Eu ainda estou às voltas com meus motivos pelos quais começar (re-começar, na verdade) um blog. Da primeira vez, era algo terapêutico. Era outras coisas também, mas principalmente terapêutico. Não pelo fato de eu falar sobre a minha vida, mas sim por alguma coisa parecida com ter voz. Era isso ou começar a falar sozinho. Por isso não me importava – e ainda não me importa – ser relevante. Não que eu não queira que ninguém leia esse blog, pelo contrário, faço muito gosto; a questão é que antes da leitura alheia, vem minha própria escrita.
Os blogs que eu mais acompanhava, e com os quais mais me relacionei estão ali naquela lista de endereços à sua direita, especialmente o Talvez minha vida seja assim, No Jardim Secreto e o Perdida em la Mancha. Hoje em dia, não acompanho nada com tanta frequência, mas gosto muito de ler um chamado Olhômetro, cuja autora escreve bem, mas muito bem (e eu, que não sou um Machado de Assis, pelo menos sei reconhecer um texto verdadeiramente bom), e outro chamado Somos Andando, sobre política. Acompanho outros blogs, mas apenas estes dois têm a ver com este post, que é sobre forma e conteúdo.
Ambos os blogs são bem escritos e ambos tem bons assuntos (“bem” e “bons” = eu gosto), mas cada um se destaca por uma ou outra coisa.
A autora do Olhômetro é, na minha opinião, uma artífice da língua. Não porque ela tenha escrito algo genial (com excessão das genialidades menores que se distribuem pelos textos dela), mas porque ela sabe usar genialmente a escrita. Simples assim. É mais ou menos como a diferença entre Hume e Kant: ambos são gênios, estudiosos e entendem bem daquilo que escrevem, mas Hume você lê porque é bom de ler, não importa o que seja; não que o assunto de Hume (ou os do Olhômetro) seja secundário, mas a escrita é tão boa que ultrapassa o próprio assunto. Já o Somos Andando não é nem de longe mal escrito, mas não chama a atenção (pelo menos não a mim) pela escrita, e sim pelo conteúdo. Mais especificamente, eu acho, pela lucidez argumentativa. Lucidez argumentativa significa, no meu mundinho, saber o que se está falando. Não no sentido de um especialista saber do que está falando, mas no sentido de ter consciência das implicações do que se disse, tanto dos efeitos quanto das causas do que se disse. Eu geralmente não concordo com o que a autora escreve, mas ela argumenta bem, e muito bem mesmo.
Daí o que tem a ver esses dois blogs com a retomada deste meu bloguinho? Primeiro que são dois blogs, aliás duas autoras, que tem habilidades literárias que eu queria muito ter mas não tenho: clareza e leveza nos textos. Mas, em segundo lugar, porque a maioria dos blogs que leio por aí são tão ou menos habilidosos do que eu (na minha opinião) e as pessoas não tem vergonha disso: escrevem mal e seguem escrevendo felizes. Normalmente são blogs que eu entro uma vez e depois nunca mais. Mas agora eu resolvi dar uma blogadinha porque eu sou uma rapaz latinoamericano que também sabe escrever mal.
Claro que eu acompanho outros blogs além destes dois e por outros motivos além da maneira como são escritos.
Mas foram estes dois blogs, aliás, essas duas autoras, que, por mais indiferentes que sejam a isto, me mostraram como se escreve direito, ou pelo menos como se escreve do jeito que eu gostaria de escrever (e não quis dizer com isso que de fato eu aprendi – pois saber como fazer não significa ter capacidade de fazer, necessariamente).