«O cristão encontra na cruz a expressão máxima do amor de Deus e participa desse amor amando o próximo como Cristo nos amou. Na morte na cruz, Deus assume o ser humano em sua finitude e culpa. O Filho encarnado sofre ambas até a morte, a consequência última de uma e outra. Jesus Cristo na cruz as assume como condição de superação.
O sacrifício da cruz não é um ato de punição de Deus pelos pecados da humanidade exercido em seu Filho sob uma substituição vicária. Também não é um ato sádico do Pai nem masoquista do Filho. Deus não precisa de dor e sangue para salvar. A salvação é completamente gratuita (Rm 5, 1-21). É Deus que se sacrifica para o homem e essa doação incondicional enraíza a possibilidade do sacrifício do homem Jesus e seus seguidores como amor altruísta. Os discípulos de Cristo sacrificam-se por seu próximo com o mesmo amor gratuito com o que são amados. O que agrada o Pai é a vida toda dos cristãos em favor dos outros e a gratidão deles por sua condição de criaturas e pela salvação.
Os cristãos participam na paixão de Cristo consagrando-se apaixonadamente à vinda do reino e sofrendo as consequências. Cada um pode dizer que vive em e de Cristo crucificado, já que Cristo vive nele. A dor desempenha um papel expiatório quando é expressão de um amor que carrega o pecado do mundo. A dor inexplicável ou injusta de indivíduos e povos crucificados pela miséria e a injustiça, tem um valor salvífico simplesmente por ser sacramento do Jesus inocente, o Servo Sofredor. A mera questão dos pobres pela bondade de Deus, de forma semelhante ao grito de Jesus abandonado na cruz, faz sentido e ninguém pode silenciá-la (Mc 15, 33-34). Além disso, a dor e a sangue dos mártires que, como Jesus, o primeiro mártir, dão a vida por causa da fé e da justiça do reino, caracterizam o seguimento radical de Cristo.
O seguidor de Jesus teve que descobrir que Cristo morreu “por ele.” Diante da cruz é revelado ao cristão o seu pecado e, ao mesmo tempo, o perdão de Deus. Beijar o crucifixo na Semana Santa é uma expressão do reconhecimento da misericórdia de Cristo por uma pessoa que se sabe amada e conhecida de uma forma única e insuperável. Na experiência deste amor, o cristão conclui que quem justifica é Deus e não suas obras. A práxis messiânica (construtiva) e profética (crítica) dos cristãos é purificada na entrega sacrificada do Filho encarnado.»
Seguimento de Cristo. Enciclopédia digital Theologica Latinoamericana
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