“Espera” tem o som de “expéra”. Poderia ser uma ex-pêra – uma pêra que tenha virado, talvez, uma maçã? A palavra, assim, parece contrariar aquilo que significa: ex-pera; “ex”, aquilo que não é mais (ex-presidente, ex-chefe), com o sentido de externo (por isso “ex”clusão, “ex”terno, “ex”odo), sempre para fora; péra, contração vulgar de “pára”, “péra aí”, pára aí, pare, stop. Ex-péra: fora de parar, exclusão de parar, fora de parada, externação de parar, colocar-se fora do estado parado. Mas estar fora desse estado parado é não estar em estado parado, é movimentar-se.
Será que, de alguma maneira, movimenta-se quando espera-se? Esperar será um movimento?
Talvez. Eu poderia não esperar. Desistir. A desistência é a verdadeira parada. Imóvel. Imoblidade. Movimentar-se, talvez, para outros lugares. Mas parar aquele lugar. Fechar aquela porta. Ai não haverá mais movimento. Talvez a espera seja como a parada que o braço de quem arremessa algo faz: o braço vem todo para trás e, antes de retornar para a frente, para lançar o objeto, precisar parar para trocar o sentido do movimento. A espera também compõe o movimento, afinal.
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Eu te vi. Tu disseste “mais tarde eu apareço”. Eu fiz “o_O” mas confiei. Espero. Não posso ir onde tu estás – já nem sei se está onde disseste que irias, e se me quisesses lá, teria dito. De fato, não estás aqui (embora eu não saiba explicar como podes estar mais presente do que todas as pessoas que estão comigo nesta casa). Eu estou aqui, esperando. Te esperando. Poderia estar te procurando. De plantão em frente a tua casa, apertando no botão que tem o número do teu apartamento. Mas posso estar sendo demais – já me ouviste dizer, duas vezes, que odiaria ficar sobrando, e que me dissesses se fosse esse o caso: eu desapareceria antes que percebesses, sem dramas. Mas nunca disseste. Por isso não faço este movimento. Faço outro movimento (dentre tantos que poderia). Faço o movimento de espera. Te espero. Não chegas, mas te espero. São 23:30, mas te espero. Tenho nojo de baratas, mas estou aqui, assistindo Joe e as Baratas, te esperando. Não paro. Espero. Sei que não vens. Mas espero.
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Um horóscopo (agora fico com a mania de dividir as palavras e inventar um significado: hóros-copo. O que significará? Será algo semelhante a es-copo? Mas eu também não sei o que é escopo) que eu li dizia que a parte mais emocionante de um… bem, um relacionamento, era a espera, a indefinição: será que vou te ver hoje? (existem, certamente, outros tipos de espera: esperar chegar do trabalho, esperar acordar, esperar dormir) Bom, já me conformei a não te ver mais por hoje. Será que vou te ver amanhã?
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Passatempo enquanto se espera
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