Estapafurdices

Assim como no Brasil, na Espanha a justiça pode ser muito estapafúrdia.

Um juiz espanhol arquivou um processo de violência psicológica contra um marido porque achou inadmissível que uma mulher com a formação intelectual que esta tinha, tenha suportado por tantos anos esse tipo de violência sem denunciá-la. Eu não sei se eu expliquei bem a idéia do juiz (porque nem eu mesmo entendi muito bem a frase que escrevi quando fui reler): se você é uma mulher e tem uma formação intelectual avançada (tipo doutorado) ou, como diz minha avó, é uma mulher muito estudada, é impossível que você suporte qualquer tipo de violência sem uma reação legal; e se você, uma mulher pós-pós-graduada, demorar muito para ter essa reação, você se fudeu e vai ter que aguentar isso pelo resto da vida.





Ao contrário do Brasil, na Espanha esse tipo de notícias têm destaque e, mais importante (ou pelo menos mais eficiente), esse tipo de fato causa reações realmente eficazes.



A Espanha, tanto quanto o Brasil, é um país bastante machista. Mas lá, pelo que percebi, existe uma movimentação muito maior contra esse tipo de violência (quem vê pensa que eu conheço a Espanha como a palma da minha mão: mas me baseio somente pelo que leio na Internet).





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No ar puro de bosta, gelado.

Várias vezes quando eu ando pela rua eu “capto” fragmentos de conversas alheias. Esses fragmentos, às vezes, dão margem à minha imaginação supor muitas coisas. São frases do tipo “…e aí eu disse ‘Não mesmo! Tá pensando que eu sou o quê?…” ou “…quatro vezes na mesma noite, incrível!…”. Claro que pode ser qualquer coisa, e eu elaboro umas conco versões para cada fragmento, quando eu estou com paciência para isso.



Mas hoje de manhã, indo para o trabalho, eu ouvi o fragmento mais interessante até agora: “No ar puro de bosta, gelado??”



Grande parte da graça está na maneira, na entonação que a mulher usou. Não sei se vou conseguir descrever, mas é aquele tipo de entonação de quando se responde na mesma hora, com indignação, com um bem-humorado sarcasmo apesar de todo o mau-humor. Ela estava falando isso para um homem ao lado dela.



Às sete da manhã, à caminho do trabalho, eu não tinha muito o que fazer nas próximas quadras, e fiquei imaginando do que se tratava.



A primeira coisa que pensei foi que tratava-se de um casal. Ele convidando ela,  talvez, para acampar na Serra, passar a noite sob as estrelas, tudo muito romântico, todo aquele ar puro e ela respondendo “No ar puro de bosta, gelado??”. Talvez até fosse em alguma fazenda o destino proposto, e ela estivesse pensando nas vaquinhas, ao pensar no ar puro com cheiro de bosta de vaquinha, de cavalo, de boi, de qualquer bicho fazendário. Além de fedorento, gelado.



Ou, então, poderia ser passar alguns dias na sogra dela, que mora na serra (talvez até em uma fazenda), e ela, para não complicar, não arranjar briga àquela hora da manhã, não disse que não queria ver aquela velha impertinente de bosta, e sim que não queria saber daquele ar puro de bosta, e gelado. A “bosta” no meio da frase foi um ato falho.



Talvez fossem irmãos, e não casados. E ele, espírito aventureiro, estivesse cantando a irmã para ir junto. Quem sabe ela tivesse carro, a única da galera a ter um. E ele tentando argumentar, tornar a aventura interessante, falando dos malefícios da cidade, da poluição, e ela replicando com “Naquele ar puro de bosta, gelado??”. Talvez ela – independente de ser irmã ou esposa – tenha vindo do nordeste, e não goste desse frio do sul, desse “ar puro de bosta, gelado” que é uma das grandes contribuições gaúchas ao Brasil – além das piadas sobre gays para o Casseta e Planeta.



Pode ser que fossem dois amigos combinando o fim de semana. Ela acorda sempre de mau-humor (e nesse caso me solidarizo com ela), ou estava com TPM – ou ambas as coisas – e, às sete da manhã, indo para o trabalho em uma segunda-feira, ao ouvir uma proposta de programa para domingo dessas, largou um “No ar puro de bosta, gelado??” para descrever a sensação mais imediata que lhe ocorria diante da proposta.



Eu não ouvi o que veio antes dessa conversa, nem o que veio depois – até porque fiquei rindo e me segurando para não rir alto. Mas deixo registrado meu agradecimento à dupla de pessoas desconhecidas, que divertiu um pouco meu começo de semana.





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Poema sobre o meu blog

Cecília Meireles nem sonhava com Internet, muito menos com blogs (eu imagino). Mas ela escreveu um poema não muito exato, mas muito adequado ao meu blog. Viva a e-Cecília



Discurso

E aqui estou, cantando.



Um poeta é sempre irmão do vento e da água:

deixa seu ritmo por onde passa.



Venho de longe e vou para longe:

mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho

e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes andaram.



Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,

mas houve sempre muitas nuvens.

E suicidaram-se os operários de Babel.



Pois aqui estou, cantando.



Se eu nem sei onde estou,

como posso esperar que algum ouvido me escute?



Ah! se eu nem sei quem sou,

como posso esperar que venha alguém gostar de mim?



Cecília Meireles





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Poema sobre mim

A Cecília Meireles consegue falar de mim não de uma maneira completa – mas de uma maneira exata. (Coisas que podem ser mudadas, mas que até aqui foram assim)



Timidez     



Basta-me um pequeno gesto,

feito de longe e de leve,

para que venhas comigo

e eu para sempre te leve…

– mas só esse eu não farei.



Uma palavra caída

das montanhas dos instantes

desmancha todos os mares

e une as terras distantes…

– palavras que não direi.



Para que tu me adivinhes,

entre os ventos taciturnos,

apago meus pensamentos,

ponhos vestidos noturnos,

– que amargamente inventei.



E, enquanto não me descobres,

os mundos vão nevegando

nos ares certos do tempo

até não se sabe quando…

– e um dia me acabarei.



Cecília Meireles




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passado

Uma dobra em uma coisa plana acontece quando um ponto (ou muitos pontos) dessa coisa plana se eleva e arrasta junto de si o entorno.



Às vezes eu tenho impressão que o passado funciona assim. Um evento, ou uma pessoa do passado reaparece, e não é o tempo que voltou, nem eu que voltei do passado. O tempo fez uma dobra.



Isso porque, algumas vezes, quando uma pessoa ou um evento do passado reaparece, traz consigo, pelo menos no começo, todo aquele passado, ou parte do passado.



Mas o tempo não volta. Pessoas e eventos, sim. O tempo, não.



Pessoas e eventos que voltam podem desencadear outros eventos que também são reaparições, vem tudo junto porque aquele ponto da superfície plana trouxe junto seu entorno.



Isso tanto pode ser definido como um reencontro feliz ou, então, como um trauma. E depende da memória.



Toda reaparição depende da memória (se eu não me lembrasse de uma pessoa ou coisa, não seria uma reaparição). Quer dizer que o passado é sempre imaginação.



Isso não significa que uma cicatriz é imaginação, por exemplo. Uma cicatriz é uma coisa presente, e não passado.



Mas a lembrança é sempre imaginação. E imaginação sempre depende de criação.





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Gostar de alguém

Existem duas maneiras de se gostar de alguém: gostando disso e não gostando disso.



Me explico: você pode gostar de alguém, e isso lhe faz muito bem, você gosta de gostar da pessoa. É, de certa maneira, um pouco libertador gostar dessa pessoa, não porque ela seja o messias, mas porque junto dela o ar fica mais leve, é mais fácil de sorrir, de se interessar por outras coisas.

E você pode gostar de alguém sem gostar disso. É um gostar um pouco sombrio, um gosto genuíno, mas que se expressa sempre calculadamente. É um pouco nocivo, na medida em que é um bem que faz mal, ou um mal que faz bem, dependendo de como vai a relação.



Nenhuma dessas duas maneiras é melhor do que a outra. São duas maneiras. Claro que existe o gosto, e eu tenho minha preferência por uma ou outra – poderia, inclusiva, gostar das duas, ser indiferente, etc.



E isso também não se confunde com o “perigo” que a pessoa representa:



Por exemplo, as duas personagens principais de Xena (e, para entender o exemplo, pouco importa se você conhece esse seriado ou não): Gabrielle gosta de Xena, mas tem medo de um certo lado sombrio da última. Isso não significa que ela se enquadre nas pessoas que não gostam de gostar daquilo que gostam; sei lá se a personagem gosta ou não do seu gosto pela Xena, e eu prefiro supor que sim – mas é suposição minha, e não parte da história.



Dedos cruzados.





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Flores in the head

Eu me torno em uma pessoa muito chata quando me apaixono. Espero que não para a pessoa por quem me apaixono.



Me torno uma pessoa chata porque daí só fico falndo disso.



Eu não sou uma pessoa que se possa dizer experiente nesse terreno de manter um relacionamento amoroso por mais tempo do que a validade de um leite longa-vida. Aliás, só uma vez tive uma oportunidade concreta, mas eu tinha 14 anos e naquela época larguei tudo para, veja só, servir ao senhor.



Depois disso (de ir nessa de servir ao senhor), conversa daqui, coisas dali, beijo de lá, mas nada que durasse, como eu já disse, mais tempo do que um leite longa-vida.



É que as pessoas têm, eu acho, a mania de dissociar amizade e amor, e ninguém tem obrigação de ser diferente disso. Quer dizer, todo mundo ama seus amigos, mas – pelo menos no caso das pessoas que conheci – ninguém tem amizade por quem ama.



As pessoas dissociam muito sexo de amizade. E não estou falando de fazer sexo com amigos (nada a dizer contra e nem a favor, é que não é esta a questão). Você não pode dormir com a pessoa que é a sua melhor amiga (estou falando, espero que tenha dado para notar, de mim – conheço casais que funcionam assim e, claro, não participo de nenhum deles). Você pode até transar com ela, mas não namorar (mais um parêntesis, mas só para fazer uma observação: me sinto uma peça de museu falando “namorar”).



E isso é que fode (no sentido figurado) minha vida amorosa. E eu também não sou flor que se cheire: em certas ocasiões eu demoro para confiar. Aliás, na maioria.



Mas como, enfim, o mundo dá voltas, lá vou eu de novo me apaixonar.







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Amor, ou Condição necessária e condição suficiente

Uma condição (“condição” no sentido de “pré-requisito”) necessária é uma condição sem a qual alguma coisa não acontece de maneira nenhuma. Mas nem sempre esta condição necessária é suficiente: pode ser que seja preciso algo além da condição necessária, sem que se dispense a última.



Por exemplo: os ingredientes são a condição necessária para que você faça um bolo, mas não é condição suficiente, porque sem um forninho, você pode ter todos os ingredientes que não fará o bolo, por isso, o forninho é a condição suficiente. É só um exemplo, e não serve de regra.



Uma condição necessária pode ou não ser suficiente. Mas uma condição suficiente sempre é necessária.

Dito de outra maneira: toda condição suficiente é necessária, mas nem toda condição necessária é suficiente. Isso sim serve de regra.



Me apaixonar por uma pessoa é uma condição necessária para que eu a ame. Mas não é uma condição suficiente. A amizade é a condição suficiente.



Eu posso me apaixonar perdidamente por uma pessoa, mas sem amizade, eu pelo menos acabo sofrendo, porque não rola.



Quando eu me apaixono, eu procuro a amizade dessa pessoa. Claro que nem todas as pessoas de quem eu procuro amizade são pessoas por quem me apaixonei (embora a amizade também contenha paixão, mas é aquela paixão própria da amizade que é diferente do amor da sua vida). Mas de todas as pessoas por quem eu me apaixonei eu procurei a amizade. E ainda faço isso.



Às vezes eu acabo ficando só com a amizade. O que, para mim, é o suficiente. Não considero uma amizade uma perda.



Eu espero que, desta vez, haja amizade nessa paixão. Que haja também alguma paixão recíproca. E, que se não houver uma paixão recíproca, que pelo menos haja amizade. Minha vida amorosa não vai mudar nada nesse último caso, mas uma amizade é sempre uma amizade, algo do qual eu gosto muito.



Mas tomara que a coisa toda vire, quem sabe, amor.





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Xena

Lhe acorrentaram as mãos às suas costas e lhe atiraram no fundo de um calabouço. Lá fora, sua alma gêmea está em uma forca, esperando apenas uma ordem para ser morta. Muitos metros acima de você, há uma grade no teto, onde equilibra-se precariamente o seu disco super afiado. À sua frente, um toco de alguma coisa ao alcance da sua boca. A solução mais viável e mais impossível seria pegar o toco com a boca, atirá-lo metros acima (utilizando a boca) e acertar seu disco, com o cuidado de fazê-lo cair com o fio virado de maneira que arrebente a corrente em volta das suas mãos, para que você possa atirá-lo a muitos metros de distância, acertando a corda da sua amiga prestes a morrer enforcada. Você conseguiria?



A Xena consegue.



E depois ficam cultuando o Chuck Norris!







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Título

Quando eu resolvi fazer esse blog, era para fazer uma geografia de mim. “Geografia” porque eu não estou escrevendo minha história, e sim descrevendo o meu lugar. Não é, também, uma descrição “científica”, da mesma maneira que, se eu estivesse escrevendo minha história, não seria uma biografia.



Li, eu acho, muito de alguns autores franceses contemporâneos e isso, somado ao fato de eu viver no tempo em que vivo – quer dizer, hoje em dia – fez e ainda faz com que eu coloque muito em questão o “eu”, a personalidade (não quero dizer “personalidade” como quem fala do caráter de alguém).



Não que você precise colocar essas coisas em questão quando lê essa gente, mas eu coloco.



E, sei lá, mas é difícil descrever um lugar. Eu não sei se eu ocupo um espaço muito amplo, ou se ocupo muitos lugares na minha vida.



“Lugar” eu quero dizer coisas como minhas opiniões, meus desejos, meus traumas, coisas assim. Esse tipo de coisas colocam a pessoa em determinado lugar, um lugar ideológico, um lugar político, um lugar educacional, um lugar sexual, um espaço onde me movimento.



Esse espaço é um espaço que inclui também o espaço físico, mas vai além disso: tenho um espaço conceitual, um espaço afetivo, um espaço emocional, um espaço estético, etc. E é esse (ou esses) espaço que me interessa nesse blog.



***



Eu tinha idéia de escrever sobre outra coisa, mas essa coisa me fugiu, aí esse post fica com esse textinho mesmo.





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Enlatados

Sem poder alugar DVD´s, com saudade de séries que eu gosto e devido a preguiça de fazer uma lista de filmes (adoro listas), vou listar as séries mais legais que acompanho ou que acompanhei:



Gilmore Girls

Conta a história de uma mãe e sua filha (ambas chamam-se Lorelai Gilmore, mas a filha é mais conhecida pelo apelido, Rory) em uma cidadezinha chamada Star Hollows. A relação entre as duas é mais de amizade do que de mãe e filha. Lorelai era, na adolescência, algo como uma junkie, embora fosse filha de um rico e respeitado casal em uma outra cidade. E Star Hollows é uma cidadezinha daquele tipo em que todas as pessoas sabem da vida de todas.



Aliás: Codinome Perigo

Conta a história de Sidney Bristow, que trabalha como agente do FBI. A história é cheia de reviravoltas: gente morre, amigos revelam-se como inimigos e vice-versa, e praticamente qualquer coisa na vida de Sidney pode revelar-se uma farsa.



Xena – A Princesa Guerreira

Esse eu só consigo acompanhar quando chego em casa a tempo, e faz pouco tempo que eu descobri que a Record passa (antes dava no SBT). Não sei bem qual é a história da Xena, mas ela era uma guerreia malvadona, e aí se arrepende do mal e vira uma defensora dos fracos e oprimidos. Houve uma época em que as pessoas ficavam debatendo se elas eram ou não lésbicas, e, independente de qualquer resultado do debate, todas as lésbicas do planeta adoravam a série (eu não conheço todas as lésbicas do planeta, mas gosto de exagerar nas minhas colocações). Como a série se passa na Grécia Antiga, quando a sexualidade não era uma coisa assim tão delineada (pois hoje uma pessoa pode ser homo, hetero, bi, trans pansexual – basta marcar um X na opção que mais lhe agrade), na minha opinião, elas eram sim um casal, mas de uma maneira inconcebível hoje em dia.



Eu, a Patroa e as Crianças

É a história de um casal criando seus filhos. Nada demais, mas é muito engraçado (desde que você faça certas concessões em nome da vontade de rir).



Blossom

Era (porque não passa mais) a história de uma garota às voltas com a sua vida, seu pai solteiro pianista, um irmão ex-drogadito, e outro sem cérebro. Tinha a sua amiga Six, que hoje em dia seria classificada como TDAH, meia dúzia de namorados e os problemas típicos de uma adolescente norte-americana da época.



Alf, o ÉTeimoso

Alf era um seriado muito sem noção. Um ET foi parar em uma família terrestre, simples assim. Mas o Alf era muito engraçado, não conhecia os costumes terrestres, precisava manter-se oculto das outras pessoas, e veio de um planeta onde o alimento mais popular era gato.



Claro que todas essas séries tem seus defeitos: a Rory, de Gilmore Girls, é uma chatinha, a coisa mais divertida da série é a Lorelai Gilmore; Xena às vezes é forçado demais (quando ela vira a cabeça, às vezes, dá aquele barulinho de “vupt!”, o que me faz lembrar filmes de ninjas); o defeito de Aliás é, ao mesmo tempo, sua maior qualidade: o estilo clubber, ou techno (ou sei lá) do seriado, que às vezes fica muito forçado (já vi críticas que diziam que o problema do seriado são as reviravoltas excessivas, mas, para mim, essa é uma das qualidades do seriadinho); Alf e Blossom faz muito tempo que não vejo, só me lembro que a Blossom era certinha demais, sempre estava às voltas entre fazer o bem e o mal – o que a torna muito parecida com a Rory de Gilmore Girls, embora esta última não seja tãããão certinha quanto a outra, embora seja mais chata.



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