Holocausto

Por um lado, um bispo católico dá uma entrevista em que nega que tenha havido o holocausto judeu – no máximo, um 200 ou 300 mil mortos*, segundo o bispo; de outro lado, uma reação internacional contra as declarações. Ótimo que tenha havido uma reação internacional contra um absurdo destes. Existem três motivos para você negar o holocausto: ou você é nazista, ou apenas não gosta de judeus, ou é uma pessoa um tanto burra. Duvido que existam outros motivos – portanto, duvido que qualquer negação do holocausto seja justificada.

A reação internacional contra a posição do bispo se baseia em uma aversão generalizada ao nazismo (aversão esta muito bem-vinda). O problema desta aversão é que ela é limitada, acontece praticamente apenas na esfera do uso dos símbolos e das palavras.

Ninguém pode dizer “viva o nazismo!” ou “heill Hitler!” impunemente hoje em dia, e muito menos ostentar uma suástica na sua pele. Mas qualquer um pode decidir expulsar imigrantes do seu país, e ainda por cima sob argumentos como o desemprego (os imigrantes “roubam” os empregos dos cidadãos – um argumento muito parecido com um dos que o regime nazista usava para justificar-se), pode tratar estrangeiros como frutas podres, deportar em massa, praticar a xenofobia sem reservas, que é o que acontece na Europa hoje em dia; assim como qualquer um pode atacar um árabe, alguns árabes ou mesmo uma região habitada na maioria por árabes porque eles são terroristas, malvados, etc, qualquer um pode, inclusive, negar a um estado muçulmano o direito de manipular energia atômica, porque (supostamente) um estado muçulmano não é tão confiável, e porquê não é confiável?, porque é muçulmano.

Ninguém pode dizer “viva o nazismo!” ou “heill Hitler!” impunemente hoje em dia, e muito menos ostentar uma suástica na sua pele. Mas pode adotar práticas semelhantes, sob outras justificativas, sob outros nomes e sem as mesmas palavras de ordem do nazismo, sem maiores preocupações. Talvez falte expandir a aversão ao nazismo à esfera da prática, ou talvez a prática seja um indício de que a aversão não existe na esfera dos valores.

Mas é interessante observar como o aprendizado que o erro nazista trouxe (porque toda a Europa diz que aprendeu com este erro) não foi a necessidade da criação de meios de evitar o preconceito, no caso um preconceito xenófobo, mas sim a importância de camuflar práticas condenáveis sob termos inofensivos. Ou seja, a principallição do nazismo parece ter sido a importância e a necessidade da dissimulação.

*como se 200 ou 300 mil pessoas mortas não fosse um holocausto.