De onde menos se espera…

Há muitos meios de ser uma pessoa desprezível: trair o povo, enriquecer por uma atividade em que a corrupção é generalizada, ou ser responsável por cobrar os impostos para o governo, por exemplo. E São Mateus conseguiu ser uma pessoa desprezível por todos estes meios.

É verdade que os traidores, os corruptos e quem arrecada impostos recebe afagos, seja daquele que se beneficiou de uma traição, seja quem lucra com a corrupção (que dificilmente é um ato solitário) ou com o dinheiro arrecadado. Mas são afagos pontuais, ao contrário da vileza cotidiana apontada pelos outros.

Exceto por posturas políticas indefensáveis (como a relativização de coisas como o racismo ou a homofobia, por exemplo), em ambos os lados políticos há gente desprezada apenas por seu pensamento político (no mínimo, o desprezo do lado antagônico). Também há condições pessoas que podem levar alguém a ser injustamente desprezado – para aproveitar o exemplo dos parêntesis acima, os negros e os homossexuais, e também as mulheres, os imigrantes, os idosos, etc. Há pessoas desprezadas por algum defeito físico, ou por extrapolarem os padrões inalcançáveis de beleza, por causa do status social, etc. 

Na lista acima é possível perceber a diferença que há entre ser desprezado e ser desprezível: uma posição política, uma diferença com qualquer padrão ilusório de como se deve ser, podem levar ao desprezo alheio; já São Mateus certamente era alguém desprezível pela atividade que exercia.

Embora o Barão de Itararé tenha eternizado a ideia de que de onde menos se espera, daí é que não sai nada, mesmo alguém tão baixo como São Mateus (embora este apequenamento dos publicanos tenha sido marcado em Zaqueu, tão baixo que precisou subir em uma árvore para conseguir ver a Jesus) foi capaz de converter-se e se tornar não só um apóstolo, mas também um Evangelista (um círculo ainda mais restrito do que o dos apóstolos); praticamente um integrante da nata celestial, uma surpresa para quem não tinha a menor perspectiva de ser lembrado no futuro, a não ser anonimante como integrante de uma classe  desprezada. 

Mesmo que ele não tenha roubado ninguém, ainda assim era  uma espécie de pelego (pelo menos no sentido de que trabalhou, antes de ser chamado por Cristo, para os opressores). Isto também reforça que, mesmo se tratando de pessoas desprezíveis, elas não devem ser desprezadas (embora suas posturam devam ser combatidas), quanto mais não se deve desprezar quem quer que seja por puro preconceito,