Livros, livros, livros.

Acho que existem muitas maneiras de se ler um livro. Pelo menos eu tenho.

Um livro de História Geral, por exemplo, apesar de eu achar muito interessante, eu leio como um manual. Não é muito diferente do Google ou da Wikipedia, mas geralmente é mais preciso, ligeiramente mais confiável e eu posso ler mesmo sem luz ou conexão com a internet. Isso se refere a livros de informação, por isso a comparação com o manual: são livros que me servem para tirar uma dúvida, ou só para passar o tempo, coisas assim.

Tem livros que eu leio por gosto, seja do assunto, seja pelo jeito que é escrito. Os livros da Colette, por exemplo (pelo menos os dois que eu li), porque são bem escritos. O assunto não entra em questão. Os de Foucault, também, mas mais pelo jeito dele escrever. O assunto me interessa – eu estou começando a desconfiar que Foucault é indispensável para se estudar filosofia, qualquer assunto em filosofia, mas é só uma desconfiança, por enquanto – mas eu não entendo bem o que ele diz. Claro que A História da Sexualidade é compreensível, artigos como O que é um Autor ou as entrevistas também, mas a relação de tudo isso com As Palavras e as Coisas – assim como o próprio livro em si – por exemplo, eu não consigo entender. Mas ele escreve tão bem que dá gosto de ler só pelo texto, mesmo sem entender nada.

Há outros livros que são quase auto-ajuda. Tipo O Refém Emocional, que li como se fosse uma bula de remédio.

Mas volta e meia aparecem livros que, além de incategorizáveis, são – para mim – para toda a vida. Dois deles:

Um eu descobri há pouco: a Ética de Spinoza (Espinosa, Espinoza, sei lá). É – como diria o personagem do Toma Lá Dá Cá – M-A-R-A! Não é espantoso que um livro desses seja, se não renegado, pelo menos subvalorizado na academia. Mas eu me espanto que o restante das pessoas não tenha descoberto este livro. Gosto muito de Nietzsche, por exemplo, e apesar dos excessivos holofotes sobre ele, é um autor que merece todo o destaque do mundo (talvez mereça melhores leitores, mas…), e que, nas palavras dos jogadores de futebol, só vem para somar (apesar do medo que ele causa, talvez também por causa desse medo ele venha para somar). E esse frisson em torno de Nietzsche não é só dentro da academia, mas também fora dela. E é esse silêncio sobre Spinoza no além-academia que me espanta um pouco. Por outro lado, se for para ter os mesmos leitores “intelectu-malas” (ou “intelijumentos”, ou ainda “intelectuastros”, hehehe) que Nietzsche tem, melhor que Spinoza permaneça assim, esquecido.

O outro vem de anos e nunca sai dos meus top-hits: O Segundo Sexo. Sim, o livro é sobre as mulheres, autonomia das mulheres e tudo o mais. Mas, junto com isso, é um tratado sobre liberdade, sobre como o pensamento pode criar uma opressão concreta, real, material (que resulta, inclusive, em hematomas e escoriações) sobre as pessoas, e também sobre como o pensamento pode reagir à opressão – e mais do que reagir à opressão, criar autonomia, liberdade, essas coisas legais. E, de brinde, é o melhor exemplo que eu conheço para dar quando as pessoas vêm me dizer “ah, mas filosofia é muito teórico, não tem nada de prática”: se o feminismo não tem nada de prática, então, eu enlouqueci.