Diversão barata para gente medíocre

A principal rua da cidade. Um ajuntamento de gente. Gente torcendo (apoiando, vaiando, batendo palmas). “Gente, é briga!” você ouve sabe lá de quem. A multidão formou uma rodinha (meio círculo na calçada de lá, meio círculo na calçada de cá) e, no meio, um homem sentado em uma moto, e uma mulher, “montada” no pára-lamas dianteiro da moto, em pé, segurando o homem. Ela xinga ele, ele faz cara de “mas o que é isso?”, com os cotovelos dobrados e as palmas da mão para cima. De repente, ela sai da frente da moto e fica ao lado dele. Aí já deu para notar que ela está furiosa com ele, e ele está mezzo constrangido, mezzo irritado, mezzo assustado, como uma deprimente pizza humana. Um homem próximo dessas duas pessoas faz um sinal, sabe-se lá para quem, que tanto poderia significar “dispersando, pessoal” quanto “dêem um jeito vocês aí”. Aí o cara arranca. A multidão delira. A mulher segura o homem pelo casaco de tac-tel. Ele não acelera muito a moto, apenas o suficiente para que ela corra muito por um curto espaço, agarrada no casaco dele. A multidão delira mais. Ele acelera mais, ela cai. A multidão tem uma espécie de orgasmo coletivo, ou, no mínimo, um espasmo de euforia, onde se misturam indignação, realização, surpresa, choque, emoção. No fim ela sai montada na garupa da moto, e a multidão se dispersa.

Nesse meio tempo, os comentários: ela pegou ele com outra ali mesmo; isso é o fim da picada; se ela pode porque ele não?; baixaria. No fim, os adolescentes com mochilas vão em direção à escola (há poucas quadras dali), uma parte da multidão vai em direção ao shopping, ao mercado, e o restante se dispersa.



Nós adoramos pão e circo.





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