Pelo amor ou pela dor

A frase “pelo amor ou pela dor” chegou até mim como o título de um livro espírita. Eu não sei nem se é mesmo, mas na época as conversas eram de que isto é mesmo verdade: encontraremos o caminho correto, o caminho da luz, o caminho do bem (alô Tim Maia) por bem ou por mal, seja pelo amor, seja pela dor.
Eu, que concordei com essa ideia, hoje descordou dela. A frase que deveria culminar o texto deveria vir no fim mas minha inabilidade literária já traz ela agora: a dor até corrige, mas só o amor ensina.
Estou pensando, por esta frase, em dois eventos mais ou menos paralelos. Um deles é o retorno de Cristo, a segunda e definitiva vinda, utilizada tantas vezes como argumento para as pessoas se corrigirem. Mas acredito que ameaça-las com o Julgamento Final não vai corrigi-las. 
Os pequenos e constantes julgamentos parciais, aos quais todos estamos sujeitos, ajudam (ou podem ajudar), a nos corrigir, mas não ensinam. Se a dor ensinasse alguma coisa, a maldade e a corrupção seriam uma novidade destes tempos em que palmadas em crianças são questionadas e o uso da violência é recriminado em diversas instâncias. Os antigos batiam, e também tiveram seu quinhão de maldade e corrupção – “há tempos nem os santos tem ao certo a medida da maldade” já cantava a Legião.
Quando Cristo prega “convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo” é mais a título de informação (“evangelho” significa “boa [nova=] notícia” e uma notícia é uma informação) e de estímulo do que de ameaça. A sempre iminente instauração do Reino definitivo é uma meta, e não uma causa.
A escatologia cristã possui um paralelo laico que é a hecatombe climática: ecologizai-vos porque o colapso ambiental está próximo. E tem o mesmo efeito da segunda vinda de Cristo utilizada como argumento para voltar-se ao bem: pode até corrigir, mas não educa.
O cuidado com a casa comum é um imperativo. A sustentabilidade, a reciclagem, o controle da emissão de poluentes, etc., são necessidades, mas dificilmente serão consequência da ameaça do colapso ambiental.
Assim como é necessária a educação para a preservação do planeta, algo semelhante é necessário ao cristão: além de educação, amor.
A dor é inevitável, mas percorrer o seu caminho é inefetivo. Já o amor, também inevitável, oferece um caminho eventualmente tortuoso, mas nos aproxima mais de Deus do que a dor.