05/68

O Maio de 68 começou de maneira quase inocente: estudantes reivindicando o direito de conviver com estudantes do sexo oposto. Mesmo estudantes homossexuais, eu acho, saíam perdendo com essa barreira de gênero que existia nas escolas francesas: mulheres e homens têm uma formação cultural muito semelhante, dentro do seu próprio gênero, e esse contato, independente da orientação sexual, arejava a maneira de ver – e de viver – o mundo para alguém daquela época.
Mas o Maio cresceu e foi além disso: transformou-se em uma mobilização geral na França, envolvendo, além dos estudantes, operários e intelectuais.

O que estava em jogo era a cristalização, a modorrice, a imutabilidade do comportamento. Não bastava uma vida tediosa, ela precisava ser forçosamente, deliberadamente e calculadamente tediosa; a palavra de ordem era reprimir-se e reprimir aos outros.

O resultado, a longo prazo, aparentemente fracassou: basta a vitória de Sarkozy para confirmar isto. Mas houveram, também, digamos assim, “lucros”: especialmente Capitalismo e Esquizofrenia, para citar algo que eu conheça minimamente.

Mas também ficou a nostalgia – “essa saudade que eu sinto de tudo o que eu ainda não vi”, talvez – e lembrança de que o mundo, mesmo hoje, não precisa necessariamente ser tão chato.