O particular deve servir ao coletivo tanto quanto o coletivo deve servir ao particular. E vice-versa.
Isto não significa que indivíduos inúteis devam ser eliminados ou excluídos, nem que as coisas públicas que não me afetam devam ser ignoradas ou encerradas.
Mas significa que os outros valem tanto quanto eu (no caso de um ego inflado) e que eu valho tanto quanto os outros (no caso de falta de autoestima).
Cristo olha para as multidões cansadas e se sente insuficiente para dar conta de toda a demanda delas. Em seguida apela para que peçam “ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita” (Mt 9,38) e escolhe doze discípulos para trabalhar em prol das multidões.
E hoje faltam padres, faltam freiras, falta tudo – mas não é porque faltem trabalhadores para a colheita. Pois observando atentamente em volta, há muita gente trabalhando, e não é difícil imaginar quantos mais estão trabalhando fora das nossas vistas.
Cristo, o Filho de Deus, já teve o seu pedido atendido assim que o formulou (pois ele não esperou muitos capítulos para escolher os Doze depois de pedir por mais trabalhadores ao dono da messe). E o dono da messe continua mandando levas e mais levas de trabalhadores. Mas o que eles fazem? Onde estão eles?
Eles estão aí, cultivando as suas colheitas, trabalhando seus terreninhos, vendendo aquilo que colhem, cidadãos exemplares cuidando das suas vidas sem incomodar absolutamente ninguém.
Enquanto isto, a colheita dos outros, ou melhor, de um Outro em particular, continua imensa e mal povoada de trabalhadores.
Não faltam trabalhadores. Falta apenas que que eles olhem para Cristo e vejam, nos olhos dele, a compaixão pelas multidões cansadas e abatidas – aliás, tão cansadas e abatidas quanto eles.