Ecletismo S.A.

Não gosto do termo “Ecletismo” e seus derivados (eclético, eclética, não me ocorrem outros). Mais por preconceito, já que, talvez desgraçadamente, eu me enquandre entre as pessoas “ecléticas” do mundo.



Meu preconceito – assim como qualquer preconceito – é besta: não gosto de ecleticidades porque todo mundo é eclético. Veja bem, não tenho problemas em ser como todas as pessoas, quando é o caso: assisto Big Brother (ou assistia, pois terminou – pena que a Analy não ganhou), dou boa noite ao William Bonner, adoro o sorvete do MacDonalds, detesto os EUA, adoro brechós, defendo a natureza, essas coisas assim.



Só que ser uma pessoa eclética é quase como ter nacionalidade brasileira ao nascer no Brasil – quer dizer, é uma regra. Todas as pessoas são ecléticas. Você pergunta “que tipo de música você gosta?” e a pessoa é eclética. “Que tipo de filme?”, “que tipo de livro?”, “que tipo de refrigerante?”: Ecletismo S.A.





Dentro de meu achismo, “ecletismo” e ouvir de tudo são coisas bem diferentes. Você ouve de tudo para conhecer mais músicas, tipos de músicas, artistas, nacionalidades musicais. Mas você seleciona.



Tudo bem, outro preconceito meu: só porque eu seleciono não quer dizer que todas as pessoas sejam seletivas musicalmente. Mas – dentro do meu preconceito – não consigo imaginar alguém que goste de tudo que ouça, que ame tudo que ouça, que identifique-se com tudo que ouça.



Não falo de gostos supostamente disparatados. Se uma pessoa gosta de sertanejo, hardcore e Edith Piaf, tudo bem, é o seu gosto e ninguém tem que ver com isso.



(Aliás, um pequeno parêntesis: o gosto não segue cânones lógicos para as pessoas dizerem que se alguém gosta disso, gosta daquilo também e não gosta daquele outro. Mais achismo meu, claro.)



Mas uma pessoa que gosta de tudo, não gosta de nada. E nunca é demais frisar que isso é uma opinião.



E ecletismo, acho eu, é ter um gosto variado ou não, “contraditório” ou “coerente”, mas ter gosto, quer dizer, gostar de alguma coisa – porque, repito, gostar de tudo é o mesmo que não gostar de nada.



É uma coisa bastante preguiçosa gostar de tudo. Todas as pessoas tem direito à preguiça, inclusive à preguiça musical – não sou eu quem vou dizer “você deve selecionar suas músicas!” Mas eu não tenho essa preguiça: quer dizer, nada contra outras pessoas serem “ecléticas”, mas eu não me enquadro nessa definição.



Essa coisa toda de ecletismo era para ser um ou dois parágrafos de introdução sobre outro assunto, mas ficou grande demais e era isso.





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