Li uma vez em algum lugar, acho que em uma entrevista de Deleuze (talvez o Abecedário, não sei), que direita e esquerda não existem, e nem nunca existiram.
Comorbidade
Existem coisas que se faz de um modo que não se deveria fazer e, se algo sai errado por causa dos outros, ainda assim irão culpar quem estava fazendo as coisas de modo errado, e não os outros que botaram tudo a perder. Atravessar fora da faixa de segurança, por exemplo, está errado, mas mesmo assim milhares de pessoas fazem isso todo o dia, e se alguém é atropelado fora da faixa, alguém vai aparecer para dizer “é, mas tava fora da faixa”, apesar de a prudência na direção ser necessária independente de haver uma faixa ou não.
Tiririca
Eu não me recordo quando foi que Boris Casoy “deixou escapar” seu desprezo para com os lixeiros que desejavam felicidades ao público da Band, mas me recordo da indignação, relativamente expressiva, que isto causou na época. Uma indignação mais do que justificada, pois desprezar alguém baseando-se em sua profissão não é diferente de desprezar alguém por conta de sua cor, nacionalidade, orientação sexual, religião, gênero, etc. Como estamos em um país livre, as pessoas tem liberdade de desprezarem quem quiserem pelo motivo que for, mas eu também me dou liberdade para supor a mentalidadezinha medíocre que sustenta um desprezo baseado no que foi mencionado na frase anterior. Bom, agora você já sabe o que o Boris despreza e o que eu desprezo também.
Vênus e Mercúrio
Acho que astrologia funciona, mas não no sentido de prever se eu vou ter filhos e quantos, como será meu casamento ou se devo fazer tal coisa ou não. Indiretamente, ela faz isso, mas mais porque indica tendências psicológicas do que por supostamente prever o futuro.
Oposição
No início deste ano, ou no final do ano passado, eu tive uma discussão (no sentido de debate) com alguém do twitter. Aparentemente era um jornalista e no fim ele me bloqueou – mas já estou fazendo terapia para me recuperar disto.
Motivos
Eu ainda estou às voltas com meus motivos pelos quais começar (re-começar, na verdade) um blog. Da primeira vez, era algo terapêutico. Era outras coisas também, mas principalmente terapêutico. Não pelo fato de eu falar sobre a minha vida, mas sim por alguma coisa parecida com ter voz. Era isso ou começar a falar sozinho. Por isso não me importava – e ainda não me importa – ser relevante. Não que eu não queira que ninguém leia esse blog, pelo contrário, faço muito gosto; a questão é que antes da leitura alheia, vem minha própria escrita.
Um blog desinteressante
Eu tinha, quando fiz esse blog, uma preocupação em fazer uma “geografia” de mim, ao invés de contar algo como uma história, ou um histórico de mim – por isso o endereço é minhageografia, e não minhahistoria, que devo ter cogitado em princípio (e além disso ia ficar com cara de título de música). Embora eu ainda tenha a mesma idéia, a de não estabelecer uma coerência entre os meus posts (é um blog sobre coisa alguma, qualquer coisa; antes de ser sobre mim, é a partir de mim), não quero mais brincar de geografia: se antes ele era um “front anti-historicizante” (ainda que muito discretamente), hoje tanto faz: eu não tenho mais nada contra a historicização, e apenas uma tênue preferência pela geografia, mas isso – repito – não faz mais diferença.
Dentre as minhas muitas opiniões anteriores: algumas continuam as mesmas, outras mudaram, outras mudaram em parte, outras mudaram tanto que até parecem outra opinião, outras são sobre assuntos aos quais não dou mais importância, outras são sobre assuntos aos quais ainda dou importância, a questão é: não me comprometo com elas. Pode ser que hoje eu dê uma opinião diferente da opinião de dois anos atrás sobre o mesmo assunto, pode ser que seja a mesma, etc. Talvez eu leia o que eu escrevi, talvez não.
É que naquela época ter um blog não era como me parece que é agora: mas tanto hoje como ontem eu não espero ter relevância, e nem escrever com maior clareza. A única diferença é que agora eu tenho um twitter e talvez eu faça propaganda deste blog lá.
Ontem
Eu comecei este blog há duzentos anos (desde 2006, mais precisamente) sabe Deus por que motivo. Tem um post, de 4 ou 5 anos atrás, que explica/define/posiciona o blog e o seu autor (eu).
Mas me interessa mais explicar o que, hoje, eu acho que era e o que ele é ou vai ser ser hoje e adiante – eu poderia simplesmente copiar e colar, ou então linkar aquele post, mas preferi nem ler ele, porque eu sou simultaneamente a mesma e outra pessoa em relação àquele tempo.
Minha idéia, naquela época, era fazer um registro dos meus pensamentos, idéias, reflexões, vida, etc. Tinha a intenção de fazer algo semelhante a quebrar um paradigma “historiográfico” e organiza-lo de um modo “geográfico”, porque na época eu andava lendo Mil Platôs e coisas assim. Por “geográfico” eu entendia registrar algo sobre diferentes “setores” da minha vida, pressupondo não seria uma exposição exaustiva de nenhum deles, e tendo por critério principal (mas não único) o fato de tal ou qual assunto estar em evidência na minha vida ou nos meus pensamentos. Ou seja, nada de regularidades (não era um blog sobre alguma coisa, nem sobre mim), a não ser aquilo que estivesse em destaque no momento. A idéia de uma geografia (considere que não sou um geógrafo nem tenho qualquer tipo de formação neste assunto) era esta: uma “vista” parcial sobre uma determinada “região” (= minha vida, ou meus estudos, ou uma notícia qualquer, etc) minha, sem necessariamente condicionar as postagens posteriores às anteriores, a não ser eventualmente; era para ser diferente de uma história porque não estava preso (o blog) a nenhum tipo de coerência temporal, pois eu poderia falar sobre algo antigo, atual ou divagar sobre o futuro sem pautar o texto por isto.
E no próximo post eu falo sobre o que é para ser o blog a partir de agora.
Nem lembrava deste blog…
Oh! :O
Relação
A Avaaz.org é uma rede de ativismo on-line que permite que as pessoas se mobilizem de uma maneira rápida e fácil, mas de uma forma que tenha um verdadeiro impacto sobre questões importantes globais. Dê uma olhada no site: http://www.avaaz.org
Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! + Buscados: Top 10 – Celebridades – Música – Esportes
Tesão pelo amor e amor pelo tesão
Existe o amor e existe o tesão, que são duas coisas diferentes.
Mas você pode ter amor pelo tesão. Pode-se amar de tudo (se aquilo que você ama vai lhe fazer bem, depende daquilo que você ama e da maneira como se relaciona com esse amor), inclusive o tesão. Esse é o caso daquelas pessoas que conseguem fazer sexo com tudo o que lhes dá tesão. Não é necessariamente o caso de uma pessoa bissexual. Mas é o caso de uma pessoa que tenha necessidade, quase descontrolada, de fazer sexo com aquilo – qualquer coisa, toda coisa – que lhe dê tesão, que lhe excite.
E você também pode ter tesão pelo amor. Assim como pode-se amar de tudo, pode-se sentir tesão por tudo, também (e, novamente, aquilo que lhe causa tesão pode lhe fazer bem ou mal dependendo do que lhe dá tesão e da maneira como você se relaciona com seu tesão), inclusive pelo amor. Esse é o caso das pessoas que não conseguem diferenciar sexo de amor. Transar somente com a pessoa que se ama, ficar anos sem transar com ninguém são coisas normais para pessoas assim.
Mas as pessoas não se dividem entre esses dois grupos, o grupo do amor pelo tesão e o grupo do tesão pelo amor – nada mais brochante do que ouvir a clássica (machista, antiquada e sem-graça) estereotipação “mulheres fazem sexo por amor, e o homens amam para fazer sexo”, ou “homens diferenciam sexo de amor, e mulheres não”, essas classificações preguiçosas, enfadonhas, malvadas e nocivas.
Uma pessoa pode sentir tesão pelo amor e, também, amar o tesão; pode ser que essa pessoa dê maior proeminência ao tesão ou ao amor, mas que considere ambas as coisas indispensáveis; ou pode ser também que considere ambas dispensáveis. Uma pessoa pode amar mais seu conforto, status ou segurança financeira do que a uma pessoa, ou sentir mais tesão por essas coisas do que por uma pessoa, e pode ser que esse “uma pessoa” seja “qualquer pessoa”. Ou pode amar as pessoas e sentir tesão por outras coisas – e tanto pode sentir tesão pelo amor quanto pode sentir amor pelo tesão; sem contar que pode sentir tesão pelas pessoas (por todas, por algumas, por algum tipo de pessoas, por uma característica determinada) e amar outras coisas (como status, segurança financeira ou carros). Uma pessoa pode amar um tipo de pessoas (seus filhos, as pessoas de um determinado gênero) e sentir tesão por outras (amantes, pessoas loiras), e pode ou não sentir mais amor pelo tesão, ou mais tesão pelo amor.
Por isso, graças a essas inúmeras configurações humanas, que simplesmente classificar as pessoas entre o grupo que ama o tesão e o que tem tesão pelo amor é, no mínimo, um pouco de preguiça de pensar.
Holocausto
Por um lado, um bispo católico dá uma entrevista em que nega que tenha havido o holocausto judeu – no máximo, um 200 ou 300 mil mortos*, segundo o bispo; de outro lado, uma reação internacional contra as declarações. Ótimo que tenha havido uma reação internacional contra um absurdo destes. Existem três motivos para você negar o holocausto: ou você é nazista, ou apenas não gosta de judeus, ou é uma pessoa um tanto burra. Duvido que existam outros motivos – portanto, duvido que qualquer negação do holocausto seja justificada.
A reação internacional contra a posição do bispo se baseia em uma aversão generalizada ao nazismo (aversão esta muito bem-vinda). O problema desta aversão é que ela é limitada, acontece praticamente apenas na esfera do uso dos símbolos e das palavras.
Ninguém pode dizer “viva o nazismo!” ou “heill Hitler!” impunemente hoje em dia, e muito menos ostentar uma suástica na sua pele. Mas qualquer um pode decidir expulsar imigrantes do seu país, e ainda por cima sob argumentos como o desemprego (os imigrantes “roubam” os empregos dos cidadãos – um argumento muito parecido com um dos que o regime nazista usava para justificar-se), pode tratar estrangeiros como frutas podres, deportar em massa, praticar a xenofobia sem reservas, que é o que acontece na Europa hoje em dia; assim como qualquer um pode atacar um árabe, alguns árabes ou mesmo uma região habitada na maioria por árabes porque eles são terroristas, malvados, etc, qualquer um pode, inclusive, negar a um estado muçulmano o direito de manipular energia atômica, porque (supostamente) um estado muçulmano não é tão confiável, e porquê não é confiável?, porque é muçulmano.
Ninguém pode dizer “viva o nazismo!” ou “heill Hitler!” impunemente hoje em dia, e muito menos ostentar uma suástica na sua pele. Mas pode adotar práticas semelhantes, sob outras justificativas, sob outros nomes e sem as mesmas palavras de ordem do nazismo, sem maiores preocupações. Talvez falte expandir a aversão ao nazismo à esfera da prática, ou talvez a prática seja um indício de que a aversão não existe na esfera dos valores.
Mas é interessante observar como o aprendizado que o erro nazista trouxe (porque toda a Europa diz que aprendeu com este erro) não foi a necessidade da criação de meios de evitar o preconceito, no caso um preconceito xenófobo, mas sim a importância de camuflar práticas condenáveis sob termos inofensivos. Ou seja, a principallição do nazismo parece ter sido a importância e a necessidade da dissimulação.
*como se 200 ou 300 mil pessoas mortas não fosse um holocausto.
Sonho
Eu sou um sonho que não aconteceu. Sonhos não são reconhecidos. Ninguém dá importância aos sonhos – talvez apenas quem os sonhe; mas ninguém quer saber dos sonhos alheios. Especialmente dos que não aconteceram.
A hora e a vez da lixeira
Existem muitos motivos pelos quais alguém não goste – ou deixe de gostar – de você: incompatibilidade de gênios, incompatibilidade de valores, incompatibilidade de tempo, pode ter perdido a graça, você pode magoar muito a pessoa, fazer algo de que ela não tenha gostado, pode ser que alguém tenha inventado coisas sobre você e a outra pessoa acreditou, enfim, motivos não faltam.