Eu gosto de uma coisa em mim (além de algumas outras, claro): eu esqueço. Não é um esquecimento generalizado, guardo muitas coisas, muita porcaria, até, mas outras eu esqueço. Eu não faço a menor idéia do que eu escrevi aí embaixo, porque não lembro mais. Por isso, posso estar me repetindo. Mas vá lá.
Esperei, você disse que vinha. Desci, me afastei da música e fiquei na calçada. Eram cinco da manhã. Às seis fecharam as portas do lugar onde estávamos. Pensei que talvez você estivesse entre os retardatários. Os donos do lugar saíram e fecharam as portas. Será que lhe esqueceram no banheiro? Esperei. Talvez você tivesse saído sem que eu percebesse – mas voltaria, eu tinha certeza. Afinal, nós combinamos. Lá pelas sete e meia o céu já estava claro. E resolvi desistir.
Algum tempo depois, tive de ouvir de você coisas que nem parentes meus falariam a mim – e eu não tenho lá muito respeito dos meus parentes.
Tempos depois, estávamos indo, como sempre fizemos, até a sua casa. No meio do caminho, você me perguntou onde eu estava indo. Eu respondi. E você me perguntou “mas quem foi que te pediu isso? Você está indo porque quer.” Eu disse tchau e fui embora.
Há pouco tempo, no supermercado, eu esperei você descer. Muitas sacolas prendendo a minha circulação. Mas acendi um cigarro. Encontrei conhecidos. Acendi outro cigarro. Todas as pessoas que já estavam ali na frente quando eu cheguei já tinham ido embora, e algumas que chegaram depois já tinham ido. Fui embora.
Você me disse várias vezes “não se apegue”. Ouvi você. Só penso que “apegar-se” é diferente de “respeitar”. Se eu não conhecesse você, tudo bem. Mas conheço, e sei que você respeita as pessoas. Porque eu não mereço respeito? Não sei. E já não me interessa mais. Aí você aparecesse na minha casa e me pergunta se eu fiquei de cara por você não ter aparecido no outro dia, no mercado. Eu digo que sim. E assim ficamos.
Eu só gostaria de um pouco de respeito. De consideração. Claro que não posso exigir.
Eu não sei bem o que quero dizer, o que sinto. Conheço pessoas para quem eu não valho nada, e existem pessoas que não valem nada para mim. Nos ignoramos, ou nos tratamos apenas educadamente se não nos ignoramos. Mas nunca nenhuma dessas pessoas quis conviver comigo.
Não me importo de não valer nada para alguma pessoa – mesmo que eu goste dela. Tenho mais o que fazer. E justamente por ter mais o que fazer que eu me sinto – como em todos os meus finais – mais trouxa do que ontem e menos trouxa do que amanhã.
Só posso lhe agradecer por tudo. Valeu.