI – Gaudete in Domino, 8.
As festas clandestinas e as aglomerações à beira-mar demonstram como a necessidade de prazer aprisiona cada pessoa, a ponto de ignorar que estamos em meio a uma pandemia sem termos uma estrutura hospitalar adequada e ainda sem vacina, pelo menos no Brasil – quer seja uma ignorância sincera, quer seja uma ignorância “por opção”, pois às vezes pode ser mais confortável minimizar os riscos ou considerar os cuidados necessários como exageros fundamentados em teorias da conspiração.
Geralmente é o sexo desregrado que serve para os moralistas apresentarem como exemplo de que as pessoas buscam apenas o prazer e o colocam no lugar de Deus, mas eles ignoram que assim como a Igreja vê no sexo uma ferramenta que serve para outra coisa que não seja o prazer, muitas pessoas fazem sexo sem ser nem pelo prazer nem pelo que a Igreja ensina ser o uso adequado do sexo. Por isto, a fixação do moralismo no comportamento sexual, o prazer prossegue “hedonizando” tudo o que toca, como um Rei Midas que transforma tudo em satisfação pessoal, desejo e gozo intenso, sem que se questione o – parece nome de filme pornô – império do prazer, que não é bem um império mas uma necessidade que se torna maior do que si mesma, a ponto de se tornar quase um elemento primordial, como o fogo era para Heráclito.
Acontece que o problema do prazer é o espaço da alegria que ele ocupa, impedindo-a de poder se assentar no seu lugar adequado. É semelhante à diferença entre um refrigerante como a Pepsi ou a Coca-cola e um suco natural que não tenha sido adoçado: alguém pode até alegar que a “cola” destes refrigerantes vem da noz-de-cola, mas ainda assim a diferença entre eles e o suco natural faz de ambos coisas diferentes, e não variações da mesma coisa. Pois o prazer, que não exclui necessariamente a alegria, também não é ele próprio a alegria, que é outra coisa muito diferente.
E o que é a alegria? Cristo. Para mais detalhes, vá procurar encontrá-lo.
Mas o assunto principal deste texto não é a sugestão do parágrafo acima – apesar de ele ser a única coisa importante do texto, pelo menos no sentido da relevância (pois este texto é apenas uma divagação mal-escrita). O assunto principal é a substituição da alegria pelo prazer que fazemos, uma constatação feita a partir da citação do texto de Paulo VI, que eu encontrei na exortação apostólica Evangelii Gaudium (parágrafo 7). Este texto é considerado o roteiro do pontificado do Papa Francisco, uma consideração que eu li em vários lugares, mas principalmente no livro A Teologia do Povo, de J.C. Scannone (p. 17), sobre “as raízes teológicas do Papa Francisco”, que é o subtítulo e também um resumo exato do livro.
Assim, apesar de a necessidade de prazer ser uma necessidade que, dentro de suas próprias fronteiras, é apenas mais uma necessidade, como por exemplo comer ou se divertir, hipertrofiada como um fisiculturista anabolizado do jeito que vem sendo, o prazer se torna uma prisão triste e desoladora, fazendo até o soma de Admirável Mundo Novo parecer uma metáfora inocente. Não é que ninguém aguente mais a pandemia, e nem suporte mais esse isolamento, mesmo sendo assim, meia-boca, como tem sido: aglomerar faz falta, nem que seja pelo prazer de reclamar que tem muita gente e era melhor ter ficado em casa. Mas as aglomerações de fim de ano, que devem ter deixado os aglomerados saciados do prazer que buscavam, são apenas uma fase de um processo de tristeza que eles tentaram resolver com este prazer, e que vai voltar, só espero que não na forma de uma entubação hospitalar típica desta pandemia.
Seria melhor – ou no mínimo mais saudável – tentar procurar a alegria, para poder compartilhá-la quando pudermos aglomerar sem o risco do coronavírus, do que buscar no prazer o que ele, coitado, não pode oferecer.