O cristianismo gira em torno de Cristo, para começar pelo óbvio. Logo em seguida, a experiência concreta (e real) de encontro com Cristo é o que sustenta o cristianismo. A teologia é secundária para viver este encontro – mas secundária não significa dispensável.
No meu caso, eu estudo teologia como um recurso de aprofundamento da fé: quando eu repito o pedido aprendido na Bíblia “eu creio, Senhor, mas aumenta a minha fé”, eu sei que cabe a Deus aumentá-la, mas a mim cabe “preparar o solo” porque Deus age habitualmente em conjunto com as nossas ações. E espero aumentar a fé para que este aumento se reflita em um acréscimo na caridade.
Isto me faz sentir um tanto quanto deficiente em relação a tantas pessoas que julgo não precisarem de tanta coisa para se abrirem à graça de Deus e serem caridosas, mas eu procuro fazer o que posso com o pouco que eu tenho.
O que eu estou estudando neste momento é a escatologia. O que eu pude perceber, em um primeiro relance sobre o assunto, foi que a escatologia, que trata sobre o fim dos tempos, tanto o pessoal (a morte) quanto o geral (a segunda vinda de Cristo).
Eu fiquei surpreso em perceber como um tema que eu sempre julguei ser uma mera curiosidade tem, na verdade, uma importância central: vivemos para morrer.
O medo da morte hoje em dia leva a respostas como a negação, desde não se preocupar com isto até a sistematizar esta despreocupação em algum tipo de agnosticismo, passando por procurar alguma fuga na ciência (como a esperança de que a clonagem possa preservar o indivíduo replicando-o, a preservação do cérebro, o congelamento do corpo na expectativa de que seja descongelado quando a ciência possa mantê-lo vivo indefinidamente, o mero rejuvenescimento, que é uma mistura de agnosticismo com fuga na ciência, pois as pessoas tentam, diante da perspectiva da morte, pelo menos chegarem nela parecendo jovens, etc.); sem contar o apoio em diversos tipos de pensamento, espiritualidades e religiões que sugerem perenizar o ser humano na terra (como xamanismo e afins – pelo menos foi o que me pareceu no contato com essas espiritualidades), ou no cosmos (como nestas espiritualidades “quânticas” e todas as que inserem o ser humano em um organismo cósmico), etc., etc., etc.
O cristianismo lida muito com a morte, e isto começa com o fundamento da fé cristã que, segundo são Paulo, é a ressurreição de Cristo – uma Ressurreição precedida pela morte inevitável a todos nós.
A ressurreição de Cristo é o ponto de partida de todo o trabalho que o cristianismo dá (a relação com Deus e o amor ao próximo dão trabalho, pelo menos para mim que não sou santo).
Essa promessa de ressurreição (pois Deus não se comprometeu a evitar que morrêssemos, mas sim em vencer a morte, o que faz na ressurreição) não é um mero reforço positivo (como um preciosíssimo biscoito premiando um comportamento exemplar), mas é o objetivo pelo qual existimos, ou melhor, é aquilo que Deus deseja para nós: viver para sempre na plenitude divina. Já podemos, é claro, viver esta plenitude agora, mas ainda assim, aos trancos e barrancos – que não estarão presentes, tais trancos e barrancos, na plenitude definitiva.
O estudo da escatologia, enfim, é (ele sim) o reforço para ter sempre na lembrança que, se a bagunça que é esta vida é inevitável (” no mundo tereis tribulações…”), atravessar essa bagunça junto com Cristo resultará naquilo que desejamos e que somente em Cristo está(rá) se realizando.