Segundo um professor, “idiota” é uma palavra que tem a ver com “idioma”: uma pessoa idi-ota seria aquela restrita ao seu idi-oma. Se a explicação está certa ou não, eu não sei, mas serve para o que eu quero dizer (ou seja, entenda “idiota” aqui nesse sentido, de pessoa limitada)
As pessas gostam de ser idiotas, têm orgulho de sua idiotice. Amam isso. Não gosto de justificar geneticamente o comportamento humano, mas estou quase acreditando que é genético: as pessoas possuem esse imperativo biológico que as obriga a ser limitadas ao seu mundinho, ao mundinho do seu cérebro, onde seus valores, suas crenças, seus gostos e suas certezas são absolutas. Tudo o que elas fazem é o que de melhor um ser humano poderia fazer. Tudo em que acreditam é a única coisa em que qualquer pessoa em sã consciência poderia acreditar. Seu valores são, é óbvio, os valores corretos, os melhores que uma pessoa pode ter. Sua vidinha é perfeita. Seus costumes são os costumes que todas as pessoas deveriam adotar, pois assim o mundo seria melhor. Não admitem, aliás, que o mundo seria melhor se todas as pessoas fossem como elas, mas acreditam nisso. Claro que nunca pararam para pensar em suas vidas – e nem há o que pensar, pois é claro como água que as coisas são assim. Porém são “tolerantes”: toleram essas pessoas ainda não “iluminadas” pelo modo de viver “correto”; “aceitam” porque são benevolentes, assim como são benevolentes para com as crianças, os cãezinhos e os idosos. Apesar de toda essa concessão que fazem aos inferiores, necessitam incutir nestes aquilo que estes não têm, mas que é indispensável à vida, ao mundo, a tudo. São “tolerantes” e “aceitam”, desde que esses seres inferiores ajam como elas. “Eu aceito que você seja assim, desde que você aja como eu”, “você deve agir quando e da maneira que eu acho correto, porque assim é melhor para todos”, isso tudo se parece (que coincidência!) com o velho “nós odiamos o pecado, mas amamos o pecador”. E, claro, fazem das tripas coração para serem assim “corretas”, sofrem com isso, mas não se importam de tentar impor justamente esse sofrimento aos outros. As limitações que impõem a si, as violências que cometem contra si mesmas, as justificativas impensadas que utilizam, são aquilo que lhes causa a maior satisfação impor aos outros, como quem estivesse fazendo um grande bem a estes outros – quando na verdade esse bem é feito a si mesmas, pois consideram como uma coisa boa fazer com que o maior número de pessoas possível possa compartilhar dessa sua mediocridade, pois assim têm certeza de que estão no “caminho correto”. São como o escorpião da piada, que não podia deixar de picar a tartaruga que o carregava pelo rio – mas, ao contrário do escorpião da piada, que não podia fugir àquela atitude porque, afinal de contas, era um escorpião e precisava fazê-lo, essas pessoas concluem que se sofrem, o melhor é que outras pessoas sofram junto; ou então, que se elas podem/puderam passar por este sofrimento, os outros também podem: “se eu sofro/sofri isso, você também pode”, “eu levo uma vida medíocre, porque você não deveria levar também?!?”, “não é que eu queria o mal para você, mas é uma necessidade da vida” (quando, na verdade, a necessidade é que não se sintam sozinhas em seu mundinho apertado e desconfortável).
Enfim a regra é que você seja idiota, ou que deixe-se transformar em idiota. Aspire a isso, seja assim. Dessa maneira todos ficarão felizes quando todos forem igualmente infelizes.