Santos Inocentes mártires (28/12)
Notícia no site do G1
Salmo 81/82 (quem és tu para julgar o teu irmão?)
Abaixo o clima natalino!!
O aspecto mais irritante do Natal é o clima de esperança, harmonia e paz que as propagandas natalinas evocam. E o mais deprimente é o efeito que este clima causa em quem passou o ano inteiro correndo atrás deste clima e não alcançou.
Logo mais, depois do Natal, vão recomeçar as sugestões para planejar o ano que vem, revisar o ano que passou e criar expectativas de que em 2022 tudo vai ser diferente, como em um passe de mágica inspirado na magia do natal emoldurada pelas decorações das lojas e inspirada nas imagens de felicidade das ceias farta de Natal e a troca de presentes caros protegidos por embalagens brilhantes e arrematadas em belíssimos laços praticamente impossíveis de serem feitos.
Isto pode parecer apenas mau-humor, mas o fim de ano nunca foi um período de paz, pelo menos fora das propagandas. Bom, talvez seja mau-humor, afinal de contas, mas não é “apenas” mau-humor: todo este clima é uma armadilha consumista para que todos sintam-se encorajados a gastar o décimo-terceiro (um dos poucos direitos que ainda não perdemos) e, porque não, a afundar-se em dívidas já que até os poucos direitos preservados estão valendo pouco (desvalorizados para que ninguém sinta muita pena quando nos tirarem, quem sabe).
Este clima natalino é muito irritante porque se baseia em nada e serve somente como estímulo consumista, e as expectativas que este clima insufla só vão se realizar em caso de coincidências. De modo geral, todo ano-novo vai ser tão ruim ou tão bom quanto foi o ano que está terminando, mas se o clima natalino fosse um clima de ponderação e raciocínio, ninguém gastaria tanto, nem colocaria suas esperanças em expectativas que, como sempre, estão destinadas a se tornarem frustrações doze meses depois.
Ao contrário do que pode parecer, eu não tenho nada contra fazer planos, sonhar e ter expectativas. Mas é parecido com o exemplo de Kant do pássaro imaginando que no vácuo sua velocidade seria maior devido à ausência do atrito do ar, mas sem ponderar que é este mesmo atrito que lhe permite levantar vôo, pra começo de conversa: o clima natalino consumista é mais ou menos como este vácuo cheio de luzes piscantes e vitrines brilhantes, cuja ausência de atrito dá a sensação de que agora vai, mas esconde que é um vácuo que não vai dar sustentação quando alguém quiser bater suas asas.
É necessário ter esperanças, mas também é necessário ter os pés no chão, como duas asas que, se falta uma, não adianta bater desesperadamente a outra.
Por isto prefiro o clima de Natal da oração do breviário do dia 18 de dezembro:
Ó Deus todo-poderoso, concedei aos que gememos na antiga escravidão, sob o jugo do pecado, a graça de ser libertados pelo novo natal do vosso Filho, que tão ansiosamente esperamos. Por NSJC…
Entra ano e sai ano e nós ainda gememos na antiga escravidão, e não seremos libertados pelos fogos de artifício da virada – nem pelas compras do natal. Mas seremos libertados pelo novo natal de Cristo, uma esperança que dá consistência a quaisquer outras esperanças que se fundamentem nela.
Gememos ainda, e vamos continuar a gemer ano que vem também. Mas também vamos continuar a caminhar porque esta esperança, de ser libertados pelo novo natal de Cristo, só acontecerá de uma hora para a outra depois que for se realizando aos poucos, no dia a dia desta caminhada, de modo quase imperceptível. Não é que alguém vá poder dizer, ainda na terra, “estou livre, cheguei lá”: quando puder dizê-lo, já vai estar no céu. Mas esta libertação é a culminância de um processo desenrolado pouco a pouco enquanto estamos aqui, iniciado pela crucificação e Ressurreição de Cristo, que não se compra nas promoções de fim de ano, não está dentro do peru de natal, nem aparece entre os brilhos das propagandas de compre e seja feliz típicas deste período.
O desespero de algumas pessoas com este clima natalino (o do consumismo), que fica escondido e amordaçado pelo próprio clima natalino, é também o resultado imediato do vácuo que ele gera (para dar a sensação de que agora vai). Mais do que um resultado, talvez seja mesmo o preço deste clima todo.
A esperança sustentável do Natal é o nascimento de Cristo, que é a nossa libertação, nascido de um “sim” de Maria carregado de esperanças que não eram um clima de expectativa vazio, mas da vida que se renova na cooperação entre o Criador e a criatura cooperando tanto com ele quanto com as outras criaturas entre si.
Hino de Laudes a partir de 17/12
A economia ou a vida¹
Deus criou a humanidade “modelando” barros e costelas e insuflou nesta matéria o espírito, e mesmo quem não acredita nisto aceita que nada na origem da vida envolveu dinheiro. Não precisamos de dinheiro para amar, para sorrir e nem para ter esperança. O dinheiro não é o sentido da vida, e só a ganância (um brinde anexado no Pecado Original) é capaz de esvaziar o coração de alguém a ponto de fazer do dinheiro um fim em si mesmo – e é este tipo de ganância que, entre outras coisas, faz com que a maioria permaneça em uma injustificável miséria enquanto uma micronesca minoria acumula mais e mais matéria, mais ou menos como buracos negros que sugam tudo, desde a matéria até a luz ao seu redor (eu não sei qual é o contrário de “gigantesca”, e “pequenesca” ainda me pareceu ser ainda muito grande para a des-proporção da quantidade de ricos para com a quantidade de pobres).
A partir desta perspectiva da futilidade que é o dinheiro, quem tem demais pode muito bem tentar convencer quem não tem, ou tem muito pouco, de que Deus fez o mundo assim, sem recursos disponíveis para todo mundo, e que o melhor é aceitar, afinal, quem é que vai querer discutir com Deus (além de Jó)? Não faz tanto tempo assim, aliás, que a ideia de que é melhor ser pobre porque Deus gosta dos pobres servia como um conto-do-vigário teológico para manter os explorados vergados sob o jugo dos seus exploradores. Depois do Concílio Vaticano II a conversa é outra, mas nem todos os cristãos levam-no em conta (e nem mesmo todos os católicos o aceitam), muito menos todos os integrantes das outras religiões, e assim continuam proliferando contos-do-vigário ora convencendo os pobres a ficarem pobres porque Deus ama a pobreza deles, ora convencendo os pobres que Deus está só esperando um investimento feito com fé para trocar isto por muito dinheiro (e se o dinheiro não vem, é porque faltou fé, enquanto isto tem que continuar investindo até que a fé apareça).
Assumindo que a Doutrina Social da Igreja representa mais ou menos a vontade de Deus, o que Deus quer é que a criação esteja disponível a todas as pessoas que ele criou (e apesar de Deus não ter criado o dinheiro, não deixa de ser uma criação indireta já que o ser humano, criado por Deus, criou por sua vez o dinheiro, entre outras coisas): não que todas as pessoas devam poder comprar tudo o que possam sonhar, nem que todas devam ficar peladas em Assis como São Francisco, mas só que todas tenham acesso seja ao que Deus criou, seja ao que o ser humano criou com o que Deus criou.
Eu parto destes princípios religiosos para desvalorizar o dinheiro, mas não é necessário partir do mesmo princípio para chegar à mesma conclusão: o dinheiro não é o centro em torno do qual a vida e o mundo giram em volta.
Quando o bolsonarismo colocou o falso dilema da escolha entre economia e saúde, a intenção era preservar a saúde e a economia dos mais ricos às custas da saúde e da economia dos mais pobres, pois a intenção era que os mais pobres continuassem a tocar os serviços necessários para os mais ricos e, morrendo ou ficando incapacitados neste processo, não teria problema pois o que não falta no país são desempregados para substituí-los. Acontece que qualquer caso em que economia, saúde (expandindo agora para itens que não entraram na questão da pandemia), amor, trabalho, religião, etc., entrem em conflito, não é porque uma coisa valha ou tenha que valer mais do que a outra, mas porque uma coisa está sendo injustamente mais valorizada do que a outra. Até os martírios cristãos entre os séculos I e III foram causados por governantes que impuseram um conflito, manter a fé ou a vida, que não existiria sem aquelas decisões governamentais.
Mas não é porque o bolsonarismo antepõe a economia à vida, nem porque dinheiro não é tudo (as últimas quatro palavras antes deste parêntesis resumem os primeiros quatro parágrafos deste texto, mas eles deram muito trabalho para eu deletá-los agora e substituí-los por elas) que melhorar as condições financeiras da população se torne uma questão classificada entre um problema secundário e um problema em si.
A maioria das pessoas que melhorou as condições de vida (quer dizer, as condições materiais) graças aos governos petistas foi quem votou mal para eleger este governo bolsonarista, mas isto não é motivo para que devolver-lhe melhores condições dependa de ter aprendido a(lguma) lição. Gente vivendo em condições decentes votando mal é melhor do que gente morrendo à míngua votando bem – e se o ciclo de viver bem e votar mal para viver mal e votar bem pra viver bem e votar mal (e assim por diante) ficar se repetindo, é melhor repeti-lo até que a maioria aprenda a viver bem e votar bem (sem cair no conto das arminhas e mamadeiras de piroca da vida) do que esperar que aconteça uma espécie de aperfeiçoamento da consciência para depois melhorar as condições de vida das pessoas.
1: Texto inspirado em parte nos cometários deste post do Facebook.
Lawfare
Postagem original no Twitter
«Agro é censura»
Postagem original no Instagram do Brasil de Fato
A educação sofre sendo sucateada; os professores e os PMs, ganhando mal; a população, à mercê tanto da bandidagem quanto da violência policial; mas é a honra do agronegócio que as autoridades se empenham em resguardar – porque para elas o dinheiro do agronegócio vale mais do que a dignidade da população.
“Um olhar sobre apps, entregadores e as novas lutas”
São Musk
Teste 2
Teste
O anti-modernismo anacrônico
Se o conservadorismo quisesse o retorno à Idade Média, seria de se esperar que pelo menos as Universidades, criadas naquele período, fossem preservadas, mas nem isto se salva. O que interessa a este conservadorismo, pelo menos quando se mistura com o catolicismo, é o “programa” de Gregório XVI:
A reação agressiva da instituição católica contra a modernidade não tardaria. Gregório XVI (1831-1846), o novo papa, realizou um pontificado dentro de uma linha programática da situação cultural e política de seu tempo. A cultura era dominada pelo iluminismo, anticlericalismo, maçonaria e pelo elemento antirreligioso, enquanto na política oficial predominava a restauração. Neste contexto, o papa publica a encíclica Mirari vos (1832). Entre as temáticas tratadas, em termos duríssimos, estão as duas fontes do mal: liberdade de imprensa e o indiferentismo religioso. Na mentalidade da cristandade medieval e da sociedade perfeita reinantes, o papa não consegue constatar nenhum sinal positivo em seu tempo e, por sua vez, não identifica as situações preocupantes dentro da instituição religiosa que necessitam de transformação. A ideia de renovação da Igreja é rejeitada, considerada um ultraje. Condena as ferrovias, pontes, energia elétrica. Tudo é sinal da modernidade e, por consequência, erros que devem ser condenados. O modelo de Igreja da cristandade prevalecerá durante todo o século XIX. (Enc. digital Theologica Latinoamericana, Catolicismo contemporâneo)
Este modelo de Igreja da cristandade, em que a fé é a condição da dignidade de alguém, manteve-se em pé às custas de um golpe político, quando Pepino, O Breve, inaugurou a dinastia Carolíngia pela deposição da dinastia Merovíngia com o aval do papa Zacarias (servindo como modelo para o Congresso brasileiro em 2016, que deu aval ao golpe contra Dilma), e precisou do reforço mútuo entre a Igreja e o Estado para sobreviver.
Foi a partir deste golpe que as decisões políticas começaram a ser confundidas com a vontade de Deus, e a fé, a condição para a cidadania, pelo menos é o que parece para alguém que não é nem teólogo nem historiador.
Gregório XVI tentou reviver a cristandade à força da autoridade papal, e os conservadores atuais, tentam hoje o mesmo à força do bolsonarismo. Este revival talvez até fosse uma ideia plausível lá por 1800, só que hoje em dia serve apenas a duas coisas: legitimar a exploração humana e, no cristianismo, substituir a transcendência da espiritualidade pela imanência da política.
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