Mesmo que seja uma variante menos grave, a “leveza” da Ômicron aparentemente vale apenas de uma perspectiva individual. Relevar o seu perigo por causa de uma menor gravidade é como não desviar de uma bicicleta que vai lhe atropelar, “afinal é mais leve”.
E é esta leveza que está lotando os hospitais: um terço dos motoristas de ônibus do município de São Paulo, 2900 servidores públicos na Grande SP e 87000 novos casos no país (só de casos conhecidos) não significa que esta gente esteja toda ao mesmo tempo nos hospitais, é claro, mas já é o suficiente para superlotá-los a ponto de levar os profissionais de saúde paulistanos a cogitar uma greve (embora a notícia não tenha deixado muito claro se são só os da capital ou os de todo o estado) pelo esgotamento e a falta de estrutura dos hospitais. Toda esta leveza vai se tornando pesada à medida em que muitos “pesos pena” vão se acumulando, um acúmulo de levezas que pressiona os hospitais fragilizados pelo poder público e os profissionais fragilizados por dois anos ininterruptos de heroísmo combatendo a COVID na linha de frente.
A postura explicitamente negacionista de pessoas como o presidente, e o negacionismo velado de outros agentes, como o secretário de saúde do estado de São Paulo, reforçam a ilusão desta leveza, mas não é sobre eles que o peso insustentável dela vai recair.
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