São Jorge da Capadócia

O Casamento de São Jorge e a Princesa Sabra

Em 303, Diocleciano (influenciado por Galério) publicou um édito que mandava prender todo soldado romano cristão e que todos os outros deveriam oferecer sacrifícios aos deuses romanos.

Jorge foi ao encontro do imperador para objetar, e perante todos declarou-se cristão. Não querendo perder um de seus melhores tribunos, o imperador tentou dissuadi-lo oferecendo-lhe terras, dinheiro e escravos. Como Jorge mantinha-se fiel ao cristianismo, o imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar aos deuses romanos.

Todavia, Jorge reafirmava sua fé, tendo seu martírio, aos poucos, ganhado notoriedade e muitos romanos, tomado as dores daquele jovem soldado, inclusive a mulher do imperador, que se converteu ao cristianismo.

Finalmente, Diocleciano, não tendo êxito, mandou degolá-lo no dia 23 de abril de 303, em Nicomédia, na Ásia Menor.

Jorge da Capadócia (Wikipedia)

Imagem: Dante Gabriel Rossetti – The Wedding of St George and Princess Sabra

Deus luta por nós ao nosso lado

«O que muitos combatem não é o verdadeiro Deus, mas a falsa ideia que fizeram de Deus»


«[Sobre] João Paulo I, quero destacar sua figura de catequista. Mesmo com a mais alta dignidade da Igreja, alegrou-se em ser um humilde catequista contando a história e fazendo um pontificado que começou sob o signo de um sorriso, de simplicidade. Sem dúvida, seu breve pontificado foi suficiente para dar-lhe um novo modo de ser, uma nova fisionomia a serviço do pontificado supremo. Este catequista escreveu um livro – antes de se tornar Papa, é claro -, publicado mais tarde sob o título “Ilustres Senhores”.

Das cartas aos “Senhores Ilustres”

Como bispo, ele escrevia uma carta mensal a uma das famosas figuras filosóficas, literárias etc. da humanidade, e as leituras de hoje, da Bíblia Sagrada, me parecem coincidir com uma carta escrita justamente para Chesterton, Gilberto Chesterton, inglês convertido ao catolicismo; uma de suas obras intitula-se “A esfera e a cruz”. João Paulo I retoma o tema de uma forma muito saborosa, muito catequética.

Cena da “Esfera e da Cruz”

Dois personagens aparecem nesse romance, o professor Lúcifer e o monge Miguel sobrevoando Londres, precisamente sobre a cúpula da catedral; O professor Lúcifer ri da cruz e o monge Miguel o adverte a dizer: “o que você ganha com esse ridículo? Vou lhe contar uma história”, e o monge começa a contar sobre um ateu, um renegado que subiu ao topo de uma igreja para arrancar a cruz e jogá-la no chão. Quando desceu, começou a ver cruzes e mais cruzes nas paliçadas da mata; e acabou com a floresta porque lhe parecia que a cruz devia ser arrancada do mundo. Ele chegou em sua casa, e aquele obcecado pela cruz até nos móveis ele viu a figura da cruz e estragou tudo; no dia seguinte, encontraram-no morto junto a um rio, enlouquecido contra a cruz.

“Você começa destruindo a cruz e acabará destruindo o mundo”

Lúcifer diz a Miguel: “Você inventou essa história.” “Claro que sim!” – diz Miguel – “mas ela representa plenamente o que vocês acabaram de blasfemar contra a cruz, e é que vocês, os anticristãos, acabam, depois de lutar contra a cruz, destruindo o mundo. O que seria o progresso sem a cruz? “Ah”, diz Lúcifer, “lutamos pelo progresso sem Deus, Deus não é necessário, basta o esforço do homem. O de um paraíso, de um Deus que dá prêmios depois, foi um Deus inventado ou pelos oprimidos para encontrar um evasão de sua situação injusta ou pelos opressores para domar os que estão sob seu poder. Basta a luta, é isso que salva o mundo. Não a fé em Deus que é uma fé alienante, mas a luta, a revolução e uma não alienante paraíso não virá além da história, mas aqui, construído pelo esforço dos homens”.

Ivan Karamazov, ateu, protesta contra um paraíso obtido por heroísmo passado.

Miguel sorri e lhe diz: “Vou citar um ateu” e cita uma carta de Iván Karamazov, um ateu que diz renunciar a uma luta em que apenas as gerações futuras se beneficiarão. Não é justo que ele trabalhe por um mundo melhor sem uma recompensa justa. E Miguel lhe diz: “Onde aquele que luta por um mundo melhor encontrará essa recompensa e quem vai dar a ele? O que seria o progresso sem Deus? O que seria uma luta só esperando um paraíso na terra? Não é mais do que pura ilusão!”

“É necessário. Há um sentido inato de vida no homem que o leva precisamente às lutas de protesto justas, não só pensando nas gerações futuras, eu renego, diz ele, uma luta em que trabalho até morrer, que não seja para que eu também tenha uma participação, uma recompensa, e esse sentido inato da vida e do além é a resposta do cristianismo. Não pode haver luta por um mundo melhor se não for baseada na justiça divina, em um Deus remunerado, em os esforços dos homens. Uma luta sem Deus não tem sentido”. “No final – diz-lhe Miguel – o que acontece a ti e a mim, talvez, é que formamos uma falsa ideia de Deus”.

O que muitos combatem – estas são já as palavras do Papa Luciani, João Paulo I – não é o verdadeiro Deus, mas a falsa ideia que fizeram de Deus. Um Deus que protege os ricos, que não faz nada além de pedir e atormentar, que tem inveja de nosso progresso, que nos espia continuamente de cima nossos pecados pelo prazer de puni-lo. Caro Chesterton, você sabe, Deus não é assim; ele é justo e bom ao mesmo tempo: pai também dos filhos pródigos que deseja ver não mesquinhos e miseráveis, mas grandes, livres, criadores de seu próprio destino. Nosso Deus é tão pouco rival do homem que quis fazer do homem seu amigo; chamando-o a participar de sua própria natureza divina, de sua própria eternidade feliz. Nem é verdade que Deus nos pede demais, pelo contrário, contenta-se com pouco porque sabe muito bem que não temos muito.

Esta é a lição catequética deste grande catequista do mundo que só apareceu na história universal e Deus o tirou de nós há um ano, poucos meses depois de nos dar esperança na simples palavra do verdadeiro Deus, diante de um mundo que falsificou a ideia de Deus.

O grandioso é que essa ideia de Deus não é uma invenção do Papa Luciani. Nas leituras de hoje encontro um título para a minha homilia que coincide com o pensamento do Papa, e por isso vamos fazer desta missa uma homenagem à doutrina, ao catequista, ao homem do sorriso, aquele que soube enfrentar os ateísmos mais absurdos com a simplicidade de um catequista para lhes dizer: não sejam simples, uma revolução sem Deus, um Deus sem homens ou homens sem Deus não é o panorama da história.»

São Oscar Romero. Lo que Dios da, es para todos los hombres.

Imagem: Frida Aguilar Estrada on Unsplash

A força libertadora da caridade

A caridade é amor recebido e dado; é «graça» (cháris).

Pela sua estreita ligação com a verdade, a caridade pode ser reconhecida como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas, nomeadamente de natureza pública. Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé, através das quais a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade: identifica o seu significado de doação, acolhimento e comunhão. Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente. A verdade liberta a caridade dos estrangulamentos do emotivismo, que a despoja de conteúdos relacionais e sociais, e do fideísmo, que a priva de amplitude humana e universal. Na verdade, a caridade reflecte a dimensão simultaneamente pessoal e pública da fé no Deus bíblico, que é conjuntamente «Agápe» e «Lógos»: Caridade e Verdade, Amor e Palavra.

Porque repleta de verdade, a caridade pode ser compreendida pelo homem na sua riqueza de valores, partilhada e comunicada. Com efeito, a verdade é «lógos» que cria «diá-logos» e, consequentemente, comunicação e comunhão. A verdade, fazendo sair os homens das opiniões e sensações subjectivas, permite-lhes ultrapassar determinações culturais e históricas para se encontrarem na avaliação do valor e substância das coisas. A verdade abre e une as inteligências no lógos do amor: tal é o anúncio e o testemunho cristão da caridade. No actual contexto social e cultural, em que aparece generalizada a tendência de relativizar a verdade, viver a caridade na verdade leva a compreender que a adesão aos valores do cristianismo é um elemento útil e mesmo indispensável para a construção duma boa sociedade e dum verdadeiro desenvolvimento humano integral. Um cristianismo de caridade sem verdade pode ser facilmente confundido com uma reserva de bons sentimentos, úteis para a convivência social mas marginais. Deste modo, deixaria de haver verdadeira e propriamente lugar para Deus no mundo. Sem a verdade, a caridade acaba confinada num âmbito restrito e carecido de relações; fica excluída dos projectos e processos de construção dum desenvolvimento humano de alcance universal, no diálogo entre o saber e a realização prática.

A caridade é amor recebido e dado; é «graça» (cháris). A sua nascente é o amor fontal do Pai pelo Filho no Espírito Santo. É amor que, pelo Filho, desce sobre nós. É amor criador, pelo qual existimos; amor redentor, pelo qual somos recriados. Amor revelado e vivido por Cristo (cf. Jo 13, 1), é «derramado em nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5, 5). Destinatários do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos de caridade, chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça, para difundir a caridade de Deus e tecer redes de caridade.

A esta dinâmica de caridade recebida e dada, propõe-se dar resposta a doutrina social da Igreja. Tal doutrina é «caritas in veritate in re sociali», ou seja, proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade; é serviço da caridade, mas na verdade. Esta preserva e exprime a força libertadora da caridade nas vicissitudes sempre novas da história. É ao mesmo tempo verdade da fé e da razão, na distinção e, conjuntamente, sinergia destes dois âmbitos cognitivos. O desenvolvimento, o bem-estar social, uma solução adequada dos graves problemas socioeconómicos que afligem a humanidade precisam desta verdade. Mais ainda, necessitam que tal verdade seja amada e testemunhada. Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a actividade social acaba à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores na sociedade, sobretudo numa sociedade em vias de globalização que atravessa momentos difíceis como os actuais.

Bento XVI. Caritas in veritate, 3-5

Imagem: Cory Gazaille on Unsplash

Justiça social

A prioridade do trabalho sobre o capital é uma das exigências de justiça social e os sindicatos são os expoentes desta luta

O desenvolvimento do conceito de justiça social a partir da tradição aristotélico-tomista recebe impulso nas Encíclicas Sociais. O conceito foi introduzido por Pio XI na Quadragesimo Anno (1931). O termo é citado sete vezes e sempre acompanhado dos adjetivos comutativa, legal/geral. Trata-se de um conceito que traz exigências precisas, tendo como critério a dignidade humana, tal como definiu Taparelli.

A economia é seu campo de aplicação mais imediato. Para Pio XI, existe uma lei de justiça social que deveria reger qualquer modelo econômico:

 É necessário que as riquezas, em contínuo incremento com o progresso da economia social, sejam repartidas pelos indivíduos ou pelas classes particulares de tal maneira, que se salve sempre a utilidade comum, de que falava Leão XIII, ou, por outras palavras, que em nada se prejudique o bem geral de toda a sociedade. Esta lei de justiça social proíbe que uma classe seja pela outra excluída da participação dos lucros. (Q A 57)

Aplica-se à esfera econômica com a mesma universalidade da justiça legal. Portanto, “cada um deve, pois, ter a sua parte nos bens materiais; e deve procurar-se que a sua repartição seja pautada pelas normas do bem comum e da justiça social” (Q A 58). Também em Santo Tomás de Aquino a justiça legal ordena o homem imediatamente ao bem comum.

A justiça social considera o ser humano na sua condição de pessoa humana, seus direitos e deveres como membro da sociedade. Assim como todos têm obrigações, todos têm benefícios, uma vez que o bem comum realiza-se somente “quando todos e cada um tiverem todos os bens que as riquezas naturais, a arte técnica, e a boa administração econômica podem proporcionar.” (Q A 75). Na ordem econômica, a fórmula da justiça social seria: todos os bens necessários para todos.

Ainda na esfera da economia, o mundo do trabalho é o campo principal de aplicação da lei da justiça social. O salário é um dos seus instrumentos principais. Para valorizar com justiça o trabalho, deve-se considerar sua dimensão pessoal e social (QA 69). O bem comum exige que se promovam postos de trabalho como condição de segurança e bem estar. O desemprego é um reflexo de uma economia injusta. A justiça social deve regular e determinar o salário do operário e de sua família, dispensando a exploração do trabalho infantil e da mulher (Q A 71).

A justiça social não se aplica somente ao campo econômico. Também “as instituições públicas devem adaptar o conjunto da sociedade às exigências do bem comum, isto é, às regras da justiça social” (Q A 110). Os seres humanos, considerados como pessoas, são iguais e, portanto, toda desigualdade em aspectos constitutivos da pessoa, como é o caso das suas necessidades materiais básicas, deve ser eliminada. Não basta apelar à moralidade nas relações entre empresários e trabalhadores, pois o sistema de produção se desenvolve no interior de uma estrutura social. A justiça social inspira a reforma das instituições. O Estado tem um papel insubstituível na aplicação desta lei (Q A 79), sempre em colaboração entre Estado, empresa e sociedade: “É preciso que esta justiça penetre completamente as instituições dos povos e toda a vida da sociedade. Em defender e reivindicar eficazmente esta ordem jurídica e social deve insistir a autoridade pública” (Q A 88).

O Concílio Vaticano, na Gaudium et spes, confere duas fundamentações teológicas decisivas. A primeira é a dignidade da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus:

 A igualdade fundamental entre todos os homens deve ser cada vez mais reconhecida, uma vez que, dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos têm a mesma natureza e origem; e, remidos por Cristo, todos têm a mesma vocação e destino divinos. Mas deve superar-se e eliminar-se, como contrária à vontade de Deus, qualquer forma social ou cultural de discriminação, quanto aos direitos fundamentais da pessoa, por razão do sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião (…) Com efeito, as excessivas desigualdades econômicas e sociais entre os membros e povos da única família humana provocam o escândalo e são obstáculo à justiça social, à equidade, à dignidade da pessoa humana e, finalmente, à paz social e internacional (GS 29).

A segunda fundamentação encontra-se na referência “à criação de algum organismo da Igreja incumbido de estimular a comunidade católica na promoção do progresso das regiões necessitadas e da justiça social entre as nações” (GS 90). A justiça social como exigência da dignidade humana tem alcance global e encontra sua fundamentação teológica no principio do destino universal dos bens: “Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos, segundo a justiça, secundada pela caridade” (GS 69). Paulo VI, seguindo esta orientação do Concílio, cria a Comissão de Justiça e Paz (Motu próprio Catholicam Christi Ecclesiam, 6 janeiro1967).

João Paulo II mantém a justiça social como um eixo da doutrina social da Igreja. Para ele, a “questão social” é identificada como questão de justiça social em cuja origem se encontram as estruturas de pecado e os mecanismos perversos (Sollicitudo rei socialis). Ao situar o trabalho humano como chave da questão social, o compromisso com a justiça se concretiza, em primeiro lugar na luta pelos direitos trabalhistas (Laborem exercens). A prioridade do trabalho sobre o capital é uma das exigências de justiça social e os sindicatos são os expoentes desta luta (LE 8). Bento XVI, em Caritas in veritate, recorda que a doutrina social nunca deixou de pôr em evidência a importância que têm a justiça distributiva e a justiça social para a própria economia de mercado, não só porque integrada nas malhas de um contexto social e político mais vasto, mas também pela teia das relações em que se realiza (CiV 35).

Caberá ao papa Francisco ampliar o conceito de justiça social (TORNIELLI e GALEAZZI, 2016; FRANCISCO, 2016). Na Evangelii Gaudium, o pontífice recorda que “ninguém deveria dizer que se mantém longe dos pobres, pois ninguém pode sentir-se exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social” (EG 201). E destaca que a justiça social deve estar na pauta do diálogo entre as religiões: o diálogo inter-religioso, fundado na atitude de abertura na verdade e no amor, deve procurar a paz e a justiça social, é um compromisso ético que cria novas condições sociais (cf. EG 250).

Enciclopedia digital Theologica Latinoamericana. Justiça Social, Doutrina Social da Igreja.

Imagem: Ehimetalor Akhere Unuabona on Unsplash

«Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»

É necessário pensar que todos nós somos uma multidão de perdoados. Todos nós fomos olhados com compaixão divina.

A misericórdia tem dois aspetos: é dar, ajudar, servir os outros, mas também perdoar, compreender. Mateus resume-o numa regra de ouro: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (7, 12). O Catecismo lembra-nos que esta lei se deve aplicar «a todos os casos», especialmente quando alguém «se vê confrontado com situações que tornam o juízo moral menos seguro e a decisão difícil».

Dar e perdoar é tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus, que dá e perdoa superabundantemente. Por esta razão, no Evangelho de Lucas, já não encontramos «sede perfeitos» (Mt 5, 48), mas «sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado» (6, 36-38). E depois Lucas acrescenta algo que não deveríamos transcurar: «a medida que usardes com os outros será usada convosco» (6, 38). A medida que usarmos para compreender e perdoar será aplicada a nós para nos perdoar. A medida que aplicarmos para dar, será aplicada a nós no céu para nos recompensar. Não nos convém esquecê-lo.

Jesus não diz «felizes os que planeiam vingança», mas chama felizes aqueles que perdoam e o fazem «setenta vezes sete» (Mt 18, 22). É necessário pensar que todos nós somos uma multidão de perdoados. Todos nós fomos olhados com compaixão divina. Se nos aproximarmos sinceramente do Senhor e ouvirmos com atenção, possivelmente uma vez ou outra escutaremos esta repreensão: «não devias também ter piedade do teu companheiro como Eu tive de ti?» (Mt 18, 33).

Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade.

Papa Francisco. Gaudete et exsultate, 80-82

A luta contra o terror, segundo Oscar Romero

la Iglesia está de acuerdo en las campañas contra el terror, con tal que se siembre esa campaña con amor

En esta hora, hermanos, en que la liberación es tomada por muchas voces de hombres, la Iglesia también grita liberación pero no en el tono de odio ni de venganza ni de lucha de clases, porque eso no construye. Estamos de acuerdo en que debe de haber una lucha contra el terror, no debe de implantarse el terror en nuestra patria. Pero un terror no se quita con otro terror. Una mala voluntad no se mata con otra mala voluntad. El odio no siembra nada bueno. Por eso, la Iglesia está de acuerdo en las campañas contra el terror, con tal que se siembre esa campaña con amor, que busque la conversión de los malos; que castigue a los rebeldes, cualquiera que sea, aunque sea la mano armada, tiene que ser juzgada si ha cometido un crimen, y tiene que reclamársele castigo contra aquel que ha hecho el mal y no se convierte hacia el bien.

Pero desde el punto de vista cristiano, la voz de la Iglesia les dice a los oprimidos, a los que sufren, a los torturados, a los desaparecidos, a los muertos criminalmente, a las madres que sufren, a los hogares, a los marginados, a los que sufren injusticia, a todos ellos les dice estas palabras: Amen a Dios. Amen a Dios, que al que ama a Dios hasta esas opresiones se convierten en bien. Miren a Cristo crucificado, la figura del oprimido más grande, la del hombre que sufre la injusticia más criminal de la tierra, la del inocente que muere en una cruz y mira a su propia madre hundida en el dolor de una injusticia y desde allí clama: “Padre, perdónalos porque no saben lo que hacen”. Y desde su dolor, injustamente sufrido, se convierte en el Redentor de los hombres.

Oscar Romero. A las madres por sus hijos desaparecidos.

Imagem: Amber Kipp on Unsplash

“Direito de usar e de abusar”

Qué hermoso sería este concepto bíblico de pobreza y riqueza. No es malo tener. Ojalá todos fuéramos ricos. Lo malo es la insensibilidad.

Un profeta, Amós, que vivió siete siglos antes de Cristo, pero que se encuentra con una situación social muy parecida a la nuestra: su voz no pertenece a los siglos perdidos; su voz se hace actualidad para San Salvador de 1977. Un Cristo que nos cuenta una parábola tan terrible, de la suerte que se transforma del rico y el pobre en esta vida y en la otra; no es un cuentecito que Cristo contaba para endulzar los oídos de hace veinte siglos; es la amonestación seria de un Dios que nos dice para qué nos ha creado y cuál es el uso que hay que hacer de las cosas.

Y éste es precisamente el tema de esta Homilía de hoy: El recto uso de los bienes que Dios ha creado. Hay un mal uso, nos vamos a referir primero a este aspecto negativo, no porque sea lo principal. En el mensaje de Dios procuremos, hermanos, siempre buscar lo positivo. Pero al lado de lo positivo, que es la ley de Dios, el designio amoroso del Señor para con nosotros, los hombres entronizamos siempre un aspecto negativo, el pecado, la lucha contra el reino de Dios. Y esto durará a lo largo de los siglos. Y nadie se extrañe de que la Iglesia se llame perseguida. Si tiene que ser perseguida por el reino de las tinieblas. Si mientras la Iglesia proclame esta voluntad de Dios, siempre encontrará la voluntad del antidios, del anticristo, de las sombras del pecado, del misterio de la iniquidad que trata también de entronizarse. Aquí, el profeta Amós describe ese imperio de las tinieblas bajo el aspecto del lujo; esa vida muelle, qué bien la describe el profeta, a pesar de ser un pastor del desierto de Judea enviado contra su voluntad por el mismo Dios al reino del norte de Israel, donde bajo el imperio de Jerobam II, una sociedad en bonanza, en paz, no sabe aprovechar este signo de la paz para adorar a Dios y agradecérselo, sino para hacer una vida muy lujosa.

“Os acostáis en lechos de marfil, tumbados sobre las camas. Coméis los carneros del rebaño y las terneras del establo”. Son esas terneras que se alimentan sólo de leche y naturalmente su carne es muy blandita y esto gusta a los sibaritas del norte; “Canturreáis al son del arpa, bebéis vinos generosos, os ungís con los mejores perfumes y no os doléis de los desastres de José”.

Y Cristo nuestro Señor en su parábola, como haciendo un eco a esa vida muelle: “Había un hombre rico que se vestía de púrpura y de lino, y banqueteaba espléndidamente cada día”. Hermanos, ¿no les parece que no son rasgos escritos en 1977; pero son realidades de los siglos que, también, existen hoy en 1977, aquí entre nosotros?. Podrá preguntar el rico epulón y los ricos del norte de Galilea, y todos aquellos que se dan a la vida muelle, comodona: ¿Qué pecado hay en eso? Parece que no hay pecado. Y, el primero de los pecados es el haber subvertido el sentido de la propiedad. Como decían los paganos, definiendo la propiedad privada; “Jus utendi et abutendi”, derecho de usar y de abusar; si es mío, ¿por qué no voy hacer lo que me da la gana? No, el derecho de propiedad tiene unos límites, los que señala aquí la lectura sagrada en San Pablo a Timoteo. Dios le da la vida a las cosas del mundo y tienes que ver para qué las ha creado Dios. Y si es cierto que la propiedad privada es un derecho, sin embargo tiene, como dice nuestra constitución muy bien, una función social. Una función social que no es precisamente, como se dijo cuando se defendían los intereses ante los peligros de la ley del ISTA, sólo para producir más. No es eso la función social: producir más. Producir más sí, pero para el bien común. Los bienes que Dios ha creado para todos tienen que canalizarse por estructuras hacia al bien, hacia la felicidad de todos, y que no se dé este terrible contraste señalado por las lecturas de hoy: mientras él se banqueteaba, un pobre ni siquiera comía las migajas que caían de su mesa.

Y aquí tenemos ya, hermanos, las consecuencias de esta vida muelle, los errores tremendos. Además de ese falso concepto de propiedad, lo más terrible es esto: metaliza, hace insensibles a los hombres. ¿Qué es lo que aquí denuncia Jesucristo -cuando dice- que mientras el rico se banqueteaba, Lázaro “estaba echado en su portal cubierto de llagas y con ganas de saciarse de lo que tiraban de la mesa del rico, pero nadie se la daba. Hasta los perros se acercaban a lamerle las llagas?” Tenían más dicha los perros, los cuales podían comer los mendrugos con que el rico se limpiaba sus manos o los platos y se los tira al perro, y el pobre siquiera eso quería y ni eso se le daba. O como dice la primera lectura, también, después de describir esas orgías; “Y no os doléis de los desastres de José”. José era la tribu que se consideraba como más pobre, más necesitada; y los necesitados de José, pues eran como la expresión de la pobreza suma, de la miseria. Mientras unos, pues tienen abundancia, son insensibles.

Este es el pecado grave, la insensibilidad. Y aquí hermanos no lo estoy diciendo sólo de los grandes ricos, lo digo también de todos nosotros, que cuando tenemos algo que comer, un sorbete siquiera, una migaja, una tortilla, tal vez comiendo nosotros nos hacemos insensibles al pobre que no tiene ni eso. ¿Por qué no compartir, como dicen los profetas, hasta nuestras pobrezas? Es una traición, según el profeta Amós, contra la alianza con Yahvé. Si Dios había hecho una alianza con este pueblo, “seréis mi pueblo y yo seré vuestro Dios”, pero con la condición de que se sintieran todos pueblo de Dios, hermanos unos de otros. Tanto era sí que leemos una ley en el Levítico, capítulo 25, dice: “La tierra no puede venderse para siempre, porque la tierra es mía, ya que vosotros sois para mí como forasteros y huéspedes”. Era el concepto de los ricos de Israel de que ellos eran como renteros de Dios, como que Dios les había rentado unas tierras; la propiedad privada la consideraban a la luz de Dios y el pobre era el representante de Dios al que había que pagarle esa renta de la tierra. De allí que el rico y el pobre debían de sentarse a compartir juntos como dos limosneros. Dios le da limosna al rico y Dios, por el rico, le quiere dar limosna también al pobre.

Oscar Romero. El recto uso de los bienes que Dios ha creado

Imagem: Ali Saadat on Unsplash

A oração

“No sólo trabajar sin Dios, ni sólo orar sin trabajar”

Nada hay imposible a la oración; y si todo este pueblo cristiano de la arquidiócesis tomara la actitud de María frente a Cristo, y Cristo nos dijera como dijo a Marta: “No te preocupes de demasiadas cosas; sólo una cosa es necesaria”. ¿Cuál es esa cosa necesaria? Es la que ya se vislumbra siglos antes de Cristo, con la que termina la primera lectura de hoy que nos ha descrito, como transfigurando a Dios en unos hombres que visitan a Abraham; y Abraham objeto dichoso de esta teofanía, está frente a Dios y tiene la oportunidad de dar acogida a Dios y le sirve de los temeros de su cavada; y le da todo lo que puede dar un hombre generoso a un amigo que llega a visitarlo. El Hebrón, allá en Palestina, tiene un nombre en honor a Abraham; aquel pueblo se llama El Kalil, que quiere decir “el amigo”. No se puede dar a un hombre nombre más honroso que ese que se ha dado a Abraham: “el amigo de Dios, el que trataba con Dios como con un amigo, hombre de oración.

¿Por qué no nos proponemos todos, los que estamos haciendo esta reflexión, también, ganar un poquito de ese título: amigos de Dios? Pero cuando termina ese interesante encuentro de Dios con Abraham, como amigos que comen juntos, que comparten juntos, la frase termina diciendo: “… dile a Sara que dentro de un año, cuando retorne, le habrá nacido un hijo”. Esta es la esencia de ese mensaje de la primera lectura. Porque ese hijo de Abraham ya anciano, y de Sara estéril y vieja, es el hijo de la promesa. De allí va a nacer un pueblo que tendrá el honor, en la historia, de ser el vehículo de sangre que va a dar a luz al Redentor de los hombres. Jesús es descendiente de Abraham, ¡qué honor, el Hijo de Dios es descendiente de un anciano y de una estéril!

Este es el gran prodigio, el gran designio de Dios. Nada hay imposible para el Señor, le dice también el ángel a Maria, hablándole de otra esterilidad que se hace fecunda: Elizabeth, madre de Juan Bautista. Y San Pablo, en la lectura de hoy, nos describe lo único necesario: el misterio de Cristo, misterio escondido en Dios que se ha revelado a los hombres. Y dichoso aquél que llega a comprender que Dios se hizo hombre para salvar a los hombres; y que cada vida humana que se incorpora en esa corriente de redención / y se convierte en Cristo, se diviniza su vida. Porque Dios vino hecho hombre en Cristo, para hacer Dios a toda la humanidad que creyera en él. Esto es lo único necesario.

Por eso, cesando miramos a María extasiado frente a las palabras de Cristo, mientras Marta va y viene por la casa preparándole la comida, y reclama a Jesús: “Mira, mi hermana no me ayuda; dile que vaya a darme una mano”. Jesús defiende a María: -“Marta, Marta, tú te preocupas de muchas cosas, sólo una cosa es necesaria; y María ha escogido la mejor parte, que no se le va a quitar”.

Todo aquél que llega a comprender lo único necesario (Maná, en las Palabras de Cristo está oyendo el designio de Dios, el amor de Dios), es un alma en oración, es un alma contemplativo. Marta es la figura del alma activa. Asi lo han interpretado en todos los siglos, este bello pasaje del evangelio de hoy. Y a la luz de Marta que va y viene, podemos ver a la Iglesia en sus actividades pluriformes. ¡Qué maravilla es la Iglesia! Porque Jesús, al alabar la actitud de María, no está reprobando la actitud de Marta; lo que le está diciendo es: Ojalá toda su actividad proceda también de lo único necesario; porque no basta ser contemplativo, estar rezando, es necesario también trabajar; pero que cuando se va al trabajo, se lleve en el corazón la unidad de todo lo que se va a hacer, una perspectiva de fe que ilumine toda tu acción. Y aquí es, hermanos, donde yo quiero recomendar la necesidad de encontrar ese único necesario, la necesidad de orar.

Yo voy visitando en estos días comunidades preciosas de cristianos, y les aseguro que, a la luz de la Biblia y de la reflexión que allí surge, se levantan plegarias tan bellas que de veras la labor que la Iglesia está haciendo en El Salvador, sobre todo a través de las comunidades pequeñas, no tiene nada de subversivo, no tiene nada de político; v si tiene algo de político, es la gran política del Reino de Dios de despertar en los hombres la conciencia hacia Dios y de Dios hacia todos los hombres. ¡Que oración! ¡Que contemplación! Es necesario orar y trabajar. Pero el trabajo tiene que proceder de la oración. No se pueden disociar.

Todos supieron a través de los medios de comunicación que esta semana, el miércoles, hubo un apagón de muchas horas en New York; y cuando el Alcalde reclama a la compañía eléctrica, la compañía le dice: “Es un poder superior, Dios lo hizo”. Pero el Alcalde le reclama negligencia. Los dos tienen razón. Es como cuando los que prepararon un viaje a la luna dijeron: Técnicamente todo está preparado; ahora sólo nos resta orar; orar y poner en juego todas las energías humanas”.

No sólo trabajar sin Dios, ni sólo orar sin trabajar. “Ora et labora” era el gran lema de San Benito, el fundador de los benedictinos, que no descansan en su vida, orando y trabajando. Aquellos monasterios, donde los monjes parecen abejas hacendosas. No descansan un momento, pero en su corazón siempre están orando. Como María, contemplan lo único necesario; y como Marta, trabajan: van y vienen.

¡Qué hermosa fuera nuestra ciudad, los campos, los pueblos; donde los hombres profesionales, comerciantes, estudiantes, mujeres de hogar, del mercado, todos tuviéramos en el corazón un gran sentido de oración, y al mismo tiempo una honradez en el trabajo, una diligencia!

Mons. Oscar Romero. La oración

Imagem: Valou _c on Unsplash

A fé segundo Oscar Romero

“Creer es cuando Dios dice hasta lo imposible, y el hombre acepta esa palabra. Se convence de que será verdad, y vive de esa palabra. Fe es entregarse al que le dice algo, creer es no dudar.”

“¿Quién era Abraham?, un pobre campesino. No conocía la revelación de Dios. No era circuncidado, no era judío. Un hombre del mundo. Y a ese hombre, Dios lo llama ya anciano, estéril, su mujer no le había dado ningún hijo. Y Dios promete: “Va a nacer de ti un hijo, que será padre de pueblos. Y en esa descendencia nacerá el Redentor del mundo. ‘Parece locura que a un viejo y a una anciana, estériles los dos…- y ahora dice la Escritura: “Ya parece un cuerpo muerto”- este cuerpo que parece muerto, a este desierto de la humanidad, anciano y estéril, Dios le dice que va a reverdecer como un jardín. Abraham cree. CREE. ¿Qué cosa es creer? Creer es cuando Dios dice hasta lo imposible, y el hombre acepta esa palabra. Se convence de que será verdad, y vive de esa palabra. Fe es entregarse al que le dice algo, creer es no dudar. El acto de Abraham es heroico; diría yo, divino. El comprende que de la iniciativa de Dios viene todo. No importan las condiciones humanas: Viejo y estéril parece un muerto. Pero Dios que hace resucitar a los muertos y da vida a los desiertos, será capaz de hacer también de mi esterilidad y de mi vejez, de mi muerte, un pueblo numeroso; y para colmo, del cual nacerá la redención y la vida eterna.

Por eso dice San Pablo en su lectura de hoy-. “”Abraham creyó, y esto es lo que le fue tenido en cuenta para justificarlo”. Abraham se justificó… En aquel momento Abraham comienza a ser el Kalil, el amigo de Dios, porque ya se entregó a Dios, y Dios le ha dado su iniciativa; Dios le está ofreciendo justificación. Y le pide como condición: “Cree, ten fe. Abraham podía reírse y decir. “Señor, estás loco, estás pensando en algo imposible; pero así como María cree también en la posibilidad de una virginidad fecunda, sin perderse la virginidad; Abraham y Sara Isabel, y todos esos hijos del milagro del Antiguo Testamento, son producto de esta fe.”

Oscar Romero. La justificación y la fe

Homilia de mons. Romero no segundo Domingo de Páscoa de 1977

trabajar en el presente por un mundo mejor, pero sin olvidar que las pascuas de la historia son imperfectas, que entre los aleluyas de la tierra hay muchos dolores y muchas espinas, que la resurrección que se celebra en la tierra siempre tiene en el centro la cruz del sufrimiento

«Vida quiere decir justicia. Vida quiere decir respeto al hombre. Vida quiere decir santidad. Quiere decir todo ese esfuerzo por ser cada día mejor, porque cada hombre y cada mujer, cada joven, cada niño, vaya sintiendo que su vida es una vocación que Dios le ha dado para hacer presente en el mundo. No sólo la maravilla de la creación es imagen de Dios, sino la maravilla de la redención, que es elevación de la naturaleza, elevación de la sociedad, elevación de la amistad. Esa es la Pascua; y una parroquia que lleva el nombre pascual de la Resurrección tiene que vivir intensamente este sentido comunitario del paso de la muerte a la vida, de la imperfección a lo perfecto, a la santidad cada vez más elevada.

Porque sólo así, queridos hermanos, podemos servirnos de esta Pascua que Cristo nos regala. Y decían las lecturas de hoy que se iban agregando a esa comunidad, porque la veían tan atrayente por el amor. Esta es la fuerza de la Iglesia, queridos hermanos, no la violencia, no el odio, no el resentimiento, no la calumnia. Se está calumniando a la Iglesia en estos momentos en una forma tan burda; y eso no es Iglesia, aun cuando en nombre de la Iglesia se quiera calumniar a la Iglesia, el absurdo de que la Iglesia se destruyera a sí misma. La Iglesia ama, la Iglesia redime, haciéndose violencia a sí misma, hasta quedar como Cristo, tal vez, sacrificado en la cruz pero salvando al mundo con la fuerza del amor, que es entrega y es una fuerza misionera. Atrae al mundo.

Y ojalá que la comunidad parroquial en la cual estamos en este momento sea cada vez una antorcha luminosa que atraiga, que conglutine, que unifique todas las fuerzas maravillosas de la colonia y de la parroquia; porque tenemos que llegar a eso, queridos hermanos. No nos contentemos con una sociedad simplemente humana, con una amistad simplemente de simpatía. Elevémonos al amor que Cristo nos ha inspirado. Por amor a Dios amar a nuestro hermano, aún aquellos que son más difíciles, con quienes menos podemos comprendernos, perdonar, comprenderse, ésta es la fuerza que hace la comunidad de Cristo resucitado.

Y finalmente, un sentido escatológico, es decir un más allá de la historia, un trabajar en el presente por un mundo mejor; pero sin olvidar, como no lo olvidaban los israelitas cuando celebraban sus pascuas, que las pascuas de la historia son imperfectas, que entre los aleluyas de la tierra hay muchos dolores y muchas espinas, que la resurrección que se celebra en la tierra siempre tiene en el centro la cruz del sufrimiento; pero que a través de esas imperfecciones, de esas espinas, de esos dolores, de esos problemas, se abrían a unos horizontes. Los israelitas pensaban en una pascua del banquete perfecto, la alegría con Dios, y Cristo mismo decía: Ya no comeré con vosotros esta pascua hasta que juntos la comamos en el reino del Padre”. Peregrinar con El para que esta fiesta pascual que cada año se celebra en la parroquia sea una invitación a trabajar por hacer este mundo más humano, más cristiano; pero saber que no está el paraíso aquí en la tierra, no dejarnos seducir por los redentores que ofrecen paraísos en la tierra -no existen- sino el más allá con una esperanza muy firme en el corazón: trabajar el presente, sabiendo que el premio de aquella Pascua será en la medida en que aquí hayamos hecho más feliz también la tierra, la familia, lo terrenal.

Este es el equilibrio santo a que la Virgen misma nos invita, y mi documento termina con esta invocación a María: “Nuestro Divino Salvador no defraudará nuestra esperanza. Pongamos por intercesora ante El a la Reina de la Paz, patrona celestial de nuestro pueblo, madre del Resucitado. Que ella ampare a nuestra Iglesia, sacramento de la Pascua. Que como María, la Iglesia viva ese feliz equilibrio de la Pascua de Jesús, que debe marcar el destino de la verdadera salvación del hombre en Cristo: sentirse glorificada ya en los cielos, como imagen y principio de la vida futura y al mismo tiempo, ser aquí en la tierra, luz del peregrinante pueblo de Dios, como signo de esperanza cierta y de consuelo hasta que llegue el día del Señor”.»

https://servicioskoinonia.org/romero/homilias/C/770417.htm

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