Às vezes eu tenho a impressão de que Paulo foi muito arrogante. Mesmo sabendo que ele tinha a necessidade de defender seu apostolado, não sendo um discípulo “regular” de Cristo como os outros apóstolos, ainda assim esta sensação perdura.
Mas perdura até perceber que Paulo é o protótipo do cristão atual. Não como inúmeros autoproclamados apóstolos da atualidade que defendem sua autoridade fazendo um paralelo ao chamado de Paulo, mas por ser um discípulo assim torto.
Paulo não só não era discípulo, mas era um perseguidor. Não era um sujeito indiferente ao cristianismo, mas um inimigo. E depois de convertido, teve de lidar com situações fora do esperado e teve de tomar decisões heterodoxas também.
Tudo em S. Paulo é uma constante inconstância, e diante desta inconstância, uma luta – não contra os inimigos, não contra os pagãos, não contra os judeus, uma luta contra nada, a não ser – pela preservação da fé.
Claro que ele fundou as comunidades, escreveu cartas que se transformaram em normas, combateu o bom combate etc., exerceu sua autoridade e sua humildade conforme as circunstâncias o exigiram…; mas aquilo no qual nos igualamos a ele hoje em dia é em ter que matar um leão por dia (e às vezes até morrer na boca dele) sem perder a fé, sem perder a esperança e nem a caridade.
Esta perseverança é graça de Deus, obviamente, seja a de Paulo, seja a nossa. Mas é uma graça que funciona melhor (ou apenas funciona) no sujeito que se esforça, mesmo inutilmente, por manter a fé e todo o resto.
Sabemos que não podemos, como Paulo também o sabia. Mas vemos nele o exemplo de tentar o impossível para que, mesmo impossibilitados por nossas forças, Deus faça frutificar o impossível.