Se você quiser saber com base em que estou escrevendo isso, leia esta reportagem no El País, em espanhol, que foi de onde eu tirei o título deste post.
O presidente promovido somente agora a ditador da Líbia, Khadafi, tem todas as razões do mundo para se sentir seguro da manutenção do seu poder. Não que seja uma atitude prudente, com meio mundo (aka Europa e EUA) atrás dele; e não que não saibamos que isto é jogo de cena, pois duvido que ele esteja tão tranquilo assim, mas deve estar muito longe de não ter mais esperanças de manter-se no poder.
Afinal de contar, ele tem investimentos em todo o mundo, e não são investimentos mirradinhos, como se pode ler na reportagem do El Pais. Seria de se esperar que qualquer pessoa, empresa ou país que tenha negócios com ele esquecesse, na hora, os prejuízos que acarretariam a perda de seu poder, e o acesso do ditador às suas posses. Mas só agora, há poucos dias, bloquearam os bens do ditador, e de maneira geral só agora perceberam que ele era um cara malvado. Até bem pouco tempo atrás, era um grande parceiro do desenvolvimento econômico mundial. Isso quer dizer que demorou para desconfiarem de um homem tão nobre assim (um grande investidor), e demorou muito para que se combatesse o prejuízo humano às custas do prejuízo financeiro – pois, até então, evitava-se o prejuízo financeiro às custas do prejuízo humano.
Daqui a pouco, um “pouco” eventualmente muito longo (quando uma ditadura passa a se alongar demais?) ele cai, afinal a Líbia não é a China. Mas o que eu me pergunto é quantos Khadafis deve haver pelo mundo. Ou quantos Khadafis menores pode haver pelo mundo, Khadafis em governos regionais dentro de um país, Khadafis presidindo empresas mais ou menos poderosas, Khadafis municipais, Khadafis de bairro…
Eu tenho uma teoria de que, quando Hitler morreu, aquele receptáculo de intenso nazismo que era o Führer explodiu em diversos pequenos Hitlers, como se todo o nazismo concentrado no ditador tivesse se espalhado, gerando não líderes capazes de convencer as massas a nazificar um país, mas hitlerzinhos, cujos representantes mais expressivos talvez sejam os skinheads-espancadores, mas essa micro-hitlerização expandiu-se em diversos pequenos Hitlers, em pequenos atos nazistinhas, às vezes muito pequenos e quase imperceptíveis. Pois bem, temo que já haja uma khadafização no mundo, repleto de pequenos khadafis e, o que é pior, talvez o próprio Khadafi seja, no fim das contas, apenas um imitador de tantos outros que vieram antes dele.