A tristeza não pode ser tratada como uma erva daninha inconveniente que se infiltra no jardim das nossas felicidades, mas precisa ser cultivada como um dos sentimentos que, tal como os outros, é resultado da fertilidade dos nossos corações. Somente um coração anestesiado pode se livrar da tristeza, mas esta anestesia leva junto a alegria e assim o coração se torna uma pedra imóvel, indiferente e cega.
Um coração vivo está sujeito a tudo, mas caso se apegue à alegria, ela se transforma em uma promessa de tristeza porque mais cedo ou mais tarde vai passar. O contrário deste apego à alegria é uma fuga constante da tristeza, que assim nunca chega e, por isto, também nunca passa.
Exceto pelos casos clínicos de depressão, que devem ser tratados pela medicina, o melhor é sentir o que está disponível no momento sem tentar nem impedir, nem obrigar o sentimento a ficar.
Mas se a alegria forçada ainda se justifica como um palhaço que esconde suas próprias tristezas para deixar pelo menos os outros alegres, a tristeza forçada só serve para impressionar os outros, fingindo uma gravidade que não existe. E é esta hipocrisia que os fariseus cobravam dos discípulos de Cristo.
Se a Igreja determina momentos com rituais de tristeza é para que quem está bem possa lembrar que existem sofrimentos alheios pululando à nossa volta. Mas sempre há fariseus querendo fazer da tristeza um modo de vida, cobrando-a dos outros quando não conseguem atingir a alegria alheia que não podem suportar.