Um texto como o de um gay careca

Este é um comentário no estilo irresponsável.

Eu estou cansado de ler textos relativos ao feminismo, à sexualidade, à crítica cultural, etc, todos escritos ao estilo Foucault.
Nada contra – pelo contrário, tudo a favor – da maneira como Foucault escreve. Nem contra os assuntos, que, acho eu, devem ser falados, escritos, lidos, ouvidos, mencionados, levantados.
Mas qualquer coisa que se vá escrever, começa-se mencionando a perspectiva clínica dos idos de mil seiscentos e não sei quanto, os silêncios de tal e tal época, enfim, essas coisas.
Foucault tornou-se um modelo onipresente de assuntos, estilo de escrita e até de metodologia – porque quase todos os textos fazem alguma referência a como as coisas eram no início do período moderno, especialmente nas áreas médicas, psicanalíticas e jurídicas.
Já li textos – muitos, talvez a maioria – onde, à guisa de introdução, aparece o “contexto histórico”. Sempre interessante, quase sempre revoltante (as coisas que a medicina já fez são, às vezes, horríveis), mas eu me pergunto: porquê esse contexto histórico? Já sabemos que, no passado, haviam horrores institucionalizados, e sabemos que hoje existem tantos ou mais horrores institucionalizados ainda. Mas esse fato não implica em que alguém que vá escrever sobre sexualidade, gênero ou qualquer tema polêmico assim precise sempre mencionar o contexto histórico. O que me irrita um pouco é que as pessoas não sabem – pelo menos não parecem saber – porque estão fazendo referências ao contexto histórico, às práticas médicas modernas, a essas coisas todas. A impressão que eu tenho – impressão, que, sim, pode estar errada, mas eu duvido que esteja – é que as pessoas lêem Vigiar e Punir, O Nascimento da Clínica ou a História da Sexualidade, por exemplo, e acham que foi gratuitamente que o cara falou de história, medicina, práticas diversas, leis e todos os outros assuntos. Com certeza, não foi porque era bonitinho e charmoso. Mas, depois de lerem Foucault, enfiam contextos históricos ali por nada, porque Foucault fazia assim, sem saberem porque Foucault ou elas próprias estão preocupadas com o contexto histórico, ou com as práticas médicas.

É um comentário meio irresponsável porque é possível que eu esteja falando mal de textos – de autores – que podem saber muito bem o que estão fazendo, e até é possível que a pessoa esteja tão inserida neste estilo de escrita que não perceba que parece que escreveu aquilo por nada. Também é irresponsável porque é um estilo que “pega fácil”. Eu também, quando vou escrever, a primeira coisa em que penso é em colocar um contextinho histórico básico sem motivos. Mas, quando faço isso, pelo menos eu sei que estou sendo idiota. Não fico pensando “oh, que texto cabeção que eu fiz, quanta intelectualidade”.

Eu não espero que as pessoas mudem seu estilo, nem que não copiem o estilo de Foucault, que é muito bom, pelo menos para mim. Mas só espero que saibam, que entendam o que estão escrevendo.