Enquanto eu escrevia o texto abaixo…

…duas coisas passaram na televisão. Uma foi a Sacha cantando, outra foi a juíza de futebol que posou para a Playboy.

Eu escrevi um enorme texto sobre a Sacha, mas de repente tudo tornou-se irrelevante. Só espero que ou a criança cante melhor quando for grandinha, ou que não cresça pensando que é cantora só porque mamãe disse que ela era isso.

Sobre a juíza de futebol. Acho que é ótimo que apareçam pessoas como ela, que obreigam outras pessoas a externarem todo o machismo que têm. Os dirigentes de futebol por exemplo, que a demitiram porque ela posou pelada para a Playboy. independente da questão de a revista ser ou não tão machista quanto os dirigentes, acho que foi uma violência intrometerm-se na vida dela asism. Até onde eu saiba, não se exige celibato de juízes de futbebol: porque só as juízas devem comportarem-se como freiras? E as torcidas que revoltaram-se contra os erros de arbitragem dela: mas quando você viu campanhas maciças contra outros juízes que também cometeram erros de arbitragem? Ah, é que um juiz errando é um erro de arbitragem, e uma juíza, é uma prova de que mulher não serve para isso. Serve, é claro, para ser gostosa, mas não para outras atividades.

Consuma até morrer

Para falar de uma coisa, terei de falar antes de outra – por mais que a outra coisa merecesse que eu falasse dela bem antes, independente da uma coisa.

Outra coisa: não me lembro procurando o quê no Google, encontrei um texto que também não lembro qual era. Mas esse texto estava em um blog que acabou me interessando muito além do texto que eu encontrei. O blog se chama Perdida en la Mancha e, se você não sabe espanhol, significa “Perdida em La Mancha”, mesmo local onde Dom Quixote vive suas aventuras como cavaleiro. Depois eu coloco nos links, se a preguiça não vencer. Não me lembro de nada especial a dizer do blog, a não ser que a autora tem um texto agradável (em espanhol, coisa que por si só serviria para me agradar, mas o agradável dos textos dela vai além da língua que ela usa), às vezes um humor… – não me vem a palavra, então vai essa mesma – … sutil, e assuntos interessantes. Um blogão – e agora, um momento-modéstia: eu só me interesso por blogs que são foda.

uma coisa: nesse blog ali de cima, eu encontrei um link para o site Consume hasta Morir, que em bom e velho português quer dizer “Consuma até morrer”. Na apresentação do site, eles dizem que “ConsumeHastaMorir é uma reflexão sobre a sociedade de consumo em que vivemos, utilizando um de seus próprios instrumentos, a publicidade, para mostrar até que ponto se pode morrer consumindo”. Eu tenho certas reservas em sair apregoando por aí o horror que é a sociedade de consumo. E, veja bem, eu acho um horror certos aspectos dessa sociedade de consumo em que vivemos, como a opressão que é você convencer uma menina de 15 anos que ela precisa ser magra até morrer, ou que um cara será fodão se tiver carro, cerveja e grana para pagar mulher, ou outras coisas desse tipo. Mas, por outro lado, eu também consumo, e goto de consumir: isso só se torna um problema para mim porque eu não tenho dinheiro para consumir tudo o que eu quero, e o que consumo, o faço contabilizando até os menores centavos possíveis, pedindo desconto até de um centavo. Quer dizer, se eu tivesse muito dinheiro, consumir não seria um problema para mim. Portanto, eu não sei se esse site está entre os melhores para mim.

Independente do meu gosto pelo site, encontrei lá uma imagem muito boa. Trata-se de uma contra-propaganda sobre a TV. E essa imagem é o motivo de tooodo esse post.

O quadro se chama Las Meninas, e quem o pintou foi Velazques. A TV, obviamente, não faz parte do original.

Poesia Concreta

Uma vez tive de fazer um trabalho sobre poesia para uma cadeira da faculdade, e fiz sobre poesia concreta. Apresentei um poema, lembro que era de um cara chamado Pedro Xisto, mas não lembro qual era. Ninguém se interessou muito. Eu achei legal. Por isso, vou colocar algumas dessas poesias aqui.
Não gosto muito de postar imagens, porque muita gente tem conexão discada e é um saco ficar esperando as milhares de imagens carregarem. Mas, foda-se: sinceramente, só eu e o trequinho de indexação do google visitamos esse blog, portanto, ninguém vai ter que esperar meia hora para carregar o blog.

Um Metro e Meio de Poesia

Poemamãos

deusas

Eu procurei, mas não encontrei nem lembrei de nenhuma música da MPB que endeuse as mulheres (daquelas tipo “mulher é um ser divino”, por exemplo), para deixar este post mais chique. Por favor lembre-se, portanto, de alguma música desse tipo, só para não perder o efeito.

Assim como muitos compositores brasileiros, o Nepal também tem divindades femininas vivas, e uma delas foi “demitida” porque visitou os EUA, o que tornou-a impura. Aí meu cérebro localizou uma idéia encontrada no Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir.

A idéia: você pode oprimir e prender mulheres por meio da violência, da privação, das leis, enfim, a criatividade é o limite. Um modo muito original de fazer isso é endeusar as mulheres.

Esta pode parecer uma afirmação muito antipática, mas nem sempre as coisas bonitinhas são as que mais fazem bem.

Não recordo com muita clareza as palavras do livro – que, aliás, preciso reler ocm urgência – mas a idéia, em termos gerais, é que quando você confere esses atributos divinos a uma pessoa, torna-se fácil controlá-la. Até aqui é o que eu me lembro que ela escreveu.

A partir daqui, é minha compreensão do texto e meus argumentos. Isso me lembra, primeiro, Freud, de quem eu não gosto muito. Mas uma idéia muito boa de Freud é que uma das piores armas que existem é o elogio. Claro que é uma arma que depende muito da vaidade da “vítima” para que funcione.

Mas funciona mais ou menos assim: quando você dá o título de divindade a uma pessoa, ela precisa agir segundo esse título. É diferente de quando uma pessoa declara-se, por si mesma, uma divindade: nesse caso, não importa quem reconheça essa divindade, desde que a proópria pessoa reconheça-se uma divindade. Mas quando alguém lhe diz “você é uma divindade”, você será uma divindade para esta pessoa (ou grupo), e dependerá da aceitação e reconhecimento do grupo para prosseguir sendo uma divindade. Pode acontecer, claro, do grupo aceitar qualquer coisa de sua divindade e nunca questioná-la. Sorte da divindade, que será muito mais poderosa, então. Mas, em geral, e no que diz respeito à divindade feminina, ou à divinização do feminino, são homens ou outras mulheres conferindo essa divindade a uma mulher.

Alguém pode dizer que, pelo menos, que sejam outras mulheres a conferir divindade a uma, a algumas ou a todas as mulheres. Mas a) nem todas as mulheres querem ser divinas, b) nem todas as mulheres reconhecem qualquer divindade, c) a concepção de “divindade” pode variar muito de mulher para mulher, e de grupo de mulheres para grupos de mulheres, e d) nada impede que mulheres oprimam a outras mulheres, seja em seu próprio nome, seja em nome de algum homem.

E um grande exemplo disso – do que Simone de Beauvoir disse, e do motivo pelo qual eu me recuso a tratar uma mulher como um ser especial, “apartado” do mundo – é o que saiu na notícia do link ali de cima: uma menina, cultuada como deusa no Nepal, agiu contra a vontade dos anciãos do templo deles, e estes retiraram dela a divindade. Esse link também serve como um bom exemplo disso.

Por isso, me irrita, mas fico de mãos atadas quando, por exemplo, chega o dia 8 de março, e tudo o que se vê – pelo menos aqui pelas bandas de onde moro – são flores sendo distribuídas, homenagens à força e à garra feminina das mulheres que trabalham fora, cuidam de pais, filhos, maridos, da casa, etc, e isso é tratado com orgulho.

Cansei de escrever agora.

16 Toneladas (Sixteen Tonels)

Eu já tinha ouvido falar, bem por cima, de algum coisa chamada “Funk Como Le Gusta“, mas nem dei bola.
Meses se passaram.
Até um belo dia (que, aliás, era uma noite) em que eu estava num lugar meio chato, mas legalzinho, dançando, e toca uma música muito boa – que, na hora em que ouvi, era MUITO BOA!, demais!, a melhor música já produzida no Planeta!, mas depois eu percebi que metade da minha opinião era porque eu estava bebendo e dançando.
Mas fui atrás da tal música (eu decorei um trecho para me lembrar no outro dia e poder procurar), e descobri que ela se chama 16 Toneladas, e é do tal Funk Como Le gusta – que tem outras músicas muito boas (não baixei só a 16 Ton.). Como este blog não tem áudio (o único blog ao sul do Equador sem entrada USB), vai a letra (copiada com carbono) aí embaixo:

Sente este samba quente
Que é muito legal
É super pra frente
É bem genial

Embalo como este
Só quem vai curtir
Quem não se machucar
Quando deixar cair

Por isso vem, vem
Embale na nossa
Este balanço
Tira qualquer um da fossa
Ele é um barato e é da pesada
Esse é o famoso 16 toneladas

Eu bolei o ano inteiro
Este samba pra frente
É gostoso paca
É um samba decente

Segure esta conversa
Segure a jogada
Quem não gosta de samba
Não gosta de nada

E é curtição
No samba empolgado
É o meu timão
Num estádio lotado
Turma da pesada
Que segura a parada
Esse é o famoso 16 toneladas

Sente este samba quente
Que é muito legal
É super pra frente
É bem genial

Embalado como este
Só quem vai curtir
Quem não se machucar
Quando deixar cair

Por isso, vem, vem
Embale na nossa
Este balanço
Tira qualquer um da fossa
Ele é um barato e é da pesada
Esse é o famoso 16 toneladas

Eu já dei o meu recado
Agora vou me mandar
Vou refrescar a cuca
Pra poder incrementar
A mente está cansada
E só da confusão
Onda de pirado
Deixa a gente na mão

Por isso vem, vem
Quem vai me encontrar
Agora estou na minha
Pois estou devagar
Já disse o que queria a toda rapaziada
Ai, oh … é o 16 toneladas

Opinião

Minha opinião sobre a notícia abaixo:

tendo em vista a pior coisa que se possa dizer do ex-marido que fez isso, ainda assim pior está o casal: uma morta, e a outra viúva, assustada, agredida (por mais que talvez ela nem tenha sido tocada por ele – o que eu duvido – uma pessoa pode ser violentamente agredida mesmo sem o menor contato físico), fragilizada, etc. E sem a pessoa que ela gosta.

Mas o cara é medíocre. É interessante imaginar o que ele pensa, para ver o quão medíocre ele é.

A mulher é DELE. A partir de determinado momento, ele declarou a posse sobre ela. Ponto 1.
Ele é um homem. Se uma pessoa é X, significa que ela deve adequar-se a X – sendo homem, portanto, ele deve adequar-se a sua virilidade. Ser homem, para ele, é, antes de mais nada, ter o direito de posse sobre uma mulher – um direito dos homens. Quer dizer, não é que ELE possa ter ela, ele administra, com exclusividade, uma propriedade do gênero dele. Assim, ele representa o XY, digamos, e precisa fazer jus a essa sua masculinidade. “Fazer jus a essa masculinidade” implica, possivelmente, várias coisas, mas com certeza, dentre elas, implica em possuir uma mulher na medida em que isso é um direito masculino. Ponto 2.

A mulher largou dele. Imagine a frustração dele. Quando lhe roubam alguma coisa, você se volta contra quem o roubou. Mas e quando suas propriedades fogem aos seu domínio – sua mesinha de centro declarando que você não manda nela, por exemplo – contra quem você se volta? Contra as suas propriedades. Se você considera uma pessoa sua propriedade, bem, assim como você tem o direito de quebrar um copo seu e inutilizá-lo, você tem o direito de quebrar o que é seu. Mas ele, provavelmente, passou por algo pior do que a frustração de ter perdido o domínio sobre sua propriedade.

Sabe-se lá como ele encontrou a mulher dentro de um galpão abandonado. Mas encontrou. E, além de deparar-se com a insubordinação de seu bem mais precioso, ainda por cima tomou as dores de sua classe – afinal de contas, foi uma dupla insubordinação, contra ele próprio, largando-o, e contra o direito masculin de posse sobre as mulheres, ficando com uma mulher. Se fosse uma ofensa apenas contra ele, tlavez ele pudesse relevar, “permitir” que ela fugisse ao domínio dele. Mas tratava-se de desdenhá-lo duas vezes: ele mesmo e sua masculinidade. E a masculinidade não pertence a ele – disseram que ser homem era ter uma mulher, e que ele deve ser Homem. Aí – ofendendo seu bando – ele teve de dar um jeito. Sendo um Homem Bom, ele não descarregou sua raivasobre o seu maior bem – afinal, ela ainda pertence a ele ainda, ele apenas deu-lhe permissão para afastar-se. Ele descarregou sua raiva na corruptora que afastou sua ex-mulher da relação correta – com homens. Uma mulher assim, que subverte a ordem e os princípios fundamentais da sociedade, merece morrer. Não morrer, não que a morte seja o que ele queria. Mas, tendo roubado dele dois bens tão valiosos – a mulher e o respeito ao Homem (“Homem” nos termos dele) – ela precisava pagar com pelo menos uma coisa igualmente valiosa: por acaso foi sua vida.

Trata-se de uma questão de valores. Valores esses que são toscos, pelo menos par mim. Mas ainda por cima, vem o fascismo: as outras pessoas precisam viver segundo os valores dele – na opinião dele – nem que tenham que ser obrigadas a isso. Aquele casal precisava agir segundo o que ele achava correto.

A mediocridade do cara, para mim, está nesse sistema de valores, primeiro: ele depende de alguém que seja submisso. Segundo: são valores que passaram para ele, sobre os quais ele não tem o menor senso crítico – ele nunca se perguntou se poderia agir de outra maneira. Terceiro: ele precisa firmar-se como aquilo que ele quer ser (no caso, Homem) mediante o reconhecimento dos outros, e sua vida torna-se insuportável se alguém – como as duas mulheres – não reconhece isso.

Uma das coisas que eu acho mais terríveis é uma pessoa não conseguir enxergar-se a si mesma. E essa é uma coisa que ele faz bem: dentro da mediocridade dele, ele deve estar orgulhoso de ter agido como um homem quando precisou.

***

Claro que eu não posso afirmar o que se passa na cabeça de uma criatura assim. Mas, além do terror que uma notícia dessas me dá (e contra esse terror ninguém luta com tanto afinco como quanto luta contra, por exemplo, os terroristas do Al Quaeda), e ter que admitir que não sei se esses foram mesmo os motivos dele, o que é pior nessa minha opinião aí de cima é que muitas pessoas pensam dessa maneira, e se não esfaqueiam as pessoas, praticam outros tipos de violências em diferentes níveis, muitas vezes sob a proteção de coisas como costumes, etiquetas, tradições e coisas assim.

Murcia: uma mulher é morta pelo ex-marido de sua namorada

02/07/2007

1 de julio de 2007

Um homem de 58 anos de idade foi detido este domingo em Murcia, após ser acusado de assassinar a uma mulher ontem. A vítima, de 40 anos, era a atual namorada de sua ex-mulher.

O homicídio ocorreu no distrito de Algezares, a uns 5km da cidade de Murcia, Espanha, às 16:00 horas. Segundo um porta-voz da Polícia Nacional, a mulher assassinada mantinha um relacionamento amoroso com a ex-mulher do detido.

As duas mulheres estavam em um galpão abandonado, nas proximidades do centro de saúde de Algezares, quando foram encontradas pelo agressor. Ao deparar-se com a atual namorada de sua ex-mulher, esfaqueou-a no pescoço e a vítima faleceu nesse mesmo local.

O homem fugiu do lugar e sua ex-esposa foi quem alertou a polícia de que aquele havia agredido a vítima no pescoço com uma faca. Graças ao aparto de buscas montado para sua localização, foi detido pouco depois, nas proximidades de Algezares.

O detido confessou os fatos à polícia e está previsto que passe à disposição judicial nas próximas horas. Tanto o agressor, como sua vítima e sua ex-mulher são de nacionalidade espanhola.

Notícia copiada (e na medida do possível traduzida) sem autorização da Red Feminista.

Homofobia

Esse é um curta de dez minutos que assisti no Porta-Curtas, chamado Homofobia. A atuação é um pouco ruim, me pareceu a princípio, mas eu também não assisti com atenção. Caso você queira ver o curta antes de ler meus comentários, ou sem saber dos meus comentários, eis o link:

Assista ao curta

E, agora, meus comentários (coloquei depois do link porque eu comento coisas do filme, e é muito chato alguém entregar partes de um filme antes de assisti-lo):

Li comentários de pessoas dizendo que é um horror associar homossexualidade e drogas, já que os gays que aparecem no curta cheiram cocaína. Eu também acho um horror essa associação. E também li pessoas criticando o fato de o rapaz ter “se entregado ao seu agressor”. Outro horror com o qual eu concordo. Mas, acho eu, esse filme é apenas uma maneira de apresentar a homofobia: não necessariamente uma pessoa usa drogas e é homossexual: eventualmente sim, eventualmente não; não necessariamente uma pessoa apanha e depois “se entrega” a quem lhe agrediu porque é homossexual: eventualmente sim, eventualmente não. Quer dizer, porque o filme mostrou um gay que cheira e dá para um cara que bateu nele, não significa que o filme queira dizer que todos os gays cheiram, nem que dêem para quem bateu neles – são só possibilidades, e o filme apresentou uma possibilidade. Acho que criticar isso nesse filme é levar a sério demais a história (como pular da cadeira quando um trem vem em direção à câmera, ou fundar uma associação chamada “Salve o E.T. do filme”).

Os atores são um pouco ruinzinhos, com atuações meio forçadas. A namorada do homofóbico é muito politicamente correta (trabalha em ONG), santa demais, e eu acho que é um pouco forçação de barra, também, mas não chega a ser uma crítica.

Mas o curta vale a pena pela história, e pela idéia de que homofobia provavelmente é sintoma de recalque, medo de expor a própria homossexualidade.

Compasso

É o que pulsa o meu sangue quente
É o que faz meu animal ser gente
É o meu compasso mais civilizado e controlado

Estou deixando o ar me respirar
Bebendo água pra lubrificar
Mirando a mente em algo producente
Meu alvo é a paz!

Vou carregar de tudo vida afora
Marcas de amor, de luto e espora
Deixo alegria e dor ao ir embora

Amo a vida a cada segundo
Pois para viver eu transformei meu mundo
Abro feliz o peito, é meu direito!

Essa letra é de uma música da Ângela Ro Ro. Me espantei de vê-la no programa do Raul Gil (que, espanto número 2, está na Band), magra que nem um pau. Ela era bonita gordinha. Não ficou mais bonita, mas continuou bonita. Nem sempre acontece isso: uma pessoa pode engordar ou emagrecer e ficar mais ou menos bonita do que era antes, com a mudança. Ela continuou bonita. De uma beleza diferente, eu acho – não uma beleza “magra”, em contraposição a uma beleza “gorda”; mas sim, outra coisa, e uma outra coisa bonita.

Imagino que a letra dessa música, que deve ser, conforme eu ouço artistas falarem na TV, sua música de trabalho (tipo o hit do CD), faça alguma referência à vida dela. Sou tiete, às vezes, e por isso sinto curiosidade em saber mais, gostaria de ouvir de que aspectos da vida dela ela fala na letra da música; mas não sei, não tenho como saber.

Adorei a letra da música porque sua letra me toca. A canção, em si, me toca muito. Mas falo da letra, apenas. Sempre imagino essas coisas, esse tipo de letra (no estilo “volta por cima”), referindo-se a pessoas que apanharam na vida, deixaram as drogas fuderem sua vida, foram “underground”, gente maluca que por pouco não morreu, mas chegou até aqui e resolveu encontrar um pouco de paz.

Mas, para meu (terceiro) espanto, sinto que é uma letra que fala de mim também. Nunca tomei porres de cair habitualmente na rua. Nunca roubei nada. Nunca tive desafetos raivosos, só pessoa cuja cara eu não vou. Nunca vivi em nenhum submundo urbano. As pessoas nos bares não me conhecem, nem lembram de mim, nem me conheceriam se os frequentassem quando eu era mais jovem. Nunca me acabei com drogas ou brigas. Só minto um pouquinho, diria Tim Maia – mas eu não sou o pai do soul brasileiro.
Apesar da minha entediante vida – minha biografia deve dar um parágrafo, dois se eu fizer um poema nela – me identifico com a letra da música. Talvez seja um caso de identificação medíocre, pois minha loucura nunca foi grandiosa.

De qualquer maneira, muitos “vivas” e “aêêês” a essa volta da Ângela Ro Ro, pelo menos da minha parte.

A arte de prender

Existem muitas maneiras de prender as pessoas.



Você pode, por exemplo, não possuir ficha na polícia, não cometer nem ter nenhum crime, ter uma casa para morar, um emprego com um salário baixo porém razoável, liberdade de expressão, capacidade para expressar-se, internet banda larga, não estar em cativeiro por qualquer motivo (sequestro, motivos políticos, embaixo de escombros), e, mesmo assim, ser uma pessoa presa.



Utilizando ainda o exemplo acima. Digamos que aquela pessoa queira morar em outro lugar, uma outra cidade distante uns… 30km, por exemplo, da cidade onde mora atualmente. É possível chegar em 42 minutos na outra cidade. Nessa outra cidade, você encontra um JK com um aluguel que você pode pagar e ainda ter o suficiente para manter-se no mês todo. Esse JK fica próximo da estação do trem, no centro da cidade (vamos imaginar que essa cidade seja a capital do Estado em que a pessoa em questão mora).



Perfeito! Aquela pessoa tem dinheiro e meios de ir para lá! Tem liberdade para sair da cidade horrível em que mora, da casa e do ambiente horrível onde mora! O que estamos esperando para dizer que ela foi para lá?!?



Ela pode possuir cadastro no SPC. Bom, não é criminosa essa pessoa, mas não conseguiu honrar suas dívidas. Como esse é um exercício de imaginação, vamos colocar mais coisas aí: pode ser que essa pessoa esteja no SPC não por ter deixado suas contas vencerem, mas por ter emprestado o nome para outras pessoas abrirem contas. E estas outras pessoas não pagaram. E aquela pessoa, a do exemplo, está no SPC por isso. E, por estar no SPC, apesar de toda a liberdade que possui, não tem liberdade para abrir crediários, possuir talão de cheques e nem alugar coisas em seu nome.



Sem grades, paredes, sem restrição do direito de ir e vir, sem perder nada inclusive, esta pessoa está presa. Não presa em um cubículo com dezenas de pessoas desconhecidas, mas presa a obrigação de voltar todos os dias a uma casa com poucas pessoas com quem você não quer mais conviver. Essa pessoa não está presa em um presídio, mas em um cadastro. Essa pessoa não está presa fisicamente, moral ou espiritualmente que seja, ou psicologicamente, e nem mesmo economicamente (pois tem algum dinheiro): simplesmente está presa… somente compartilha com outras pessoas presas a impossibilidade de movimentar-se, de sair de onde está.





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Bom velinho

Está frio. Por isso, estou aqui, relaxando, comendo bolacha maria molhada no café bem quentinho com leite e adoçante (regime é foda), ouvindo Tim Maia Racional (O Caminho do Bem) e lendo notícias.



Aí eu entro no site da Folha on-line, e o que eu leio? Que o papa mostrou uma desconhecida faceta carismática na visita ao Brasil!



Eu não sou a pessoa mais imparcial para falar do papa. É muuuito fácil para mim antipatizar com esse alemão.



Mas dizer que esse cara é simpático?!? Do outro papa, o JPII, eu também não gostava. Mas sempre tive de admitir: era um velinho simpático. Era um filho da puta, mas até eu fiquei com pena dele com mal de parkinson, até eu achava o máximo ele beijar a terra dos lugares para onde ia, mesmo quando precisava que a colocassem em uma caixinha porque a coluna não deixava mais ele se abaixar, até eu achava uma graça que ele dissesse que, se deus é brasileiro, o papa é carioca, ou cantasse no RS “ucho, ucho, ucho, o papa é gaúcho” (rimas forçadas à parte). Um calhorda adorável.

Isso era alguém carismático! Eu comecei a simpatizar com o velho quando, olha que bobagem, vi ele todo vestidão de papa, toda aquela brancura na roupa, a touquinha na cabeça, e um tênis nos pés. Era um papa que fazia uma ótima presença, e, tudo bem, me convenceu. Não o torna menos machista, menos preconceituoso, mas, enfim, mesmo o Collor, ainda é carismático, fazer o quê?



Eu entendo, odeio mas entendo, tenh nojo mas entendo, me revolto mas entendo que a mídia faça propaganda do papa. Não vivemos em um país onde a igreja separou-se do Estado, na prática. Um exemplo disso é que vivemos sob a proibição cristã ao aborto e ao casamento entre homossexuais. Mentem, a gente sabe. Mas descaradamente assim? Desavergonhadamente assim? Ratzinger simpático?



Tudo bem que muito do que a mídia diz vira verdade porque a mídia disse, fosse verdade antes ou não, já não importa depois de dito e crido. A mídia diz, o povo acredita. Mas a mídia precisa se contorcer. São movimentos sutis os necessários para fazer dos Sem Terra um movimento diabólico, dos EUA o paraíso, da América Latina um inferno, etc. A coisa quase sempre é bem montada.



Mas mentir assim, de uma maneira tão escancarada! Dizer que porque ele apareceu na janela do quarto ou quebrou o protocolo caminhando com as pessoas, tornou-se carismático? Qualquer pop-star faz isso, e o papa, como descobriram os engenheiros hawaianos, é pop. Dissessem que o Ratzinger é pop. Seria simpático. Mentiroso mas simpático. Simpatia independe, infelizmente talvez, de V ou F.



Eu sinto como se eu tivesse lido que o papa levitou com o poder o espírito santo (a divindade, não o estado).



Enfim, eu, que estava relaxando, lendo bobagens, tive que parar tudo para comentar isso, que o papa é, segundo a Folha de S. Paulo em sua versão on line, carismático.



Quando eu tiver dinheiro, poder e fama, espero que digam que eu peso 50kg. Se o carisma ratzingeriano colar, qualquer coisa cola.





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Teoria da Relatividade ou Física Quântica?

Segundo a nossa Constituição, a Carta Magna, o Brasil é um estado laico, o que significa que nenhuma religião, crença ou descrença religiosa tem preferência ou é depreciativa.



No regimento interno da Câmara dos Deputados, é obrigatório iniciar as sessões invocando a proteção de deus, e também é obrigatório que a bíblia esteja em algum lugar acessível, disponível para que qualquer deputado cite-a ou leia-a.



A Câmara dos Deputados, obviamente, não fica no Brasil. Estranhamente, ela também não está em outro lugar algum do mundo, já que é a Câmara dos Deputados brasileira.



Deve ser a tal Teoria da Relatividade, ou então coisa da Física Quântica mesmo, essa história de que um estado laico obriga o pedido de proteção a deus e a presença de uma bíblia para que os nossos legisladores sempre possam realizar seus trabalhos segundo preceitos cristãos. Alguém poderá dizer “mas eles não precisam trabalhar segundo preceitos cristãos”, e alguém poderia, então, replicar “mas Deus, com ‘d’ maiúsculo, não é cristão? E a bíblia é o que, hindú?”



Porque se a Câmara dos Deputados ficasse no Brasil, não poderia ter, em seu regimento interno, essas obrigações de testemunho cristão.



Claro, pode ser que, talvez, tenhamos que admitir que essa conversa de Estado laico seja uma mentira tão grande quanto as armas de destruição em massa iraquianas. Pode ser que a Constituição seja – oh, céus! – uma farsa. Ou pelo menos parte dela. Talvez, essa invocação a deus e essa bíblia sejam uma ofensa à Constituição. Afinal, ninguém me garante que a nossa Câmara dos Deputados não se localize no Brasil, esse grande Estado laico, e talvez fique em  Brasília, que é onde ficam as sedes do poder executivo e do judiciário. Alguém que mora em Brasília saberia me dizer se a Câmara dos Deputados fica aí, por favor?



Acho que uma pessoa cristã tem o dever de seguir os preceitos de sua religião. O mesmo vale para um Estado cristão. Mas porque motivo um Estado laico seguiria preceitos cristãos?



Se for esse o caso (quer dizer, se a Câmara ficar mesmo em Brasília), eu gostaria de dizer que me agradaria muito viver em um Estado laico que estimulasse a diversidade, e não desse prioridade a nenhuma crença.



Mas, confio na minha Pátria! Sei que não, isso não pode ser assim! A Câmara dos Deputados brasileira só pode localizar-se em outro lugar que não seja o Brasil, sem, no entanto, localizar-se em outro lugar qualquer, porque viraria bagunça se a Câmara da China fosse aqui, a da Argentina fosse no Canadá e a da Inglaterra, na Antártida, por exemplo.

Por isso, por essa confiança em meu país, só me resta descobrir se esse fenômeno, uma Câmara que não está em lugar algum, embora exista, é um fenômeno d Física Quântica, ou da Teoria da Relatividade.





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Foda-se

Construíram um museu que traz provas científicas da criação do mundo em seis dias.



Não sei quantos mil jovens gritram “não ao aborto!” não sei em que estádio de São Paulo enquanto tocavam rock católico.



O papa, chefe de estado do Vaticano, ameaça excomungar deputados que não votem pela descriminalização do aborto, por mais que, pelo que eu saiba, um país não possa se intrometer na vida do outro.



Mas foda-se: o dia está lindo, temperatura agradável, é sexta-feira, e não vai ser isso que vai me estressar. Pelo menos não hoje.





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