passado

Uma dobra em uma coisa plana acontece quando um ponto (ou muitos pontos) dessa coisa plana se eleva e arrasta junto de si o entorno.



Às vezes eu tenho impressão que o passado funciona assim. Um evento, ou uma pessoa do passado reaparece, e não é o tempo que voltou, nem eu que voltei do passado. O tempo fez uma dobra.



Isso porque, algumas vezes, quando uma pessoa ou um evento do passado reaparece, traz consigo, pelo menos no começo, todo aquele passado, ou parte do passado.



Mas o tempo não volta. Pessoas e eventos, sim. O tempo, não.



Pessoas e eventos que voltam podem desencadear outros eventos que também são reaparições, vem tudo junto porque aquele ponto da superfície plana trouxe junto seu entorno.



Isso tanto pode ser definido como um reencontro feliz ou, então, como um trauma. E depende da memória.



Toda reaparição depende da memória (se eu não me lembrasse de uma pessoa ou coisa, não seria uma reaparição). Quer dizer que o passado é sempre imaginação.



Isso não significa que uma cicatriz é imaginação, por exemplo. Uma cicatriz é uma coisa presente, e não passado.



Mas a lembrança é sempre imaginação. E imaginação sempre depende de criação.





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