O jeito clássico de acabar com a liberdade é a repressão, a opressão, a prisão, e outras coisas do tipo. Ou, às vezes, a pessoa pode se enganar, mais ou menos como um Pinóquio (não por causa da mentira, neste caso, mas porque, se não me falha a memória, ele aceitou o convite do sr. Estromboli para poder ter a liberdade de brincar o dia inteiro mas foi, ao contrário, escravizado).
Outro jeito muito sutil de acabar com a liberdade é desgastá-la, reivindicando-a para tudo, em todo momento, quase que indiscriminadamente.
Acho que é isso que acontece com a reivindicação da liberdade de não usar máscaras, de receitar cloroquina, de fazer testes obscuros com pacientes para agradar o governo, de levar a vida normalmente em meio a uma pandemia como se ela não existisse, de negar a eficácia das vacinas, a existência da pandemia, etc.
Enquanto assistimos a isto, corre-se o sério risco de que alguma hora apareça alguém dizendo “agora chega, eu vou botar ordem nisto” e a maioria aceitar de bom grado.
Acho que bolsonaro não é bem um (exclusivamente no sentido figurado) anti-cristo, mas sim um anti-joãobatista, uma espécie de anti-precursor que vai aplainando os caminhos de quem venha para, este sim, completar o trabalho da repressão.
Não digo que isto esteja na iminência de acontecer, como se eu soubesse de coisas que os outros não sabem. Mas tenho as minhas suspeitas de que forçar a democracia e a liberdade até os seus limites possa levar a maioria a, em algum momento, rejeitar a liberdade, pelo menos se assimilar como sendo legítimos estes abusos deste governo contra ela.