Imprensa oferece ajuda à ofensiva política do Vaticano

A mídia brasileira, talvez sem perceber,
está ajudando o Vaticano a acionar uma ofensiva sem precedentes. A
discussão sobre o aborto é apenas um pretexto: a visita do papa Bento
XVI foi montada para exibir a ancestral capacidade mobilizadora da
Igreja depois de uma longa letargia ante o avanço das crenças
protestantes e da descrença racionalista.

O espetáculo da fé iniciado ontem a partir de São Paulo para todo o
país é parte de um espetáculo político, minuciosamente planejado.

É legítimo: o Vaticano é um Estado, tem interesses ideológicos e
interesses políticos. A mídia é que não deveria ignorá-los. Ou, pelo
menos, não deveria esquecer que as comoventes exibições de devoção
religiosa são a face visível de um projeto de poder que em determinados
momentos deixa de lado a espiritualidade para recorrer a claras ameaças
aos políticos que favorecerem a legalização do aborto.

Essas coisas escapam à mídia eletrônica que há muito abdicou de
qualquer exercício crítico. O que chama a atenção é que a mídia
impressa, sempre mais comprometida com o debate e a autonomia, parece
seguir na mesma linha. Pelo menos até quarta-feira (9/5).

Observatório da Imprensa





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Para dias frios: Lenha

Eu não sei dizer
o que quer dizer
o que vou dizer
eu amo você
mas não sei o que
isso quer dizer
eu não sei por que
eu teimo em dizer
que amo você
se eu não sei dizer
o que quer dizer
o que vou dizer
se eu digo pare
você não repare
no que possa parecer
se eu digo siga
o que quer que eu diga
você não vai entender
mas se eu digo venha
você traz a lenha
pro meu fogo acender

Um pouquinho de desgraça

Wal Mart, discriminação e perseguições: “um dos melhores lugares para se trabalhar.



A gigantesca rede Wal Mart foi denunciada internacionalmente por suas práticas anti-sindicais e discriminatórias pela organização Human Rights Watch. Na Argentina, denuncia-se que os demitidos saem conduzidos pelas mãos de ex-militares que trabalham em cargos de segurança, como Alfredo Saint Jean. Lavaca conversou com um homem-recorde: duas vezes demitido. O cliente que parecia Bin Láden, o doutrinamento, a espionagem e outras táticas em oferta.



O restante desse texto você pode ler aqui, em espanhol.





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Dê sua cara à tapa pelas mulheres

A Intermón Oxfam é formada por um monte de pessoas que luta com e para populações desafovrecidas, com o objetivo de erradicar a injustiça e a pobreza, para que todas as pessoas possam exercer plenamente seus direitos e desfrutar de uma vida digna.



Esse pessoal fomenta projetos de desenvolvimento, faz ações humanitárias, busca garantias de condições de trabalho dignas, e realiza campanhas para denunciar, mobilizar e educar, para que a sociedade tome consciência, atue com responsabilidade e faça pressão.



É difícil não soar um pouco formal quando eu elogio uma coisa dessas, ainda mais quando eu copio essas informações do site da instituição, e quando eu fico me controlando para não fazer piadas (sem que isso diminua o valor da IO, é que eu encontro piadas em quase tudo).



Uma dessas campanhas, que é o motivo desse post, chama-se “Dá a tua cara pelas mulheres“, e consiste em enviar uma mensagem de apoio à campanha. A cada mensagem de apoio, uma tal de Infojobs.net doará 1 Euro (meu teclado é pré-União Européia e não tem o sinalzinho de Euro) para o trabalho realizado pela ONG em prol de mulheres desfavorecidas. A idéia da campanha é que, junto com a mensagem de apoio, você coloque uma foto sua, o que justifica o título “Dá a tua cara…”; mas se você, como eu, não tem uma foto sua no computador, você pode escolher uma imagem com a qual você se identifique mais.



Dois possíveis problemas no site, apenas: é um pouco pesado, e é em espanhol (porque nem todo mundo tem, no trabalho, um computador mais decente que o de casa, e nem todo mundo entende espanhol).



Se você não viu o link para a campanha ali em cima, aqui vai ele de novo:



http://www.intermonoxfam.org/minisites/esperanza/flash/index.html



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Divagar divagarinho…

Eu tenho algo para dizer, mas não tenho palavras. Ou talvez tenha as palavras, mas nada para dizer. Não sei.



Segundo Schoppenhauer, lido por mim num daqueles livrinhos de dérreal da L&PM Pocket chamado A Arte de Escrever (que não é propriamente um livro do alemão, e sim uma coletânea de textos sobre a escrita), enfim, segundo o autor, a primeira condição para se escrever algo interessante e não-entediante para o público é ter o que escrever. Se você tem vontade de escrever apenas, e não tem o que dizer, apenas fará com que as pessoas percam seu tempo.



Eu não sei. É claro que você precisa ter algo para dizer para escrever. Mas como é possível não se ter nada a dizer?



Não é o caso de, por exemplo, um casal apaixonado à beira de um lago sob a luz da lua em uma agradável noite de verão, que pode passar horas a fio sem falar nada. Nesse caso, as pessoas não precisam dizer o que têm para dizer, ou dizem de outra maneira, ou o que teria para ser dito já está ali (o romance ou a beleza do momento, a tranquilidade, etc), ou não querem dizer nada e aproveitar outra coisa. Não se trata de não ter o que dizer.



Uma criança, um bebê, provavelmente também têm o que dizer, só que às vezes não têm meios de se fazerem compreender – pois crianças e bebês dizem, seja rindo ou chorando. Animais também. Não estou dizendo que uma criança é um esquilo.



Uma pessoa pode ter, para dizer, algo que já foi dito antes. Ou pode ter um adendo, uma observação, pra dizer.



Eu também não estou querendo salvar os assuntos inssossos. Já li livros muito toscos, já conversei conversas idiotas, e já falei, também, apenas por falar.



Dizer alguma coisa, às vezes, pode ser só dizer, alguém que ouça, e que talvez diga algo. Existem até as pessoas que falam sozinhas.



Aí chegamos no ponto deste blog. É praticamente mais um bloco de notas do que um blog. Porque, assim como as coisas que eu anoto, só eu leio. Pode ser que alguém leia minhas anotações, mas é só uma possibilidade que praticamente não interfere no que é escrito.



Eu acho que, sem querer, inventei um novo conceito na Internet: o blogue de notas. Um blog pode virar muitas coisas: espaço de informação, um meio de se comunicar com pessoas que você conhece, um diário. Eu faço um blogue de notas.



Bom, talvez não seja nenhum novo conceito internético. Tudo bem. Mas com certeza isso é um blogue de notas.





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Wal-Mart

Há muitos anos, a pena para alguns crimes era alguma coisa pública, como apanhar ou simplesmente uma prisão exposta. As coisas mudaram, e hoje os presídios, bem como os criminosos (pelo menos no Brasil) são certamente bem mais cruéis do que levar chicotadas em público – o que também é suficientemente cruel.



Nos EUA, um juiz condenou duas pessoas a permanecerem algumas horas em frente a uma unidade dos supermercados Wal-Mart, seguindo aquela lógica de que não é possível tratar um ladrão de galinhas como um perigoso criminoso e prender como se a vida das pessoas estivesse ameaçada por quem rouba um pacotinho de biscoitos ou um pote de margarina no mercado.



Eu só espero que a maioria das pessoas não comece a aceitar que não é algo cruel (se bem que bem menos cruel do que um presídio) obrigar alguém a expor-se dessa maneira.





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Paranóia

Eu não poderia ser diplomata porque o meu conhecimento de política mundial é mais escasso do que as reservas de água doce no planeta.



Mesmo assim, do pouco que sei, estou roendo minhas unhas com as eleições francesas: Sarkozy X Royal (a segunda, por sinal, tem um nome que achei muito bonito: Ségolene)



Segundo todas as pesquisas antes da eleição, e as sondagens logo após o final, Sarkozy (que eu chamava de Sarótzki até algumas semanas atrás, até me dar conta de que eu embaralhava as letras e de que se pronuncia Sarcozí) será o presidente da França.



Eu não moro na França; não tenho parentes na França; não tenho imóveis, negócios nem terras na França (e nem no Brasil, aliás); mas me preocupo.



A Europa, acho, possui uma certa liderança mundial. Tudo bem, quem manda são os EUA, que têm dinheiro para sustentar essa posição. Até a China deve mandar mais do que a Europa. Mas nessas coisas de tendências, de tomar atitudes antes do restante do mundo, geralmente a Europa é protagonista (basta ver que lá, a maconha é liberada, em pequenas quantidades, o aborto é permitido até em Portugal – que é quase um Terceiro Mundo europeu – e as instituições não perguntam de que orientação sexual é o seu casamento, caso você queira casar; e, veja bem, não estou dizendo nem que concordo nem que discordo dessas posturas, o que está em questão é que lá pelo menos tentam permitir essas coisas polêmicas para ver no que dá).



Mas o Sarkozy é um cara que pensa que tendências ao suicídio e à ladroagem são coisas genéticas; que as pessoas devem trabalhar muito para ganhar mais ou menos bem; que a imigração é um câncer; que o Estado não deve fazer coisas como Previdência Social, assistencialismo e outras coisas que acostumam mal a população; etc.



Pode ser que a coisa pare por aí: testes biológicos em recém-nascidos para rastrear ladrões e suicidas desde o berço, aumento do poder das empresas e diminuição do poder das pessoas comuns, expulsão de imigrantes e maior rigor para entrar na França, menor proteção social por parte do governo, bobagenzinhas.



Mas é um passo a mais em direção a posturas semelhantes a algumas coisas que, quando aconteceram (e deixaram de acontecer ainda hoje?) chamaram de Nazismo ou Fascismo.



Isso só na França, mas em toda a Europa essas pequenas coisinhas estão se avolumando, bem devagarinho, entre um atentado terrorista e outro – que chamam muito mais a atenção.



Pode ser paranóia minha, e eu espero que seja mesmo, e que daqui a pouco as pessoas possam rir da minha afobada preocupação, e não que alguém diga que “pior, tu tinha razão”.





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O inferno são os outros

Jean-Paul Sartre escreveu um livro, que é uma peça de teatro, chamado Entre Quatro Paredes. Conta a história de três pessoas condenadas a passar a eternidade convivendo no mesmo quarto: uma funcionária pública apaixonada por uma outra mulher que a rejeita; esta outra mulher, apaixonada por um homem que a rejeita; e este homem, apaixonado pela funcionária pública, que o rejeita. O local onde fica este quarto é o inferno.



Mas não um inferno à lá Ratzinger (fogo, enxofre, diabo, choro e ranger de dentes): o inferno, segundo Sartre, são os outros.



Eu não li o livro nem nunca assisti à peça – quer dizer, somente conheço a história por meio de fofocas.



Mas sei que Sartre tem toda uma reflexão sobre o Outro e, entre outras coisas, o Outro é quem me frustra constantemente no que quer que seja (estou falando de maneira superficial sobre as idéias de Sartre).



Enfim, eu não acho, pessoalmente, que todos os outros sejam o inferno. Mas, falando de alguns, realmente, concordo e assino embaixo: o inferno são os outros.





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Diversão barata para gente medíocre

A principal rua da cidade. Um ajuntamento de gente. Gente torcendo (apoiando, vaiando, batendo palmas). “Gente, é briga!” você ouve sabe lá de quem. A multidão formou uma rodinha (meio círculo na calçada de lá, meio círculo na calçada de cá) e, no meio, um homem sentado em uma moto, e uma mulher, “montada” no pára-lamas dianteiro da moto, em pé, segurando o homem. Ela xinga ele, ele faz cara de “mas o que é isso?”, com os cotovelos dobrados e as palmas da mão para cima. De repente, ela sai da frente da moto e fica ao lado dele. Aí já deu para notar que ela está furiosa com ele, e ele está mezzo constrangido, mezzo irritado, mezzo assustado, como uma deprimente pizza humana. Um homem próximo dessas duas pessoas faz um sinal, sabe-se lá para quem, que tanto poderia significar “dispersando, pessoal” quanto “dêem um jeito vocês aí”. Aí o cara arranca. A multidão delira. A mulher segura o homem pelo casaco de tac-tel. Ele não acelera muito a moto, apenas o suficiente para que ela corra muito por um curto espaço, agarrada no casaco dele. A multidão delira mais. Ele acelera mais, ela cai. A multidão tem uma espécie de orgasmo coletivo, ou, no mínimo, um espasmo de euforia, onde se misturam indignação, realização, surpresa, choque, emoção. No fim ela sai montada na garupa da moto, e a multidão se dispersa.

Nesse meio tempo, os comentários: ela pegou ele com outra ali mesmo; isso é o fim da picada; se ela pode porque ele não?; baixaria. No fim, os adolescentes com mochilas vão em direção à escola (há poucas quadras dali), uma parte da multidão vai em direção ao shopping, ao mercado, e o restante se dispersa.



Nós adoramos pão e circo.





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Futura

Este blog está virando bundão. Chatinho, sem assunto, maré calma, só falta uma pelota de pó passar rolando como nos filmes de faroeste. Estará virando um diário?



Agora, por exemplo, vou escrever sobre uma preferência televisiva minha: o canal futura.



No RS, existem dois canais mais ou menos alternativos para você escolher fora do sistema Globo-SBT-Record: a TV2 Guaíba e a TVE.



A Guaíba é um canal exclusivamente gaúcho, muito legal porque passa filmes, seriados e documentários antigos: às vezes passa Sabrina, Aprendiz de Feiticeira, já assisti Barrados no Baile, Missão Impossível original, quando tinha um laptop que falava com o velinho grisalho, explicando a missão e dizendo que, se o grupo fosse pego, o ministério negaria qualquer conhecimento, e que a mensagem vai se auto-destruir em cinco segundos, o que é a deixa para sair uma fumacinha do laptop com cara de Pense Bem.

 Heheheh, muito bom. O problema é que enjoa. Coisas antigas são muito legais, mas eu, pelo menos, sinto falta, depois de um certo tempo, do visual clean das coisas feitas atualmente. Não assisti ao filme Missão Impossível, mas assisto outro seriado, chamado Aliás, que é atual e muito parecido com o outro, e vejo que os problemas que eles resolviam naquela época com uma antena parabólica portátil do tamanho de uma mesa, agora são resolvidos com uma escuta do tamanho de uma ervilha e invasão de redes.





A TVE é um canal cultural cheio de programas legais. O mais supremamente legal era Castelo Rá-Tim-Bum, onde tinha o Mau e sua Gargalhada Fatal, o Tíbio e o Perônio, a Caixinha de Música, muito bom. E tanto tinha quanto tem programas legais, como o do Não-Sei-O-Quê Abujamra, um programa com uma senhora rouca que tem entrevistados interessantes, coisas assim. Mas enjoa porque muitos programas são muito parecidos, têm cara de Orquestra Sinfônica de Berlim, e esse tipo de música é legal, mas há limites.



“Alternativos” é forçar um pouco: a TV2 Guaíba é uma emissora comercial, e a TVE, parece um pouco mal-explorada, com cara de repartição pública que não recebe investimento – com muitas excessões, como o Roda Viva, por exemplo. Mas são alternativas, que se tornam ainda melhores quando você só pode escolher entre Faustão, Raul Gil, Gugu ou alguma mesa redonda de futebol.



E tem o Futura. Quase todos os programas que assisti são interessantes, e muitos deles são legais mesmo, dão vontade de ver de novo. Eu, pessoalmente, adoro o Passagem Para… , que é feito a partir de viagens do apresentador por outros países, quase todos americanos. E tem também dois programas com a Regina Casé: Minha Periferia e Um Pé de Quê?. Adoro a Regina Casé, e vê-la fazendo dois programas legais e interessantes é muito bom. Outro programa é com Zeca Baleiro, que conta histórias do foclore brasileiro, misturando música, narração e animação.



A única coisa chata do futura é a programação infantil: eu não entendo porquê canais assim, educativos, pensam que crianças são retardadas. A excessão é a Turma da Teca. E também não se trata de uma coisa alternativa: quem faz o Futura é a Globo. E aí eu, que adoro criticar a Globo, que, na dúvida, acho que errada está a Globo, preciso tirar o chapéu para a emissora: é incrível que, com vontade, seja possível fazer programas interessantes sem chatices ou as mesmas coisas de sempre.









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Sem assunto

Meu blog é pouco comentado, o que é a base da minha suposição de que seja pouco lido. Da última vez em que escrevi algo semelhante, surgiram duas ótimas leitoras que são ainda melhores autoras, com dois blogs muito interessantes (digo o mesmo de suas vidas, que volta e meia aparecem nos seus blogs). Apareceram, depois, outros comentários, pelo que eu me lembre todos interessantes, o que me faz supor que o meu blog seja o mais bem-frequentado do mundo – ao mesmo tempo em que é o menos frequentado.



É um blog seletivo, talvez. Não sei mais se essas pessoas lêem essa bagunça que são minhas idéias (onde às vezes aparecem pedaços da minha vida), mas é interessante escrever para, virtualmente, ninguém.



Existem três tipos de, digamos, público para quem eu escrevo.



Primeiro: eu. Por mais que eu tenha ânsias de apagar tudo o que escrevi depois que publico, seja por mudança de opinião, falta de clareza ou por achar irrelevante o que escrevi, e por mais que eu realmente releia algumas coisas e pense em processar as pessoas que disseram que eu era uma pessoa alfabetizada, ainda assim gosto do que escrevo, pelo menos enquanto estou escrevendo. É livrar-se de algo que estava incomodando. Não que eu escreva sobre coisas que me incomodem (que, de qualquer modo, também são assunto), mas me incomoda ter vontade de dizer e, às vezes, não ter onde – e essas coisas vão para o blog. Coisas legais e chatas, agradáveis e incômodas.



Segundo: as pessoas que já comentaram. “50%” significa que tanto pode ser quanto pode não ser. É uma porcentagem agnóstica, que diz “não sei”. Existe 50% de chances de que as pessoas que já comentaram, e que portanto leram, voltem para ler de novo. Eu não sei se lêem, porque ninguém comenta – e não se trata, aqui, de pedir “comentem!”. E digo por experiência própria, porque acompanho uns três ou quatro blogs interessantes sem dar um pio. Mas não consigo deixar de pensar que essas pessoas lerão algum post. É como se fosse um hábito: não sei se me lêem, e não tenho porque pensar que de fato isso aconteça, mas sempre penso nesse “público”, quase como um reflexo condicionado.



Terceiro: pessoas eventuais. Vale praticamente o mesmo que para o segundo grupo, com a diferença de que nunca vou saber que estiveram por aqui – novamente: isso não é um pedido de “comentem!”. Se for só para dizer “estive por aqui”, não diga. Vivemos em um país livre, é claro, ou, pelo menos, eu não mando e você, portanto você não tem obrigação de seguir minha recomendação. Mas para mim não fará a menor diferença esse tipo de comentário. O silêncio, nesse caso, me fará muito feliz.





Com excessão de “moi”, o restante do meu público é virtual. Quero dizer: um blog já é uma coisa virtual, mas sempre suponho que quem o leu, comentando ou não, exista concretamente. Mas escrevo para… não posso dizer “para ninguém”, por causa dos 50%. É como se eu escrevesse para potencialidades, possibilidades. Eu poderia imaginar, por exemplo, que escrevo para macacos, ou civilizações alienígenas. Claro que, na prática, suponho que sejam pessoas. Mas é mais uma maneira de dizer, porque eu apenas escrevo para, com excessão de mim, por escrever. Tive sorte de apenas gente interessante ter comentado até agora. Mas esse blog é, com todas as limitações e censuras que eu me imponho, a coisa mais sincera, ou, pelo menos, mais completa, sobre mim.





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Grunf!

Aí um dia você estava pensando: “Orgulho gay? Mas não há motivos para se ter um orgulho gay. Nem hetero. Nem preto. Nem branco. Nem do Brasil. Ter orgulho da orientação sexual é que nem ter orgulho de gostar de massa: é só massa, e não uma vitória de copa do mundo – que, aliás, nem é grande coisa (a não ser em ano de copa do mundo)”



Aí outro dia você ouve: “… imagina que o cara me disse que quer fazer arquitetura, e não é veado: o mundo está peogredindo!” Quer dizer que o mundo progride assim?



Aí você repensa: “Viva Stonewall”.



É irritante como você se vê na obrigação de assumir uma posição política como apoiar uma coisa como o orgulho gay só porque ainda existem pessoas que celebram o fato de um cara heterosexual fazer uma coisa estereotipadamente homossexual. Homossexualidade não deveria ser assunto. Nem heterossexualidade. A orientação sexual deveria entrar em pauta só em casos óbvios (“quer ficar comigo?” “sou homossexual.”). Isso em um mundo em que houvesse respeito. Mas é irritante que ainda se tenha que falar sobre respeito à diversidade sexual – não irrita o fato de falar sobre, mas que se tenha que, pelamordedeus, ouvir coisas como “ai, que bom que ele não é veado, que bom que ela não é lésbica, que gente depravada…”.



Que droga!… Sei lá, nem sei o que pensar, nem o que dizer.





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"Caminhando contra o peso, sem lanche, sem carobidrato, no sol de quase dezembro, eu vou…"

Fazer regime é complicado, mas é gratificante.



É complicado porque você, de repente, passa a planejar toda a sua alimentação, desde à noite anterior, quando você começa a pensar no que vai comer pela manhã, até a semana, que você planeja compensações para possíveis excessos, e coisas gostosas e engordantes que você comerá caso não cometa excessos ou consiga compensá-los satisfatoriamente.





Exige disciplina, para que você não coma agora, e sim só depois, na hora programada, a quantidade adequada, para que você identifique se o que está sentindo é mesmo fome ou vontade de comer – e, na dúvida, decida que é vontade de comer, para que você troque o delicioso açúcar pelo insosso e pingado adoçante (o adoçante não deixa aquele restinho no fundo do copo do café, e você não pode mais pescar esse restinho com a colherinha…), e para que você pense o quê e o quanto está comendo antes de comer, enquanto está comendo e depois de ter comido. Você precisa também pensar nos convites dos amigos: “vamos comer uma pizza hoje?”, melhor amanhã, porque hoje você já cometeu as extravagâncias proibidas. “Só posso hoje!”, tudo bem, amanhã você compensa duplamente, comendo só uma fatia de pão no café da manhã, como sempre faz (depois do regime), dois biscoitos a menos no lanchinho da manhã (e compensa a dimunuição com café preto e água), toneladas de verdura para cada milímetro quadrado de massa, arroz ou carne que você almoçar (e como a comida é por quilo, você come uma floresta inteira com meia dúzia de coisas amarelas ou cozidos perdidas ali no meio, e tudo isso sem GPS para localizar as coisas gostosas), o lanche da tarde, que era ocasião de pequenas extravagâncias, como um rissoles ou um copo de nescau, fica igual ao lanche da manhã, e a janta continua sendo a mesma boa e velha fatia de pão com manteiga, e você fica pensando em trocar o copo de leite por litros de água.



Exige também paciência, para encontrar a indicação da quantidade de carboidratos no rótulo (às vezes, em locais praticamente inacessíveis, ou então ilegíveis), para calcular toda a porcaria (em um saco com mil biscoitos dentro, eles colocam a quantidade de carobidratos presente em dois biscoitos e meio, e você fica fazendo cálculos aproximados de quantos carboidratos teria em três biscoitos, ou então em 100 gramas de biscoitos, e você tem vontade de abrir o pacote e pedir à moça das verduras no supermercado que pese quantos biscoitos equivalem a 100 gramas); paciência também para equilibrar tudo o que você vai comer; paciência para descobrir como se prepara a tal berinjela; paciência para inventar coisas diferentes utilizando somente carne moída, miojo e berinjela; paciência quando descobre que uma farinha de bolo normal custa três vezes menos do que farinha de bolo light; e paciência para descobrir que tudo, mas absolutamente tudo o que existe tem carboidratos (menos meia dúzia de coisas como carnes, ovos, coca-cola zero ou light, frios e poucas outras coisas mais – como ar, água e, possivelmente, terra, que não experimentei, todavia).





Você precisa também de força de vontade, mas isso vem do estímulo que você tem para emagrecer: paixão, medo da morte, vaidade, todas essas coisas dependem do grau com que afetam você.



É difícil, mas é gratificante. Mais ou menos, pelo menos para mim, como terminar um trabalho da faculdade antes do tempo, chegar cedo nos compromissos, ou conseguir concretizar algum projeto. Eu não faço isso para ouvir o reconhecimento alheio, mas é ótimo ouvir as pessoas dizendo “puxa, você emagreceu…”, “olha, você em versão light” e “mas o que você está comendo para isso dar certo??”. Anima muito.



Eu só procuro evitar sofrer de fome (alguma fome eu sinto às vezes, mas por, no máximo, uma hora, quando muito); e procuro evitar me transformar em algo parecido com um pastor do regime, conclamando a todas as pessoas em volta que façam o mesmo, que comam pouco, façam regime, se restrinjam de comer coisas gostosas muitas vezes no dia para fazer isso algumas poucas vezes por semana, enfim, é um regime e não uma religião. Não me irrito com quem não respeita meu regime, e não dou muita satisfação também.





É interessante como às vezes dá vontade de fazer muito grau com isso. Ainda tenho uma barriga, se bem que menor do que era (não consigo mais deixar um copo de refri equilibrado nela, à lá Hommer

Simpson, mas ainda tem muito diâmetro a desaparecer). Mas, mesmo assim, sei lá, deve ser um mecanismo de estímulo, que é muito fascista. Eu faço o regime para mim, agradeço os estímulos, ignoro educadamente as indiferenças e compreendo as oposições e recomendações (do tipo “olha a anorexia…”). Um regime pode virar um verdadeiro regime fascista, e é impressionante como uma sensível redução na minha linha do equador pode quase subir à cabeça. O pior que já fiz foi comer iogurte natural na frente das minhas colegas, propositalmente, só para ouvir elogios à minha alimentação saudável e aos visíveis resultados conseguidos até então. Um afaguinho na minha vaidade às vezes cai bem. Hehehe.





Ainda não me sinto leve como uma pluma, e nem a brisa ameaça me levar junto, ainda. Mas é legal, no fim das contas, me sentir mais leve. Coisa que ninguém tem obrigação de fazer, e que, por isso mesmo, se torna mais agradável.





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Entrevista comigo

Eu perguntando – Porque você gosta do seriado Xena?



Eu respondendo – Porquê é um seriado com uma idéia, uma história muito boa, desde o fato de a Xena ser uma princesa guerreira (geralmente, nas histórias, princesa e guerreira não são coisas compatíveis, ou, no máximo, trata-se de uma guerreira que luta por seu amado ou para salvar os filhos ou quaisquer outros parentes; são sempre guerreiras por ocasião, que lutam em guerras ocasionais, donas-de-casa guerreiras – e nada contra esse tipo de guerras ou de guerreiras, é que a maioria das histórias é assim, e na Xena é diferente); tem também a relação entre as duas, e as lutas são bem coreografadas – e eu gosto de coreografias.



E.p. – Cite algum episódio que você tenha gostado.



E.r. – Assisti um chamado “A Peça”, onde a Gabrielle monta uma peça sobre o caminho que ela segue, ao lado de Xena, em direção ao bem. Uma das coisas mais legais é ver os personagens tratando a si mesmos como personagens – não é mais a autora do seriado narrando Xena e Gabrielle diretamente, mas sim narrando-as através delas próprias, e, também, são elas (as personagens) falando de si mesmas. É interessante que o seriado trata de metalinguagem de maneira mais divertida e exata do que o faz a filosofia.





E.p. – Você vê na Xena um tipo diferente de guerreira do tipo que geralmente aparece no cinema ou nos livros, e gosta de coreografias…



E.r. – Certo.



E.p. – … mas o que você vê de interessante na relação entre as duas?



E.r. – Elas tem uma relação amorosa, do tipo casal apaixonado, e isso é uma questão de perspectiva, porque nada impede que alguém diga que elas se amam como se amam duas irmãs, por exemplo. Mas a minha opinião é a primeira. Porém, não se vê filmes nem livros (eu pelo menos não conheço) onde os personagens têm uma relação livre assim (“livre” não quer dizer que eu suponha que elas tem algum tipo de relação aberta, como Sartre e Simone de Beauvoir, por exemplo, e também não suponho que não seja assim a relação). Oscar Wilde disse que homossexualidade é um amor que não ousa dizer o nome, e, de maneira geral, hoje em dia esse amor ainda diz seu nome de maneira tímida quando não é dia de parada gay. O amor entre Xena e Gabrielle não tem esse problema de não ousar dizer o nome. É um tipo de amor que não está preocupado com seu nome. A questão do nome desse amor não é relevante, não interessa em Xena, ao contrário dos filmes e romances onde sempre é implícito que trata-se de um amor chamado heterossexual, ou é explícito o nome homo ou bissexual. O nome, a classificação do amor, é muito importante nos livros e filmes atuais. A coisa mais parecida com Xena, em relação a isso de nome do amor, é o livro Lado B – Histórias de Mulheres, onde na maioria dos contos o amor não é classificado, mas somente mostrado. Na minha opinião.



E.p. – Agradecemos a sua atenção.



E.r. – Eu é que agradeço.





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