Hillary ou Palin? Pallin ou Hilary?

Segundo um site cujo nome agora não me lembro, mas é um periódico feminista em espanhol, o debate atual entre as feministas norte-americanas é: apoiamos Sarah Palin?
O dilema é o seguinte: o feminismo foi construído em cima de determinados valores, que são, de maneira geral, a melhoria das condições de vida femininas, e, de maneira particular, a defesa do direito ao aborto, à homossexualidade sem preconceitos e com proteção do Estado e etc, e a valorização social e proteção estatal a coisas exclusivamete feminas, quase todas relacionadas à gravidez (além do próprio direito ao aborto, condições dignas de gravidez e de parto, de concepção, de proteção contra a grevidez, e também coisas relativas à saúde , etc), e também tooooda a complexa questão social, como emprego, salários, cuidados com a casa, enfim, essa não é uma lista exaustiva das exigências do feminismo e nem um resumo do mesmo. Mas já serve para diferenciar do que representa Palin: uma dona de casa conservadora – anti-aborto mesmo em caso de estupro, provavelmente contra homossexualidade e todas essas coisas. Então, para deixar claro o dilema: serve enfiar qualquer mulher na Casa Branca, ou é melhor esperar mais um pouco e o quanto for necessário para colocar lá uma representante das reivindicações feministas?
Eu pensava que isto já tinha sido decidido com o episódio da Hillary Clinton: na maior oportunidade que houve até hoje de os EUA serem presididos por uma mulher, muitas feministas disseram que como representante das mulheres ela não serve – muito machona, brigona, parece até um homem, portanto, ela representa mais valores masculinos do que femininos.
Claro que o feminismo tem muitas vozes: tem desde a Margarita Pisano defendendo um recuo tático das mulheres para elas decidirem, só elas, o que elas querem fazer e quem são, até mulheres dizendo que o cristianismo é o maior movimento feminista do mundo e que feminismo é viver na luz de Cristo (com todo respeito ao cristianismo, é o pior tipo de feminismo que há, na minha opinião – aliás, com todo respeito ao feminismo também porque, a rigor, eu não posso opinar sobre o feminismo porque é uma responsabilidade exclusivamente feminina a luta feminista, mas de qualquer jeito eu sempre acabo dando opinião igual).
De todo modo, a única observação que eu queria fazer é: o feminismo tem, na minha opinião, muito trabalho pela frente no mundo, (não só) porque quando aparece uma mulher que não parece a Dona Florinda, todas as pessoas sentem-se no direito de questionar a sua feminilidade, e quando aparece a Sarah Palin, que governa um estado com a mesma eficiência com que governa o lar, questiona-se tudo, menos ela ser mulher. Digo isso por duas coisas.
Uma: a feminilidade é uma coisa criada pelos homens. Por mais que digam que não, são as mulheres que decidiram que delicadeza é coisa feminina e deixa a “diamantice não-lapidada” para os homens (ou decidiram, ou é da natureza feminina…), nada me convence que um modo de ser tão generalizado e inquestionável é um retrocesso, acho maldoso ouvir coisas como, por exemplo, que a Cássia Eller podia ser tudo, menos mulher (porque ela cuspia no chão, coçava “o saco”, etc) – não acho que uma machorra seja menos mulher do que a Penélope Charmosa.
Duas: eu gosto muito do feminismo, simpatizo com o feminismo, defendo o feminismo na medida do possível, se me convidarem eu vou lá junto queimar os sutiãs que eu não uso mas tamos aí para dar apoio (é só força de expressão, é claro que se alguma louca me fizesse mesmo esse convite eu não ia) – mas se a tarefa do feminismo é formatar as mulheres e recriar os modelos obrigatórios de “isso é coisa de mulher”, “isso não é coisa de mulher”, aí, pela primeira vez, eu teria de ser anti-feminismo.
(nós próximos posts, voltaremos aos meus dramas emocionais na nossa programação normal)