Não existem pessoas com problemas maiores do que os meus. Eu detesto quando eu me arrisco a contar quais são os meus problemas, e tenho que ouvir que tem coisa pior no mundo, imagina os doentes, ou as pessoas sem comida na África, etc, estes sim têm problemas…
Primeiro, há uma diferença entre tamanho e urgência dos problemas.
O tamanho de um problema é geralmente relativo à própria pessoa. Um mesmo problema por ter proporções muito diferentes para uma e para outra pessoa. E, geralmente, os problemas mais toscos não são às vezes capazes de ser resolvidos porque há algum problema maior e anterior que precisa ser resolvido – o que não torna certas pessoas menos chatas.
A urgência do problema é outra coisa. Eu estou aqui, me sentindo mal, abandonado, sofrendo, etc, e que ninguém venha me dizer que isso não é nada! Mas concordo que não é um problema tão urgente quanto uma pessoa passando fome, ou uma pessoa que perdeu alguém que ama, por exemplo. Se as pessoas falassem em uma hierarquia de urgência, tudo bem. Mas meus problemas são sempre “probleminhas”.
Segundo, mesmo que eu aceitasse a idéia de que existem problemas maiores e problemas menores, ainda assim isso não deveria servir como redução dos meus problemas. Isso – essa idéia de que o probleminha de alguém não é nada comparado com o problemão de outra pessoa – às vezes (e eu disse às vezes) é sinal de que uma pessoa está com problemas, e vê outra com um problema “maior”, fica feliz e consolada porque tem alguém pior – ou seja, se contenta com a desgraça alheia. De qualquer maneira, o fato de outra pessoa ter um problema “maior” não diminui nem resolve o meu problema, e não me serve de estímulo para ignorá-lo. Mas não existe isso de problemas maiores ou menores. Existem problemas mais urgentes e menos urgentes. E o fato de haverem pessoas com problemas mais urgentes do que o meu não invalida os meus próprios problemas. É uma constatação triste a existência de pessoas com problemas mais urgentes que os meus, mas é uma constatação igualmente inútil tanto para mim com meus problemas menos urgentes, quanto para as outras pessoas com problemas mais urgentes. O fato de eu dar atenção aos meus problemas menos urgentes não significa que eu não dê bola para os problemas mais urgentes dos outros – significa apenas que eu também tenho meus problemas.
Eu não quero, com isso, “elogiar” o sofrimento menor. Só quero mostrar que um problema é sempe um problema, e os problemas alheios não resolvem os meus; e também que o tamanho de um problema é uma medida pessoal, somente a urgência deveria ser levada em conta.