Até hoje há quem duvide que Maria tenha ficado grávida pela ação do Espírito Santo, e sugira que isto é uma metáfora, ou que, pelo menos, a ação do Espírito Santo não excluiu a necessidade de ela e José terem tido que fazer sexo para depois disto o Espírito Santo entrar em ação.
Apesar de dois mil anos depois ser possível, agora, abordar este assunto menos apaixonadamente (embora ainda seja possível ouvir risadas diante da ideia de uma Virgem Mãe), na época de Cristo a gravidez de Maria pareceu o que parece a muitos na nossa época: uma fantasia. Mas uma passagem bíblia sugere que, no tempo de Jesus, pelo menos os fariseus também não tenham aceitado que Maria tenha engravidado do Espírito Santo sem ter feito sexo com José. Mais do que isto, é possível que julgassem que ela tivesse traído José antes do casamento (isto é uma possível explicação para terem dito a Jesus, em Jo 8,41, que não eram filhos da fornicação).
Se isto for verdade, então sabemos que Maria teve que conviver com o peso de ter sido vista como adúltera e Cristo, de ser filho do adultério, o que naquela época tinha um peso muito maior do que podemos imaginar.
Mas não precisamos fazer muito esforço imaginativo para reproduzir este peso: basta ver como pesa sobre quem tem famílias “desajustadas” o julgamento de que a causa de quaisquer problemas sejam estes desajustes, e que estes desajustes sejam responsabilidade de ambos os pais e, especialmente, das mães, tantas vezes responsabilizadas pelo fracasso de qualquer relação amorosa, incluindo o casamento.
As pessoas que não se ajustam a quaisquer expectativas, aliás, são julgadas severamente, pois os “santos” de hoje não são capazes nem de se abster de atirar a primeira pedra, ao contrário dos pecadores que, apesar de tudo, não tiveram coragem de atirá-la na mulher que Cristo salvou de um apedrejamento.
Enquanto lemos histórias de santos que tiveram experiências religiosas sublimes como conversar com Maria, com Cristo, com algum anjo ou com outro santo (sem contar as experiências religiosas não-cristãs que se oferece por aí hoje), pouco fazemos para alcançar a epifania divina que há em simplesmente não julgar quem não é como esperaríamos que deveria ser (que, aliás, certamente precedeu quaisquer outras experiências místicas dos santos que viram e ou ouviram as coisas miraculosas que suas biografias nos relatam).