Depressão: doença ou problema espiritual?

«O autor [do livro Depressão: Doença ou Problema Espiritual], Ismael Gomes de Oliveira Sobrinho,é médico pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em Psquiatria e Psicogeriatria pela Associação Brasileira dePsiquiatria (ABP) e mestre em Ciências da Saúde pela Fa-culdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (CMMG). Atua há dez anos na prática clínica e, em empresas e igrejas, realiza palestras relacionadas à saúde emocional, trabalho e espiritualidade cristã.

Com o intuito de responder ao título da obra, o capítulo um é denominado “Causas e Frequência”da depressão. Compreendendo que a Bíblia cristã é mais do que um conjunto de doutrinas teológicas, o autor aponta o erro em não se perceber as crises emocionais vivenciadas por muitos homens e mulheres que tinham uma vida espiritual profunda e sincera. Dúvida, apreensão, sintomas depressivos, angústia extrema, etc., podem ser percebidos nos textos bíblicos que relatam claramente o relacionamento das pessoas com Deus. Então, Sobrinho (2018)questiona: há casos bíblicos de depressão? Verificando textos bíblicos como I Reis 18-19 e Tiago 5.17, responde: “A bíblia […] não apresenta o termo ‘depressão’ registrado em suas páginas. Isso não nos impede de estarmos mais a tentos e verificarmos os dramas humanos vivenciados por esses homens que, apesar de ‘andarem com Deus’, acabaram por expressar diversos sintomas condizentes com momentos depressivos” (SOBRINHO, 2018, p. 22).

Aquela que ocupa o segundo lugar dentre as doenças que mais causam incapacidade para o trabalho, segundo a Organização Mundial da Saúde, também é um problema grave dentro da igreja. Apontando alguns levantamentos estatísticos aterradores, o autor demonstra como as pessoas com depressão têm sido alvo de preconceito e sobrecarga emocional ao longo da vida. Seja diagnosticada entre crianças ou adultos, a influência espiritual na doença seria apenas mais um ponto a ser verificado. Por isso, Sobrinho conclui: “dizer que a opressão maligna ou maldição familiar é a causa da depressão em uma família constitui, além de um erro teológico, uma grande fonte de culpa e de adiamento do tratamento adequado” (SOBRINHO, 2018, p. 29).

Após uma descrição histórica de cristãos fiéis que ficaram doentes (SOBRINHO, 2018, p. 30-31), o autor foca na depressão causada por fatores espirituais. Repelindo os conceitos da falta de fé e oração insuficiente, por exemplo, postula que é um erro resumir a causa das doenças em fatores espirituais como esses. Citando textos bíblicos, Sobrinho também trata da relação entre depressão e pecado. De fato, “de uma forma universal […] e indireta, podemos deduzir que toda enfermidade, e isso inclui a depressão, deriva do pecado. Isso não quer dizer que individual e diretamente toda depressão se origine dele” (SOBRINHO, 2018, p. 43). Ora, se a maioria dos casos depressivos não guarda relação direta com o pecado, é vital que o cristão também entenda as causas biológicas da doença (SOBRINHO, 2018, p. 49-54), a fim de que não se enquadre nos tipos de espiritualidade que adoecem (SOBRINHO, 2018, p. 65-68).

O segundo capítulo intitula-se “A Doença”.O autor aborda odiagnóstico da depressão(seu aspecto estritamente clínico), casos de exames complementares, escalas diagnósticas e medicamentos. Também instrui acerca da importância de se “diferenciar a depressão de sentimentos de tristeza normais e situações de luto” (SOBRINHO, 2018, p. 73). Nesse interim, destaca-se o Inventário de Depressão de Back (SOBRINHO, 2018, p. 74-80), sugerido pelo autor, e a compreensão clara dos sintomas da doença em virtude das possíveis confusões nos dias de hoje. Para tanto, Sobrinho elenca alguns dos principais sintomas da doença: (a) humor deprimido, (b) perda de interesse, prazer e falta de energia e (c) alterações de apetite, sono e desejo sexual. Reconhecendo que “a depressão não é um sintoma isolado, mas um conjunto de sintomas somados que irão exigir o tratamento médico especializado”(SOBRINHO, 2018, p. 82), aborda exemplos dos sintomas físicos(dor ou desconforto do peito, problemas de pele, sensibilidade do sistema gastrointestinal), cognitivos (alterações de memória e concentração) e queixas psicossociais (baixa autoestima, isolamento).

A obra ainda elenca alguns subtipos diferentes de quadros depressivos, “transtornos emocionais que apresentam sintomas depressivos ao longo de sua evolução com características atípicas, sazonais ou que se expressam de maneira menos ou mais intensa que a depressão típica” (SOBRINHO, 2018, p. 93). O autor apresenta a distimia, a depressão e transtornos emocionais no pós-parto, a depressão sazonal e a depressão com sintomas psicóticos, bem como a relação da doença com os transtornos de ansiedade (pânico, ansiedade generalizada e fobia social). Entrementes, o autor demonstra a diferença entre depressão e transtorno bipolar (SOBRINHO, 2018, p. 107-112), a relação entre a doença e o risco de suicídio (113-118), o crescente número de diagnósticos entre crianças, adolescentes e idosos (119-125) e, o caso deste leitor, a depressão em pastores e líderes cristãos (127-130).»

Ângelo Vieira da Silva. Resenha do livro Depressão: Doença ou Problema Espiritual

Imagem: Eric Muhr on Unsplash