Em uma aula de física, aprendi que o movimento é uma variação da distância entre um objeto (que se move) e um ponto de referência. Como no segundo grau eu era inteligente, perguntei para o professor (não, é claro, nestas palavras): “segundo esta definição, se o objeto estiver preso por uma corda ao ponto de referência, e girando em torno dele, não vai ter movimento, pois a distância entre o ponto de referência e o objeto vai ser sempre a mesma”. Ele me respondeu (duas semanas depois) que, num movimento circular, a definição de movimento tinha algo a ver com os graus, com a variação de graus, eu acho (o objeto passa pelo grau 1, pelo grau dois, e assim vai até o grau 360 e começa a volta de novo). O que interessa é que isto parece minha vida no momento: não parece, mas algo está acontecendo.
Coisas estão acontecendo, mas nada mudou significativamente. É como um céu com as nuvens carregadas, a chuva se preparando para vir, quando você pode até sentir o cheiro da chuva chegando. Não está chovendo ainda, mas as pessoas já saem de guarda-chuvas na rua, ficam olhando para o céu o tempo todo. “É questão de tempo.”
Não sei se no meu caso é questão de tempo. Talvez toda esta tensão no ar não implique em nada, pode ser que dependa de algum movimento meu que ainda não fiz, que ainda não descobri qual é, ou como fazê-lo. Ou talvez venha uma onda, alheia à minha vontade, leve tudo e deixe só o que interessa. Não sei se o que talvez esteja por vir será conveniente ou não.
Mas enquanto isso eu escuto música. Li um texto de alguém, sei lá onde, que reclamava dos jovens viciados em músicas dos anos 80, 70 e 60 em pleno século 21. Eu acho que poucas coisas batem Beatles, L7, Doors e essas coisas assim.
Por outro lado, eu concordo que tem coisas ótimas dos anos 2000: Dixie Chicks, Indigo Girls, Portishead; e gentes antigas fazendo coisas novas legais, tipo Manu Chao, Björk, que são cantores meio anos 80, mas que fazem coisas interessantes nesse século.
Acho que o problema não é você cultuar as músicas mais antigas, afinal, não dá para não sentir saudades, mesmo que eu não estivesse nos anos 70, dos Mutantes, da Jovem Guarda ou das Frenéticas, e das coisas em outras línguas, como Fito Paez e Mercedes Sosa (e The Doors e toda a coisa manjadíssima de sempre – mas muito boa). É só uma questão de ouvir de tudo, sem rotular antes, e descobrir o que se gosta, independente do tempo ou do som. A Zélia Duncan, por exemplo: é absurdamente boa, ótima, demais – mas que fiasco com esses novos Mutantes. Cansei de escrever, mas eu tinha mais coisas, eu acho, para dizer.