Toda a sociedade baseia-se em regras. Regras legais, regras morais, regras científicas, regras de educação, regras de trânsito, regras de redação.
Aqui vai, então, minha contribuições ao que diga respeito às nossas regras.
Toda regra tem excessões. Não existem regras absolutas, sem possibilidades de transgressão.
Mas, se for assim mesmo, então esta regra (que diz “toda regra tem excessões”) está errada, pois ela diz que toda regra necessita de uma excessão, e ela própria não tem excessões. Esta regra “regulamenta” todas as outras regras, mas quando tentamos aplicá-la a si própria, ela se torna falsa, errada: “não existem excessões à regra que diz que toda regra tem excessões; o simples fato de enunciar tal regra invalida-a”. Para que ela se torne válida, teríamos que encontrar uma regra sem esxcessões, absoluta: tal regra seria a confirmação daquela regra que diz que toda regra tem excessões.
Assim, teríamos que encontrar um Deus e uma Igreja que fale em nome dele para nos dizer regras absolutas; ou uma Ciência e um cientista que fale em nome da Ciência para nos dar regras sem excessões; ou mesmo um psicanalista para nos dizer que tudo é culpa do complexo de édipo, sem excessões. Qual será a regra de ouro?
Mas, espere um momento! “Toda regra tem excessões”, e realmente, quando se verifica que esta regra está correta, ela torna-se errada. Como ela torna-se errada? Não sendo válida para si própria. Mas, se ela não vale para si própria, então ela é uma excessão: ela é sua própria excessão e confirma-se a si mesma ao contradizer-se.
Esta regra é muito estranha: ela somente vale portanto, ao contradizer-se. Somente quando ela própria, quando sua própria existência lhe trai, ela funciona.
Mas, assim, podemos deixar de procurar regras absolutas, pois já a encontramos. “Toda regra tem excessões. Se isto é verdade, esta própria regra está errada; mas, se está regra está errada quando acerta, ela é verdadeira”.
Não sei se isso pode servir de alguma coisa. Mas é a única regra que conheço que diz algo como “não existe nada absoluto; viva a sua vida e deixe a dos outros em paz, pois você não tem condições de impor nada a ninguém.”