Obituáro

É estranho quando acontece alguma coisa que deixa a pessoa – pelo menos quando a pessoa em questão sou eu – na seguinte situação: não sei se fico alegre ou triste. Terceira alternativa: nem um nem outro, porque minha vida não vai mudar em nada.
(Cito Filó) “Mórreu” (fim de citação) o ex-ditador Augusto “Malvado” Pinochet. “Ufa, menos um no mundo”, penso yo, “se bem que tem tantos ditadorezinhos por aí… Mas, pelo menos, podemos descobrir que vaso ruim quebra sim!”. Por outro lado, fica o sentimento de vingança (isso é estranho, ele não fez nada para mim, nem matou sequer um parente meu – diferente do que fez com o povo chileno, onde não existe família que não tenha perdido alguém pelas mãos, pelas ordens ou simplesmente, de maneira geral, pelo regime horrendo deste vovôzinho simpático de olhos azuis – porque eu iria ter sentimentos de vingança??) suspenso: ninguém vai poder atirar na cara dele “Assassino!” com a proteção da lei. Dane-se, claro, a proteção da lei: já atiraram isso na cara dele muitas vezes (eu espero). Mas seria muito bom chamá-lo de assassino legalmente. Sei lá, dá segurança…
Então, fico sem saber se digo Iuuupí! ou Ahhh, tão cedo?
Em todo caso, cito alguém cujo nome não me lembro agora: “Morreu? Antes ele do que eu.”

Vi em uma reportagem que atribui-se a ascenção de Pinochet ao poder à ganância de sua esposa. Ou seja, ele traiu Allende não por ser horrível, mas por ser um homem apaixonado desejoso de agradar a esposa. Isso me lembra outra história… mas não sei bem qual… parece… parece que envolvia algo como um casal nú, uma cobra, uma maçã e uma Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal… Bom, de qualquer maneira, é gosto de pensar que tenha sido assim mesmo: Pinochet era, no fundo, um fraco sem personalidade incapaz de dar um passo sequer com suas próprias pernas, e sua esposa, uma perua (o termo pejorativo, e não o automóvel). Nada contra fracos sem personalidade etc… e nem contra peruas (conheço várias pessoas tanto de um quanto de outro grupo, e algumas delas são muito legais, fazer o quê?). Mas com certeza pessoas como o sr. e a srª. Pinochet odiariam ser vistos assim.

Meu texto, especialmente no final, denota um certo preconceito contra eles? Mas eles merecem TODO o meu preconceito e tudo o que de pior eu tiver para oferecer. Só não ofereço mais porque já é muito conceder-lhes meu preconceito – já que, no fundo, nem isso eles merecem.

São falecimentos assim que, às vezes, fazem com que eu espere que NÃO haja vida após a morte. Arder no mármore do inferno seria um presente muito grande para essa gente.