Há anos eu leio teorias que aventam a homossexualidade de Cristo, sejam supondo um caso com S. João Evangelista, sejam ponderando que treze homens vivendo juntos só poderiam ser gays. Eu não acredito nestas teorias e acho-as parecidas com as que julgam que o homem nunca foi à Lua ou que a Terra é plana. Dá pra incluir aí a Teoria da Evolução de Darwin, que provavelmente é verdade, mas que compete com os que a negam, e com os que, aceitando-a, extrapolam afirmando que o ser humano veio do macaco – duas posturas opostas mas cujos efeitos práticos e demonstrações de desinformação são as mesmas.
Uma vez eu li que de qualquer texto é possível fundamentar praticamente qualquer interpretação, portanto é até possível inventar uma revelação divina escondida neste texto mesmo – afinal eu também tenho direitos.
Mas se de qualquer texto é possível tirar qualquer interpretação, quanto mais a Bíblia, que, sem deixar de ser Palavra de Deus, é em muitos casos a tradução de uma tradução cheia de imagens e significados de culturas distantes.
Eu compraria todo este celeuma com o especial de fim de ano do Porta dos Fundos se já existisse algum debate generalizado sobre, sei lá, a interpretação da Bíblia, antes de eles lançarem mais um vídeo que, desde o primeiro, tem a intenção mesmo de ser ofensivo. Eles tem outros vídeos, cotidianos, alguns bons, outros ruins, alguns até mais ofensivos que o que dizem deste de final de ano, e outros que, por outro lado, poderiam até ilustrar temas de catequese, por exemplo.
Mas este celeuma todo não é pela ofensividade do vídeo – se fosse, todo mês haveria todo este barulho. E também não é porque retrata Jesus como gay, pois, como eu disse no primeiro parágrafo, esta ideia não é novidade. Este celeuma todo é porque eles tem publicitários competentes que sabem como fazer para chamar a atenção.
A manifestação mais sensata me pareceu a da nota da CNBB, que afirmou ter se sentido – com justiça – agredida, porque os relatos sobre o vídeo sugerem que ele seja mesmo agressivo, sem se limitar a dizer que Jesus era gay; mas, além de afirmar ter se sentido agredida, a CNBB clamou “a todos os cidadãos brasileiros a se unirem por um país com mais justiça, paz, respeito e fraternidade”, depois de reconhecer a autonomia de cada pessoa a reagir conforme a sua consciência.