Para que serve um blog? Existem pessoas que realmente fazem estudos sérios com isso. Minha contribuição, então, à ciência – esta que é o diferencial do ser humano, afinal somos a única espécie que sabe, e que sabe que sabe. Também somos a única espécie que expulsa garotinhas de quinta série da escola porque uns pivetes coleguinhas dela contaram (veja bem, contaram que ela fez boquete neles – coisa que as nobres mamães não fazem nos seus maridos porque isso é coisa de puta, e que, se alguém fizer em seus filinhos, que não seja uma colega porque eles não podem estudar com putas, esse ser de qualidade inferior; afinal, além de mulher, é puta. – Enfim, eis minha contribuição à ciência:
Um blog serve para falar da pessoa que se ama (será que amo mesmo? dizem – Hollywood, Walt Disney – que o amor d[a certo no fim. De qualquer maneira, independente do que dizem os estúdios de cinema norte-americanos, as pesssoas que conheço conseguem amar e ser amadas. Sei lá, o povo se acerta, dá um jeito, tem competência para isso.) enquanbto se está longe dela. Longe demais das capitais, na periferia do amor. (poético!, mas trocaria toda a poesia por um beijo, que, mais do que as palavras, é aquilo com o que se faz poesia).
Renato Russo: “Saudade é só mágoa por ter sido feito tanto estrago” (no CD A Tempestade, não lembro o nome da música, é uma que começa assim: “Se a paixão fosse realmente um bálsamo, o mundo não pareceria tão esquivocado.”) Errou feio, desta vez, o finado. Que estrago houve? Nenhum. Nem oportunidade para isto houve. Ninguém estragou nada. Ninguém sequer tocou em nada, como se esperássemos a polícia chegar. Saudade não é mágoa pelo estrago. Saudade é consequência da diferença de fases, de potencial: eu gosto de você, você não gosta de mim. Certo, não é tão simples assim: você gosta de mim, simpatiza, quer o meu bem, mas não tem o menor problema em ficar longe, não sente a distância, também se machuca mas é por outra pessoaa. E eu, eu somente gosto de você, quero que você seja feliz, até mesmo com a trolha que você chama de “quem eu amo”. Mas a trolha nem para isso serve. Por isso é uma trolha. Bolha, trolha, troço, rolha de poço! (mas a trolha em questão não é gorda, foi só para ofender mesmo).
Sempre escolhi os empregos errados, as carreiras erradas, sempre falei quando não devia, meu bilhete nunca é o premiado (menos quando tinham os palitos premiados da Kibon, foram poucos, mas ganhei alguns picolés de limão e de uva de graça, que saudade), os cursos que fiz, ou as escolas onde estudei, ou eram bons antes de eu entrar e quando cheguei já eram decadentes, ou começaram a brilhar depois que saí. Tem um filme chamado “O homem que não estava lá”, t´tulo que eu acho muito engraçado: assim como o homem do filme (que, aliás, nunca assisti, e gostaria de saber onde diabos ele não estava), eu também nunca estou lá. Ou estou chegando, ou já fui, ou mudei de rumo. Sempre aqui. “Esperando, parada, pregada na pedra do porto”, “como as pedras imóveis na praia, eu [não] fico ao teu lado … aprendi o segredo, o segredo, o segredo da vida, vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar. Vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar. Vendo as pedras que sonham sozinhas no mesmo lugar.” Enfim, mesmo quando eu pensava “se eu escolho sempre errado, basta que eu faça o contrário do que escolhi”, o que dava certo era o que eu tinha escolhido mas não fiz.
Detalhe: veja a importância que uma pessoa acaba assumindo na vida de outra: existem muitas coisas boas, ótimass, supimpas na minha vida. E eu estou aqui contando sobre elas? Eu estou me lembrando delas agora? Não, estou aqui reclamando, resmungando que X não está aqui, que não vi X, que queria ver X, que gosto de X. Eu até me torno uma pessoa chata. Sempre o mesmo assunto. Mas é o que acontece quando… enfim, se anda sem se mover.
Posso dizer até que minha vida anda, mas que, ao mesmo tempo, não anda.
É como um disco girando: há movimento, pois, se você olhar as boras, elas giram, se movem; mas lá no centro, tudo parado, tudo calmo, tudo igual. Não queria que fosse como um disco, mas como um rio: movimentação, ida. Como o mar: ondas, maré alta, maré baixa, golfinhos, água salgada… Não esta poça d’água parada, não essa água de poço, não esse silêncio dos inocentes.