Cidadania

Tem uma música do Gonazaguinha:
“Você deve notar que não tem mais tutu, e dizer que não está preocupado. Você deve lutar pela xepa da feira, e dizer que está recompensado. Você deve estampar sempre um ar de alegria e dizer ‘tudo tem melhorado’. Você deve rezar pelo bem do patrão, e esqecer que está desempregado. Você merece, você merece, tudo vai bem, tudo legal: cerveja, samba… E amanhã, seu zé? Se acabarem com teu carnaval??
Você deve aprender a baixar a cabeça, e dizer sempre muito obrigado: são palavras que ainda te deixam dizer, por ser homem bem disciplinado. Deve, pois, só fazer, pelo bem da nação, tudo aquilo que for ordenado, prá ganhar um fuscão no juízo final, e diploma de bem-comportado.
Você merece…”
Enquanto eu assistia “Eu, a patroa e as crianças”, apareceu uma propaganda, que não interessa – e eu nem lembro – qual era. Mas o vendedor anunciava que se você não tem cartão, cheque especial, coisas assim, você não tem crédito – coisa que ele dava mesmo sem ter nada daquelas coisas.
Pois bem, você precisa de conta em banco, certidão de nascimento, carteira d eidentidade, CTPS, certeira do sindicato, conta de e-mail (eventualmente, conta no Orkut), MSN, CPF, carteira estudantil, uma opinião politicamente correta, um relacionamento amoroso estável, um emprego respeitável, presença nas festas de sábado à noite, etc, para que você possa ser cidadão.
Melhor do que o Gonzaguinha, talvez Shakira se aplique melhor no que eu quero dizer:
“Saludar al vecino, acostarse a una ora, trabajar cada dia, esto es vivir la vida. Y contestar solo aquello, y sentir solo esto, y que Diós nos ampare de malos pensamientos. Cumplir todas tareas, assistir al colegio – que diria la familia se eres un fracasado! Ponga siempre sapatos, no haga ruidos na mesa, usa meias de lana, te compuerta en las fiestas. Las mujeres se casan siempre antes de treinta, sino vestiran santos*, y aunque asi no lo quieran. Y en una fiesta de quince es mejor no olvidar una funa champanha** – y bailar bien el valtz.”

Não sei se me fiz entender.

*O mesmo que ficar para titia, segundo me explicou minha irmã que entende tanto de espanhol quanto eu, mas que recebeu esta explicação de uma professora.
**Nome antigo do espumante – de muito mau gosto, por sinal.