Eu gosto da mobilidade, do movimento. A principal imagem que me vem à mente são placas tectônicas deslizando umas sobre as outras. Talvez porque seja um movimento ininterrupto, mas que preserva alguma coisa. No caso, o formato da terra.
Esse movimento somente é possível dentro de um limite, mas não importa tanto que a esfera do planeta seja um limite, e sim que seja, ao mesmo tempo, uma das condições desse movimento. As placas tectônicas – se eu entendi bem essa história toda – deslizam umas sobre as outras sempre em direção ao centro da Terra, como tudo no planeta, aliás (menos as coisas mais leves do que o ar). Por isso, há sempre um movimento contínuo, a Terra nunca fica deitada eternamente em berço esplêndido, porque ela é, ao mesmo tempo, o berço e aquilo que ocupa o berço – quer dizer, ela se move sobre ela mesma, e claro que temos que dividi-la em partes para dizer que há movimento. Mas é um movimento sobre si, e, desconsiderando as partes, pode-se dizer que a Terra move-se ao mesmo tempo em que não se move. Ela se move, modifica-se sempre dentro de um limite, que é ela própria.
Eu não sei bem o que me fascina no movimento, ou neste tipo de movimento da Terra, sobre si. Não a translação em torno do sol, ou o movimento conjunto com a lua, mas sim a Terra que desloca-se sobre a Terra. Algo permanece igual e este mesmo algo, ao mesmo tempo, muda – pois a Terra continua sendo a Terra, mas há movimento. Há uma semelhança e uma diferença, como uma brincadeira de roda em torno de um núcleo em chamas, que funde tudo que o alcança, e relança de volta à Terra, a si, ao restante do conjunto. Nem vou levar em conta a grande poça de água que há sobre a maior parte das placas tectônicas, nem da vida que habita esse mar, e nem da vida que se desenvolve na pequena porção seca das placas.
É desse tipo de movimento que falo quando digo que gosto: não um ir até lá, mas mover-se sobre, não uma caminhada infinita, mas mas um ir e vir que, na volta, encontra tudo diferente, ainda que o lugar seja o mesmo.