Se o conservadorismo quisesse o retorno à Idade Média, seria de se esperar que pelo menos as Universidades, criadas naquele período, fossem preservadas, mas nem isto se salva. O que interessa a este conservadorismo, pelo menos quando se mistura com o catolicismo, é o “programa” de Gregório XVI:
A reação agressiva da instituição católica contra a modernidade não tardaria. Gregório XVI (1831-1846), o novo papa, realizou um pontificado dentro de uma linha programática da situação cultural e política de seu tempo. A cultura era dominada pelo iluminismo, anticlericalismo, maçonaria e pelo elemento antirreligioso, enquanto na política oficial predominava a restauração. Neste contexto, o papa publica a encíclica Mirari vos (1832). Entre as temáticas tratadas, em termos duríssimos, estão as duas fontes do mal: liberdade de imprensa e o indiferentismo religioso. Na mentalidade da cristandade medieval e da sociedade perfeita reinantes, o papa não consegue constatar nenhum sinal positivo em seu tempo e, por sua vez, não identifica as situações preocupantes dentro da instituição religiosa que necessitam de transformação. A ideia de renovação da Igreja é rejeitada, considerada um ultraje. Condena as ferrovias, pontes, energia elétrica. Tudo é sinal da modernidade e, por consequência, erros que devem ser condenados. O modelo de Igreja da cristandade prevalecerá durante todo o século XIX. (Enc. digital Theologica Latinoamericana, Catolicismo contemporâneo)
Este modelo de Igreja da cristandade, em que a fé é a condição da dignidade de alguém, manteve-se em pé às custas de um golpe político, quando Pepino, O Breve, inaugurou a dinastia Carolíngia pela deposição da dinastia Merovíngia com o aval do papa Zacarias (servindo como modelo para o Congresso brasileiro em 2016, que deu aval ao golpe contra Dilma), e precisou do reforço mútuo entre a Igreja e o Estado para sobreviver.
Foi a partir deste golpe que as decisões políticas começaram a ser confundidas com a vontade de Deus, e a fé, a condição para a cidadania, pelo menos é o que parece para alguém que não é nem teólogo nem historiador.
Gregório XVI tentou reviver a cristandade à força da autoridade papal, e os conservadores atuais, tentam hoje o mesmo à força do bolsonarismo. Este revival talvez até fosse uma ideia plausível lá por 1800, só que hoje em dia serve apenas a duas coisas: legitimar a exploração humana e, no cristianismo, substituir a transcendência da espiritualidade pela imanência da política.
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