Não adianta a opinião que você tem.
Certas coisas, certos cotumes, certa cultura, são praticamente impossíveis de dobrar. E a situação torna-se muito irritante. Você é feito de idiota, fica sobrando.
Fazer um bolo é coisa simples. Bem simples, mas não quando criam você para ter tudo nas mãos. Mas, tudo bem, você vai lá, quer fazer, aprender, etc. Mas cozinha é lugar de mulher – isso não é dito, obviamente, mas é praticado com muito orgulho. Não é dito porque, culturalmente, tanto cozinha é lugar de mulher quanto dizer “cozinha é lugar de mulher” é feio. Preferiria que nada fosse dito, mas que as coisas fossem como são ditas.
É patético você ficar em uma cozinha sobrando. “Ah, mas lavar a louça é muito importante”. Sim, dar uma ajuda nas tarefas domésticas é muito importante, mas, sabemos, o ônus das tarefas domésticas são das mulheres.
Um homem que fizesse TODAS as tarefas domésticas da casa seria um deus para a maioria das mulheres, pois estaria tendo uma atitude abnegada, desviando-se do seu lugar, das suas funções, para fazer aquilo que sua mulher deveria estar fazendo. Isso, opinião de muitas mulheres (uma opinião masculina seria “é um trouxa”, ou “tá querendo comer ela”, mas não vem ao caso agora).
A questão é que quando você convive com as pessoas, se elas gostam de se auto-açoitar, assumir tarefas homéricas sozinhas – mesmo que sejam a gradáveis, como fazer um bolo, o que é bem menos homérico e mais agradável – você pode tocar um belo foda-se e ficar na sua, ou saber que isso é absurdo e ir fazer o que você tem que fazer, independente do seu sexo. Mas aí você coloca-se na patética situação de ficar como uma peça da mobília, ou fazer a única tarefa masculina na cozinha: secar a louça. Nada contra lavar e secar a louça. O que irrita é a velha reprodução de costumes idiotas.
Tenho mesmo vontade é de mandar tudo à puta-que-pariu, deixar se foder, “quer viver como escrava, como minha escrava, como empregada? Então viva!” Posso muito bem controlar o meu sentimento de que a situação é injusta, de que me colocam em uma posição de “rei do pedaço” que sei que é opressora e falsa, ignoro isso e deixo se foder. Cansa isso, cansa. Irrita. “Ai, isso é típico de homem”, “ai, isso é assunto de mulher”, “os homens trazem as bebidas, as mulheres a comida” (sim, é muito mais fácil e menos trabalhoso ir no supermercado e comprar as bebidas do que ir no supermercado, comprar todos os ingredientes, preparar a comida e guardar na geladeira e ainda ficar se preocupando se gostaram ou não). Algumas mulheres precisam libertarem-se de si, de seu pensamento machista, antes de alguém vir lhes dizer “pare de beijar o chão que um homem pisa somente porque ele tem um pau de duas bolas no meio das pernas”. E não adianta eu agir com pena – EU não liberto ninguém, você se liberta, e eu convivo com você, porra!!
E eu estou cansando disso. Querem me colocar em um trono e me fazer de deus, de ser superior para ter o prazr (sim pois deve existir algum prazer nisso) de ficar murmurando “me oprimem”? Então coloquem.
Eu vou desistir logo logo de repetir “se te oprimem é porque, em primeiro lugar, VOCÊ é quem se oprime”. Se você não se oprime e tentam lhe oprimir de fora você esperneia, grita, luta, berra. Se você se oprime, vai murmurar pelos cantos “me oprimem” com ar de choro, mas vai bonitinho fazer o que te mandam.
Cansei. Se querem uma grande, reluzente e intransponível linha divisória entre mundo feminino e masculino, de preferência sendo primeiro subserviente ao segundo, tudo bem. Eu não me meto mais em assunto que não é da minha conta. É degradante, deprimente, opressivo e mais adjetivos desse tipo que não me ocorrem agora. Mas, para mim, pelo menos é mais fácil.