A liberdade e o bem são duas coisas diferentes entre si, só que esta diferença quase desaparece quando se considera o seu funcionamento, mais ou menos como o que acontece com o coração e o sangue, que só sustentam a vida movimentando-se unidos.
Se a ideia da união necessária entre a liberdade e o bem estiver correta, a moralidade se torna uma condição indispensável para a liberdade, pois a opção pelo bem irá trazer consigo a liberdade, e a opção pelo mal irá tolhê-la.
O problema é que a própria moralidade pode ser invadida pelo mal e, sem trocar de nome, se transformar em moralismo, que substitui o bem pela vaidade e reduz a liberdade à vanglória. Não que a vaidade seja má, mas ela se torna assim quando toma o lugar do bem, como na imagem de um homem doando comida com uma das mãos e segurando um pau de selfie com a outra. Este tipo de moralismo, que já é ruim, é ainda menos pior que o moralismo de quem tem uma vida correta e, vangloriando-se da sua correção, se permite jogar na cara dos outros os seus erros, quase sempre com a desculpa de denunciá-los para que possam ser corrigidos. A denúncia do mal é sempre necessária, mas ela, por si só, não corrige ninguém e o moralista deliberadamente ignora isto.
O moralismo acaba arrastando consigo a moralidade para o fundo do esgoto (não porque esteja lá, mas porque o que está no fundo do esgoto faz questão de exibir um letreiro gigantesco escrito “moralidade”), enquanto lutamos pela liberdade, dissociada da moral mas confundida com um bem (não que a liberdade não seja um bem, mas ela, sozinha, não é o bem). E é aqui que entra a questão dos fins e dos meios.
A liberdade a qualquer preço se degenera a ponto de se tornar a liberdade de fazer o mal, o que por si só acaba com a liberdade como se ela comesse a si própria até acabar, mas antes disto, de qualquer forma, a maldade dos meios já havia intoxicado a liberdade. É por isto que os fins não justificam os meios: é porque eles contaminam os fins como na autofagia da liberdade conquistada a qualquer preço.
Portanto, condicionar a liberdade ao bem não significa agregar a ela, ou condicioná-la, a um moralismo; mas significa conquistar a liberdade pelo bem, que não é o único caminho para conquistá-la, mas é o único caminho de mantê-la depois de conquistada.