Música do dia

Je ne t’aime plus
Mon amour
Je ne t’aime plus
Tous les jours

Segundo o Babel Fish, a tradução é:

Eu não te amo mais
Meu amor
Eu não te amo mais
Todos os dias

Acho muito bom, ótimo, lindo, é o meu sonho dizer “eu te amo”.
Mas às vezes é libertador poder dizer “eu não te amo” sem bater na madeira.

Bom, je me t’aime – em português: eu não te amo. Só para ficar claro. Sei lá, vai que se perde alguma coisa na tradução.

Os mitos e sua influência no mundo moderno

Este título é de um texto muito mais relevante e interessante (outras qualidades do texto que tem, originalmente, este título: foi feito por uma causa melhor – passar no vestibular; o assunto deste texto é muito mais pertinente ao mundo em que vivemos, quero dizer, vou falar também de um assunto pertinente ao mundo em que vivemos, mas o texto de onde roubei o título fala de um problema maior do que o meu; além do mais, falando em estilo, o texto que teve seu título roubado por mim tem um estilo muito melhor do que o que escreverei). Roubei-o porque também vou falar de mitos. De uma maneira mais tosca, é verdade. Como eu não posso copiar o texto e dizer que é meu, nem teria graça copiá-lo aqui, roubo o título, fazendo ao mesmo tempo uma homenagem ao texto original e fazendo referência a um texto melhor do que o meu, na esperança de que, de maneira meio subliminar, as pessoas achem meu texto legal, no mínimo, por ter um título legal que não é porque foi roubado que perde seu valor. Claro que, se eu não tivesse roubado o título, eu não teria que gastar tanto fôlego apenas para me explicar. Mas, tudo bem, eu gosto de escrever.

Em 13 de abril de 2029, um asteróide vai passar de raspão pela Terra, na mesma altura em que ficam os satélites, só para ter uma idéia do quão perto o asteróide vai ficar.
No site do jornal El País, de onde eu tirei essa informação, colocaram um vídeo junto com a reportagem. O vídeo, pouco criativo, mescla cenas de Armagedom e falas de físicos explicando como será o futuro (não todo o futuro, só o do asteróide).
No vídeo, o físico deixa bem claro que não precisamos nos preocupar, existe uma chance entre 50.000 de que o asteróide bata na Terra e, se der a zebra, ainda assim a União Européia tem um plano para nos salvar.
Mas não foi o asteróide, a União Européia, nem o que o físico falou para acalmar o restante dos terráqueos. Foi como ele falou.

Sabe como você falaria com sua mãe se tivesse se acidentado de carro e, depois de sair do hospital, fosse contar para ela? “Oi mãe, assim, não te assusta, está tudo bem, mas eu me acidentei de carro, mas já me medicaram e eu estou ok.”
Não sei se isso está claro. Você fala com toda a calma, para não alarmar, não assustar o coração da sua pobre mãe, fala com jeito, com calma, sorrindo, como se não fosse nada, até sorri enquanto fala, parece até que está falando da novela ou contando um causo sem importância.
Bom, não sei se deu para entender o que eu disse, mas era dessa maneira que o físico dizia “mas existe somente uma chance em 50.000 de que o asteróide nos acerte, e temos um plano para evitar que isso aconteça, caso corramos esse risco”.
Porque ele falou desse jeito? Porque a população pode se alarmar, pessoas podem se matar, seitas tomarão veneno para encontrar o senhor antes do juízo final, as lojas serão saqueadas, o caos tomará conta do mundo e não haverá mais nada para o asteróide destruir já que a população já terá toda morrido devido ao pânico que se formou.
Mas, com exceção do filme Armagedom e outros do gênero, e da imaginação dos físicos, alguma vez já se viu acontecer isso?
A mesma coisa sobre o suicídio. Não se divulga notícias sobre suicídio porque as pessoas tem medo que algum maluco se anime a se matar, já que leu no jornal que o vizinho fez isso.
Claro, ao que me conste, ninguém se mata porque o vizinho se matou. Mas quem se preocupa com isso? Ninguém parou para pensar que, se for assim, homicídios não deveriam ser noticiados porque alguém pode ficar com vontade de matar os outros porque viu o comando vermelho dando tiros no Rio de Janeiro? Não se poderia falar de países árabes na TV, pois se correria o risco de que todo mundo quisesse virar muçulmano.
Claro que, eu também acho, dependendo de como se notícia um suicídio, é bem capaz mesmo de aparecer uma carta de despedida dizendo que a criatura se matou porque leu no jornal. Mas é só falar com jeito.
Tenho uma professora (não tenho mais aulas com ela, nem a vi nunca mais, mas ainda a considero minha professora porque até hoje ainda aprendo com ela) que dizia que vocÊ pode falar qualquer coisa, para qualquer pessoa, em qualquer momento, basta você falar da maneira certa.
Quer dizer, são mitos: o mito de que o mundo entrará em pânico se disserem que tem um asteróide vindo em direção À terra, e o mito de que as pessoas se matam porque leram no jornal.

Não é nada, talvez seja implicância minha. Mas se continuarem tratando as pessoas, o populacho, o povão como criança, continuaremos tendo uma população com o mesmo nível mental das crianças do prezinho.

Rockxixe

Uma análise um pouco mais criteriosa e apenas um pouco menos passional dos fatos (se você, como eu, não tem a menor paciência de ouvir chororô de gente descornada e outros afins, visite meus links, que são muito interessantes, e não perca seu tempo lendo este post).

Eu sei quando uma pessoa, mesmo convivendo comigo, pode ser nociva. Não que essa pessoa seja o fel em si (eu não sei bem o que é fel, mas boa coisa não deve ser), mas o que não faz mal a uma pessoa pode até ser fatal para outra (um exemplo disso é aquele meninnho do filme Meu Primeiro Amor, que morreu de picada de abelha) (aliás, fizeram uma continuação desse filme – um contrasenso chamado Meu Primeiro Amor 2 – muito ruim, que parece com os novos mutantes, os quais podem muito bem ser novos, mas não têm nada de Os Mutantes).

Mesmo sabendo que uma pessoa pode ser nociva… O problema é que eu fiz exatamente aquilo que eu critico nas outras pessoas: achei que poderia mudar alguém. Não que eu pense que uma pessoa pode mudar outra. Mas pensei que eu pudesse mostrar que existem coisas legais em não se viver uma vida de verme – não que a vida que eu leve seja gloriosa, esplendorosa, e que eu não tenha meus dramas, meus traumas e meus contrasensos absurdos, mas não levo uma vida de verme.

Falando bem por cima e superficialmente, viver uma vida de verme é fazer da condição de parasita um modo de vida. Não que seja possível não ser nunca parasita: você sempre parasita aquilo do que você gosta. Parasitar, neste caso, não é algo degradante. É só mais uma dentre tantas maneiras pelas quais se estabelece uma relação com uma pessoa ou com outra coisa – e nunca se tem apenas uma relação com uma pessoa. Mas fazer do parasitismo um modo de vida é depender dessa condição de parasita, é ser parasita quase full time.

E tudo bem que uma pessoa queira ser parasita. É um modo de vida. Mas muitas pessoas se fodem querendo parasitar, acabam sendo nocivas a si mesmas. E certas pessoas acabam vivendo dessa maneira.

Não que eu tenha sido a pessoa parasitada – eu teria que ser muito interessante para que isso acontecesse. Mas praticamente tudo é passível de ser parasitado: um marido rico, uma esposa submissa, os pais de alguém, e também é possível parasitar o próprio passado, por exemplo.

***

Eu detesto pessoas humildes – quero dizer, pessoas que compreendem “humildade” como “pedir desculpas por existir”. Por isso, espero não parecer humilde. Mas sou uma pessoa muito tolerante com a cavalice e a grosseria alheia. Já levei as patadas mais fortes, já passei por grosserias muito além do simples ouvir desaforos. E às vezes preferi continuar a amizade com quem me sentou as patas ou fez alguma grosseria para mim, por diversos motivos. Mas uma patada, ou uma grosseria, depende menos do seu conteúdo, da grosseria em si, do que do contexto e da situação – e da pessoa – de onde veio.
Por isso, dessa vez, vou me ofender com isso.

Não importa que se perca um relacionamento muitas vezes legal e interessante. Não importa que eu tenha medo que uma pessoa se foda de vez na vida (o que eu realmente espero que não aconteça – existem muitas maneiras de não se ferrar na vida e espero que a criatura descubra-as), não importa que eu possa estar jogando fora uma convivência legal, não importa o que eu tenha descoberto nessa pessoa e em mais ninguém – e nem o meu medo de não encontrar mais isso; não importa.

Não importa e nem desimporta nada. Não me sinto melhor nem pior fzendo isso. Eu nem deveria estar escrevendo tudo isso.

Só que, desta vez, não ficou tudo bem.

Mudança de planos

Eu ia falar do Poderoso Chefão, que eu assisti hoje à tarde. Ia dizer alguma coisa sobre a diferença entre este filme (a parte 1, pelo menos) e Os intocáveis, que O Poderoso Chefão é um filme sobre relacionamentos, relações de poder, as diferentes configurações que as relações assumem, sobre lealdade, enfim, um filme rico, enquanto que Os intocáveis é apenas um filme sobre como devemos cumprir a lei, quer dizer, um filme que heroiciza o a)homem b)cumpridor da lei, e se torna em um convite a idolatrar a lei. O Poderoso Chefão também é machista, mas não é construído em torno da masculinidade. Já falei demais sobre isso.

Vou falar de um assunto uma última vez, eu espero.

É muito fácil me fazer de idiota. Acho que nem quem me faz de idiota percebe o quanto é fácil o que faz. As pessoas que me fazem de idiota devem pensar “não, tu tá se fazendo de idiota”, ou “te peguei num péssim dia, né?”. Mas, não. Ordinariamente eu sou idiota, dia-a-dia é fácil me pegar.

Se eu for acompanhar você até sua casa, como faço todos os dias, por exemplo, e hoje você se vira e me pergunta “onde tu vai?” e eu respondo “vou contigo até a tua casa”, e ouço de você “mas eu não te pedi nada”, eu só posso dizer, então “ah, bom, que bobice da minha parte. Tchau.”

Eu não sei se eu vou conseguir expressar claramente o que eu quero: se fosse desprezo, você teria dito antes – meses antes – de alguma maneira que tem o mais absoluto desprezo pela minha companhia. E desprezo é uma das poucas coisas que, por mais que eu já tenha passado por isso, ainda consegue me machucar. Outros tapas eu quase nem sinto.

Uma pessoa que me faça isso, está obviamente simulando desprezo. E faz isso porque alguma coisa lhe incomoda. Se é em mim que algo incomoda, doente é você que andou comigo ese tempo todo. Se não é doença, é falta de companhia melhor: mas se você precisa andar comigo pensando que poderia estar com gente mais legal, você é uma pessoa muito medíocre – não porque anda comigo, mas porque se obriga a andar com quem não queria.

Se você estava de mal com a vida e resolveu descontar em mim, somente prova que não merece a confiança que comecei a lhe dar, e se transforma, para mim, em qualquer pessoa. Em uma pessoa qualquer. Entre você e uma lagartixa, a princípio fico com a lagartixa, que pelo menos come mosquitos e mosquitos me irritam. Pode ser que, caso você e uma lagartixa sejam atropeladas, eu prefira levar você ao hospital – mas por mera solidariedade humana, coisa que qualquer pessoa tem da minha parte sem esforço, ao contrário da lagartixa que é relevante para mim. Eu tenho uma dificuldade incrível, exorbitante para confiar em alguém, e uma facilidade levíssima em decidir que me enganei.

Suponhamos que fosse mesmo desprezo autêntico por mim: maior será sua mediocridade, que anda com pessoas que acha desprezíveis. “Ah, mas eu fui na sua casa, comi sua comida, assisti filmes na sua casa, você me deu presentes de natal: eu te usei e agora estou te jogando fora!” Nesste caso: a) você podia ter me usado melhor, tenho vergonha de ter sido um objeto nas mãos de alguém com uma visão tão curta, b) eu não preciso usar as pessoas para conseguir coisas que o governo me daria, me exigindo apenas o preenchimento de um cadastro. c) se me usar é prova de superioridade sua (quer dizer, se você me usou apenas para se sentir superior), não serei eu quem lhe informarei que somente pessoas inferiores têm necessidade de provar superioridade, e que eu, que nunca fui superior a ninguém, me torno superior a você – não que eu aumente meu status, mas você é quem se rebaixa.

Agora, você conseguiu mesmo me fazer de idiota – o que não requer esforço algum.

E foi com isso justamente que eu vi, maravilhoso, eu aprendi que sou mais forte que você.

O que eu quero dizer é: não é pela sua atitude que lhe acho medíocre. Outras pessoas que fizessem isso comigo me machucariam, mas não você, e você deveria ter percebido isso. Lhe acho medíocre porque somente as pessoas medíocres precisam pisar nos outros, e somente pessoas medíocres não percebem que suas patas não machucam ninguém.

Dor de dente

Nestas horas eu lembro de uma música muito popular quando eu era (ainda mais?) criança: “tem muita gente-te inteligente-te, que não escova o dentinho da frente-te: mas um dia vai comer um pão bem quente-te, e lá se foi o dentinho da frente-te.” Puro terrorismo infantil: você ficará banguela se não escovar o dentinho da frente, só falta uma gargalhada fatal no fim: huahuahuahuah. Sei lá, poderiam “focar” mais em fazer as crianças se preocuparem com a saúde, e se preocuparem com os dentes em função da sua saúde.

Pois-pois: quando eu era menor, escovava pouco meus dentes, e, como não caíam, não me preocupava em escová-los – afinal, a ameaça nunca se cumpria.
Depois de grande e, digamos, responsável pero no mutcho, comecei a me preocupar mais (porém não tanto) com a minha saúde, e isso incluiu escovar os dentes. Mas alguns dos meus dentes já eram paredes velhas cheias de rebocos que volta e meia preciso retocar, e, até eu criar coragem e dinheiro para ir no dentista, haja paracetamol (já estou criando toleância ao remédio) para aguentar.

Enfim, dói.
Se bem que, como diz meu pai: “ah, tá doendo os dentes? é sinal que tem dentes, que bom!”
(Depois não sabem porque eu era uma criança revoltada…hehehe)

Um texto

Uma vez eu li, acho que foi num livro da Clarice Lispector, embora eu não possa ter certeza disso porque muitas coisas boas que eu leio eu sempre tenho a impressão que li em um livro da Clarice Lispector, mas, enfim, era o seguinte o que eu li:

um livro, um texto, uma passagem, enfim, qualquer destas coisas, somente vai ser interessante para a pessoa que lê se isso tiver alguma ressonância com algo dentro desta pessoa. Quer dizer: você só se interessa por um livro se, de alguma maneira, ele já estava dentro de você. Ou se aquela passagem já estava dentro de você, ou texto, ou qualquer coisa assim.
A coisa fica mais interessante quando, neste livro, você descobre algo que não sabia que tinha em você.

Eu, Pessoa Exagerada da Silva, já extendo isso a pessoas, lugares, filmes, coisas assim: por exemplo, se você simpatiza com determinada pessoa, de alguma maneira você já simpatizava com ela antes de conhecê-la. Ou se vocÊ ama alguém, você já a amava antes de amá-la. Ou, quando você vai a uma cidade, e vê uma rua encantadora e se apaixona por ela, você somente descobriu que alguém trouxe para fora algo que você tinha dentro de si.

Tudo bem pensar a literatura como auto-descoberta, se identificar com algum personagem, descobrir que sua vida é um filme de Pedro Almodovar, que você ama como se fosse uma personagem de Shakespeare, ou que seu trabalho é como o de Sísifo. Também acho coisas assim, mas não era bem o que eu queria dizer.
O que eu fico pensando é que literatura é sempre uma questão de dizer as pessoas, de… Por exemplo (casos pessoais….): li uma vez um livro (Clarice Lispector? Lya Luft?) onde a personagem passava o livro inteiro com um mal-estar no estômago, sentindo como se houvesse um animal que morasse lá dentro, como se um grande verme morasse lá; no fim do livro, ela pega um copo de leite, fica de joelhos em cima da cama, na beirada, põe o copo no chão e, atraído pelo leite, sai de dentro dela um enorme verme, e o livro descreve toda a angústia da personagem enquanto ela sente o bicho se movendo dentro dela, vindo pelo esôfago, até chegar à boca e passar por aí todo o seu corpo; então ela deita e olha para a borda da cama, de onde o bicho também olha para ela. E assim acaba o livro. Na época, aquele final (e todo o resto do livro) me descrevia, falava de mim: eu relia e relia o livro, especialmente o final, porque eu era aquela personagem. Não que algum dia eu tenha feito aquilo com o copo de leite, minha barriga teria espaço para abrigar um verme, mas é só gordura mesmo, no meu caso, mas as sensações, a angústia, tudo isso era eu, naquela época.

O que eu estou pensando para escrever tudo isso, o que eu quero dizer? Se você é assistente social, você trabalha ajudando as pessoas em situações de risco, se você é médica, você trata das doenças das pessoas, se você é cantor, você canta para as pessoas. E se você escreve um livro, você também está fazendo algo com um impacto social muito profundo, que vai além de mero entretenimento, de aquisição de conhecimentos, ou de cultura, ou de coisas assim. Você está modificando a vida das pessoas, você está influenciando a vida das pessoas, de alguma maneira.

Assim como andar de mãos dadas, ou conversar, ou liderar uma passeata, escrever também é uma maneira de se relacionar com as pessoas, de repercutir socialmente, digamos. Mas não repercutir socialmente de qualquer maneira, e sim repercutir, sei lá, literariamente.

Por isso me irrita, profundamente, quando você está lendo e vem alguém e diz algo como “já que você não está fazendo nada, me dá uma ajudinha aqui”, ou, quando você vai comprar um livro alguém lhe diz que é dinheiro jogado fora, ou quando você está escrevendo alguma coisa, e mesmo lendo, as pessoas conversam com você como se você estivesse olhando a novela (tipo: você está lendo, aí vem alguém e diz “bá, esfriou, né? Que bom, estava muito quente mesmo, eu detesto o verão, não vejo a hora de chegar o invernoo….”). Mas o que mais me irrita é que literatura, em geral, é vista como uma coisa parasitária, e não como uma coisa socialmente relevante. Sei lá, ler ou escrever é um ato tão humanitário quando salvar as baleias, ou o meio ambiente, ou os esfomeados da África, ou protestar contra a homofobia, ou contra os pedágios, ou qualquer coisa assim.

Eu já nem sei o que eu queria dizer no início, acho que era outra coisa, mas às vezes o que eu escrevo toma rumos próprios. Mas era isso que eu queria dizer.

Post rápido

Computador virou artigo de luxo nessa casa (lei da oferta e da procura: muita gente para pouco computador).

Em um feriadão muito cultural (pfff…), assisti Os Intocáveis, e li Lado B – Histórias de Mulheres.

Os intocáveis é um filme legal, pena que sua “mensagem” seja: para fazer cumprir a lei, vale a pena fugir à lei, ou “tudo pela lei”, ou, ainda “a lei é tudo”. Um bom filme para inspirar, por exemplo, recrutas no exército. Mas vale a pena por ser legal, descontando, é claro, muitas coisas. A cena mais emocionante: um carrinho de bebê cai em uma escadaria, em meio a um tiroteio. Kevin Costner desce correndo atrás do carrinho, e fica sem balas. Quando tudo parece perdido (Kevin Costner está sem balas, e também não conseguirá pegar o carrinho antes que o bebê se espatife todo), Andy Garcia se atira no chão, vai escorregando até o carrinho de bebê e, neste movimento, atira uma arma a Kevin Costner, segura o carrinho de bebê com as pernas e coloca o gângster que ia matar o refém na mira. Tudo isso com um sorrisinho maroto no rosto.

Lado B – Histórias de Mulheres é ótimo: emocionante sem ser piegas, romântico sem ser lugar-comum, doce sem ser enjoativo, erótico sem ser pornozão barato (nada pessoal contra ponozões baratos, e nem a favor: mas qualquer pessoa minimamente letrada escreve um pornozão barato), bonito sem ser esplendoroso, e, o que eu acho mais importante e que faz o livro valer a pena mesmo: a escritora do livro escreve muuuuuuito bem, tem estilo, bom humor, eu queria escrever como ela. Quero ser como ela quando eu crescer. Tá, exagerei nessa. Mas, dentre os livros que eu gostei de ter lido (se bem que ainda não terminei), este é um dos poucos que valeu (ou está valendo, pq não terminei ainda de ler) cada centavo.

Vou parar de escrever antes que eu queira fundar uma religião do livro.

Mas, tirando meus exageros: muito bom o livro.

Arqueologia de um CD

Tudo começou quando Elis Regina gravou “O bêbado e a equilibrista”. Fizeram muitos discos e, anos depois, gravaram em CD. Algum tempo depois, alguém copiou essa música para o seu computador, e, tempos mais tarde, a mesma ou outra pessoa subiu a música para a Internet (segundo minha ex-professora, “Internet” é com maiúsculo porquê existe só uma Internet no mundo. Que coisa, não?).
Muuuito tempo depois, eu copiei a música da Internet, e ela ficou gravada no computador. Passaram-se mais alguns anos, eu economizei algum dinheiro e, há poucos dias, comprei um gravador de CD para desafogar um pouco o computador. Copiei várias músicas para um CD da Faber Castell, (incluindo O bêbado e a Equilibirsta) e deletei-as do computador.
Agora, neste momento, procuro o CD da Faber Castell onde está gravada O bêbado e a equilibrista e não encontro, e estou morrendo de vontade de ouvir a música.

Eu não sei se esta história serve como (mais) um exemplo na minha vida para que eu comece a me organizar. Eu não sei se esta história serve como metáfora para que eu me dê conta de que qualquer história começa em um ponto arbitrariamente convencionado e termina em outro ponto na mesma condição (por exemplo:eu poderia ter começado esta arqueologia do meu CD contando dos primórdios da gravação no mundo, ou contando sobre o início da música brasileira – assuntos, aliás, que eu não domino – e terminado contando sobre como eu decidi dar uma pausa na busca e escrever um pouco). Eu não sei se tudo isso não faz parte de um plano maior para que encontremos Cristo, ou para que os extraterrestres dominem o cosmos. Eu não sei.

Só sei que às vezes me surgem essas estranhas obsessões, como esta de querer ouvir esta música agora, e eu revirarei a casa inteira, deixando-a mais bagunçada ainda (e tornando mais provável, assim, que outras coisas se percam), até encontrar este CD.

Eu poderia, alternativamente, intitular este post como “As bagunças e as coisas”, que falaria sobre as metáforas que este episódio encerra (incluindo uma interpretação minha do quadro Las Meninas) mas, assim como este que digitei, não seria um texto tão elegante quanto o de Foucault. Eu poderia também cantar a música, e não soaria tão bem quanto na voz de Elis, a Regina.

Fim do post

Descrevendo não fica tão bom,

… talvez fique até horrível, mas mesmo assim vou dizer como eu faria o clipe para a música “O bêbado e a equilibrista” cantada por Elis, a Regina.

No começo, tem aquela introdução, sei lá que instrumento deve ser, eu sei que não é uma gaita de foles, mas é a única coisa que vem à minha mente. Bom, durante aquela introdução, aparece uma menina, estatura mediana, cabelos pretos, lisos e curtos, estilo Amélie Poulan (não deve estar escrito corretamente) mas em formato de capacete, boca bem vermelha, jaqueta de brim, calça idem, camiseta preta, tênis branco, e uma mochila roxa com preta. Ela está dentro de um ônibus, o queixo escorado na mão e a cabeça bem próxima à janela, vendo a paisagem. Ela desce do ônibus e começa “Caía a tarde feito…”, a parada fica embaixo de um viaduto. Ela vê um bêbado trajando luto, sorri para ele, e recebe, de volta, uma reverência. Ela atravessa uma avenida, por baixo do viaduto, e aparece o bêbado fazendo (ir)reverências mil, em primeiro plano, e a menina de costas, lá embaixo, entrando em uma rua transversal ao viaduto.
Ela dobra uma esquina e vai andando pela cidade, sem prestar a atenção em nada de especial, e nos meio-fios, em cima dos telhados, nas antenas de TV, em cima dos edifícios, nos fios de luz, equilibristas vestidas de bailarina dançam nas corda-bambas, de sombrinha.
Quando chega na parte do “Mas sei, que um amor assim, pungente, não há de ser…”, a menina senta na soleira de uma porta, deixa a mochila entre as pernas, e observa as equilibristas que passam, com um sorriso pensativo.
Na parte do “Azar, a esperança equilibrista…”, a menina levanta-se e começa a caminhar, no meio da rua, em cima daqueles tracejados brancos pintados em cima do asfalto.
Quando começa a música instrumental igual à do início da canção, o bêbado com chapéu-côco faz uma reverência a uma equilibrista que passa equilibrando-se nas bordas do viaduto, e ela devolve a reverência.
Depois disso, até morrer o som, uma equilibirsta equilibra-se em cima de um dos trilhos do trem.

Post roubado

Elas vão ter que ser responsáveis. Mas já não conhecerão a realidade do aborto clandestino. Elas poderão um dia querer optar por uma IVG. Mas o caso não será resolvido entre amigas da mesma idade e muitos diz-que-disse, nem acabarão nas mãos de uma “esperta”. Foi também por elas, e pelo Portugal futuro que vão conhecer, que votei SIM.
Hoje, elas reconfortam-se nos nossos braços. Amanhã, queremos que também o façam. Mas podemos tão pouco por aqueles que amamos. Sinto que ontem preparamos esse amanhã. E hoje, e todos os dias, de maneira diferente. Mas podemos tão pouco.

(Roubado descaradamete daqui, sem autorização,
pedido, prévio aviso, ou o menor escrúpulo.
)

Enquanto isso, na ex-colônia…

Frases perdidas.

Tédio. Velho tédio. “Tédio, tédio, mano velho, falta um tanto ainda, eu sei…”. Mau humor. Calor, calor insuportável. Abafamento. Nuvens de chuva secas. Sol quente. Ar imóvel. Sono. Despertar com gritos. Irritação. Insuportabilidade. A incrível capacidade de não suportar nada. A incrível capacidade que tudo tem de ser irritante. Raiva de nada=raiva de tudo. Não existe: silêncio, privacidade, ânimo. Dor de cabeça. Latejar. À beira de um ataque de nervos. A imagem mais sedutora do momento é a de qualquer coisa sendo jogada em qualquer direção e espatifando-se contra o que quer que encontre no caminho. O prazer de quebrar alguma coisa. O prazer de jogar longe. Um dia de Fúria, um bom filme. Dor de barriga. Porquê as pessoas emitem sons? Todas as pessoas poderiam permanecer em silêncio. O Comando Maluco deveria ser fuzilado por um pelotão de fuzilamento. Odeio mulheres gostosas de televisão. Odeio qualquer coisa que passe na televisão. Nos finais de semana, a televisão deveria passar filmes mudos em preto e branco. Eu gosto de alguns filmes preto e branco. Ninguém entende a piada que vi em um filme preto e branco: Hitler fica um minuto inteiro falando coisas em alemão e a tradução é “sim”; em seguida, diz apenas uma palavra e a tradução é um parágrafo enorme cuja legenda ocupa metade da tela. A piada é sobre peculiaridades da língua alemã e não sobre Hitler. Eu não sei contar piadas. Nem histórias. Quem conta bem histórias tem um instinto publicitário e propagandístico muito bom. Eu não sei tornar nada interessante. Ao meu lado, a descida de uma nave espacial na Terra daria sono. Talvez seja esse o meu dom: tornar tudo chato. Eu sou uma coisa anti-interesse. Contrata-se pessoas para tornar um produto chato e sem graça em um objeto de desejo de toda a população; a mim me contratariam para que as pessoas se convençam de que não vale a pena gastar tempo, dinheiro e atenção com alguma coisa. O corpo humano deveria ser proibido de suar. Pessoas que suam como eu deveriam ser presas. Agora sei bem o que significa “um dia modorrento”, nunca entendi bem o que era. Até o calor obssessivo pode ensinar alguma coisa. E, depois que ensinou, poderia ir embora. Eu não aguento mais. Por sorte eu não tenho o poder de destruir as coisas com a força do pensamento, senão tudo o que eu enxergo no momento teria explodido. Todas as coisas continuam absolutamente iguais. Absurdamente iguais. Milimetricamente iguais. Dói ranger os dentes.

Desejar o desejo?

Vontade de escrever. Sobre o quê? Apenas vontade de escrever.
Mais ou menos como vontade de ler. Às vezes você quer ler determinado livro, determinado site, determinadas idéias. Às vezes, qualquer amontoado de letras que faça algum sentido serve.

São estranhas as necessidades. Começam pelas básicas: comer, fazer amor, tomar água, ir no banheiro, esqueci alguma? Você pode ter ou não ter o que quer que seja você quer essas coisas. Claro, sempre há controvérsias.
Conheço pessoas que dizem não querer fazer amor, o que é diferente de não fazer, pois uma pessoa pode querer e não fazer pelos mais diversos motivos. Também não estou pensando em quem não quer, mas somente em determinado momento, ou com determinada pessoa. Mas a maioria dessas pessoas se masturba – dentre as pessoas que conheci que me disseram que não querem fazer amor, todas com as quais tive mais intimidade disseram que se masturbam. E agora: coloco masturbação dentro de “fazer amor”, e continuo dizendo que todas as pessoas querem fazer amor, ou punheta é punheta e realmente existem pessoas que não querem transar?
Existem pessoas que não querem comer: anoréxicos e o pessoal que quer viver de luz. Mas uma pessoa anoréxia, não é que ela não queira comer. Ela quer ser esqueleticamente magra. O problema de uma pessoa anoréxia não é com a comida, não é um transtorno alimentar, e sim visual – a pessoa quer ver-se magra, e este desejo sobrepõe o de comer – sobrepõe, mas não anula ou diminui. Um desejo nunca é anulado, somente sobreposto por outro desejo. Quem deseja viver de luz também não é alguém que não queira comer. Destesto mas assisto Jô Soares, e lá que vi uma entrevista de uma mulher que dizia viver de luz. Ela se alimenta da luz do sol (e recomenda que ninguém faça isso em casa, pois somente os treinados pelo grupo conseguem olhar diretamente para o sol sem queimar a retina). Come. Come luz.

Necessidades básicas.

Mas o que é, ou em que consiste uma necessidade, um desejo?

Desejar o nada é niilismo – mas é possível não desejar? São duas coisas diferentes: desejar o nada, desejar o não-desejo, desdesejar. Pode ser que uma pessoa acorde um dia sem vontade de nada, mas não ter vontade de nada não é nesse caso, a realização de um desejo. É como uma gripe: passa. Quem deseja o nada, deseja não desejar, incomoda-se com o desejo. Destesta desejar. E quem deseja o nada, afinal, não deseja alguma coisa – ainda que nada? Qual será o contrário de desejar?
Pois quem deseja não desejar ainda deseja. Seria preciso que uma pessoa dissesse um não incondicional: não a tudo. Não seria o caso de a pessoa desejar o não-desejo: mas sim, de (digamos) instintivamente não desejar. Tudo deve perder a importância para esta pessoa. Mas não de maneira calculada, e sim naturalmente. Se trata de uma indiferença absoluta, de dizer um “não” absoluto. Não é desejar o vazio, e sim não reter coisa alguma, não querer.

***

Well, well, well: escrevi. Legal.