Pois, veja como é a vida (não que ela seja exclusivamente assim; melhor trocar a frase). Pois, veja como também é a vida:
Você se programa para passar o reveillon (me acometem as mesmas dúvidas do Gabriel, daquela musiquinha “Well, well, well, Gabriel”) só, sem mais ninguém. Você compra coisas, você programa-se para fazer um monte de coisas (que se resumem em “o que vou comer?” e “o que vou fazer na Internet?”, com muitas opções em cada qual) e, principalmente, você se prepara para passar a tal virada somente consigo, que é uma ótima companhia. Claro, você tem que mentir para toda a sua família de que vai passar o reveillon (deve ser assim que se escreve) com amigos, e tem que mentir para os amigos que vai passar o reveillon (deve ter algum acento em algum lugar da palavra) com a família, porque todas as pessoas ficam com pena, como se você fosse uma coisa largada à parte e não estivesse adorando a possibilidade de passar o reveillon sem mais ninguém.
Mas eis que chega uma criatura, se você for cristão, um composto de carbono, se a sua praia for a química, um representante da espécie humana, se você for biólogo, uma pessoa física, se você for jurista, um sujeito, se você for filósofo, um predador, se você for um mosquito, uma incógnita, se você for agnóstico, uma… enfim, uma paixão, se você for eu.
Mas nunca você esperava ver esta pessoa chegar. Você passou os últimos dias querendo muito vê-la, você andava olhando para todos os lados, você não era um corpo com olhos, mas muitos olhos com um corpo, você sentia falta, você não sabia o que fazer, até que você achou melhor pensar “antes só do que sem a sua companhia”, resignou-se a nem dar um “feliz ano-novo” à pessoa… E ela bate em sua campainha. E lhe dá happy new year. E você passa a virada com esta pessoa. E você fica com muita pena da comida que comprou e dos planos que fez, mas fica feliz, muito feliz.
Você sabe que, como as crianças, se contenta com pouco. Mas, dentro de certos contextos, certas coisas têm o tamanho do mundo.
E eu, que nunca dei bola para isto (continuo não dando), que nunca pensei que a pieguice fosse tão longe (mas foi), estou aqui desejando um Feliz Ano Novo para o mundo inteiro (e para eventuais aliens, caso existam).
Só espero que dure.